O presidente Lula expressou “profunda gratidão” pela contribuição do continente africano na construção do Brasil e afirmou que o país vai retribuir com formação tecnológica nas áreas da indústria e agricultura.
A declaração, feita em evento em Cabo Verde, destoa dos quatro anos de declarações racistas e de distanciamento entre Brasil e os países africanos durante o governo de Jair Bolsonaro.
O presidente Lula disse que quer “recuperar a relação com continente africano porque nós brasileiros somos formados pelo povo africano, a nossa cultura, nossa cor, nosso tamanho é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus”.
“Nós temos uma profunda gratidão ao continente” pela contribuição negra à construção do Brasil. O país foi construído pelos sacrifícios dos escravos trazidos da África.
Hoje em dia, “o Brasil tem potencial de ajudar o continente africano em muitas atividades”, como na área de tecnologia, com “formação de gente para que tenha especialização para as várias áreas que o continente africano precisa, [a exemplo de] industrialização e agricultura”.
“Queremos agora, com minha volta à Presidência, recuperar a boa e produtiva relação que o Brasil tinha com o continente africano”, acrescentou Lula.
O presidente brasileiro ainda disse que quer visitar mais países africanos, “abrir embaixadas onde o Brasil ainda não tem” e fazer mais reuniões para discutir “no que o Brasil pode ajudar mais no continente africano”.
Lula esteve em Cabo Verde na quarta-feira (19) e se encontrou com o presidente José Maria Neves.
O presidente Lula ainda comentou que as relações com países lusófonos na África, como é o caso de Cabo Verde, também será uma prioridade.
A construção de relações amistosas e produtivas com países africanos, reconhecendo uma ligação e uma dívida histórica, expressa por Lula como uma “retribuição”, é diametralmente oposta ao comportamento de Jair Bolsonaro quando este ocupava a Presidência da República.
Jair Bolsonaro já disse, em pelo menos duas oportunidades, que homens negros seriam pesados em arrobas, que é uma medida usada para gado, tendo sido acusado de racismo pela manifestação.
Ao longo de quatro anos, ele não fez nenhuma visita a qualquer país africano.
Em uma transmissão ao vivo, Bolsonaro chamou o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, de “raposa”, em evidente gesto de desdém ao país que é membro do BRICS.
Quando era candidato à Presidência, Bolsonaro disse que os portugueses, quando escravizaram os africanos, “nem pisavam na África”. “Foram os próprios negros que entregavam os escravos”, disse. Essa afirmação é mentirosa e vai contra toda a historiografia que foi construída sobre a escravidão.