O presidente Xi Jiping convocou o povo chinês e os órgãos de governo e do partido a “vencer a batalha” contra a disseminação do novo coronavírus, em reunião no sábado (25) do comitê permanente do Bureau Político, que discutiu o fortalecimento da ação centralizada e unificada contra o surto de pneumonia, que teve início há cerca de um mês em Wuhan, na região central do país, cidade que é do tamanho de Londres, com 11 milhões de habitantes.
“Dada a grave situação de uma epidemia acelerada, é necessário fortalecer a liderança centralizada e unificada do Comitê Central do Partido”, afirmou Xi, segundo a agência de notícias Xinhua.
Como advertiu Xi, a situação é grave e preocupante, “mas não insustentável”. “Enquanto mantivermos a determinação, trabalharmos coletivamente, [contarmos] com prevenção e tratamento científicos e políticas precisas, definitivamente seremos capazes de vencer a batalha”, assinalou o presidente chinês.
No entanto, o país está enfrentando uma “situação grave”, pois o novo coronavírus está “acelerando sua disseminação”, alertou.
Já são 1975 casos detectados na China continental e quase 40 no exterior. Até este sábado, eram 56 as pessoas que morreram na China em consequência da ‘pneumonia de Wuhan’ – o que dobra o número de vítimas fatais até a meia noite de quinta-feira, de 25 (para 830 casos, sendo 177 graves). Do total de casos, mais da metade são em Wuhan.
A taxa de letalidade mantém-se em torno de 3% – ainda três vezes menor que a verificada durante a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS) de 2003 (9,6%). Dos óbitos, até aqui só dois foram fora da província de Hubei, da qual Wuhan é capital. Já há casos de contágio em todas as províncias da China e inclusive na capital, Pequim, Xangai, Hong Kong e Macau.
Reunião de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu na quinta-feira que “ainda é cedo” para decretar uma “emergência de saúde mundial”, embora não haja descartado vir a fazê-lo, como ocorreu antes em relação ao ebola, Zika e H1N1.
A OMS elogiou as medidas tomadas pela China para conter a doença, com seu diretor, Tedros Adhanom Ghebreysus, chamando-as de “inestimáveis”.
57 MILHÕES EM QUARENTENA
De duas cidades inicialmente – Wuhan e Ezhou – a quarentena determinada por Pequim já se estendeu para 15, com 57 milhões de pessoas com circulação restrita e aeroportos, estações ferroviárias e estradas fechadas. O que é do tamanho da população somada da Espanha e Portugal.
Entre as novas providências, está o envio de uma força-tarefa do Comitê Central do Partido Comunista Chinês à província de Hubei, epicentro do surto. O Bureau Político decidiu que os comitês do partido e o governo em todos os níveis tomem a prevenção e controle do surto do coronavírus como a principal prioridade de trabalho, registrou a agência de notícias Xinhua.
“A vida é de suma importância. Quando uma epidemia eclode, um comando é emitido. É nossa responsabilidade impedi-la e controlá-la”, reiterou Xi. A reunião determinou, ainda, que todos os pacientes sejam colocados em quarentena centralizada para tratamento.
Também foi decidido erguer em tempo recorde um segundo hospital em Wuhan com mais 1300 leitos, enquanto outro, de 1000 leitos, cuja construção começou na semana passada, entrará em funcionamento em dias. 145 médicos e paramédicos militares já chegaram a Wuhan para reforçar o atendimento aos enfermos, assim como 1200 agentes de saúde civis, de acordo com a Xinhua.
Comemorações do Ano Novo Lunar – o mais importante feriado chinês, com duração de uma semana e em que 300 milhões de pessoas viajam – foram contidas ou canceladas, para evitar a disseminação da nova pneumonia.
O governo determinou o fechamento da Cidade Proibida, principal atração turística de Pequim, e de partes da Grande Muralha, e proibiu a venda de pacotes turísticos em grupo, para limitar as viagens ao exterior de chineses.
Em Hong Kong, o início das aulas foi adiado para o dia 17 de fevereiro, e os parques temáticos foram fechados. São cinco casos ali e mais dois em Macau.
PATÓGENO
Identificado pela primeira vez no final de dezembro de 2019, a doença pulmonar foi recentemente confirmada pela China e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um novo tipo de coronavírus que vem sendo chamado de 2019-nCoV ou novo coronavírus. Na semana passada, Pequim apresentou à OMS a seqüência genética do vírus. Também divulgou as primeiras imagens do patógeno.
Os casos de contágio constatados em outros países se referem a pessoas que provieram de Wuhan. Acredita-se que, inicialmente, houve transmissão animal-humano do vírus, que depois evoluiu para humano-humano. Há suspeita de que o problema se originou do consumo de animais silvestres – morcegos e cobras – a partir de um mercado atacadista de peixe de Wuhan.
Os sintomas mais comuns incluem congestão nasal, enxaqueca, tosse e febre, que nos casos mais graves chega à pneumonia. Cientistas apontam que o período de incubação é de 14 dias. As vítimas fatais eram idosas e com quadro pré-existente de debilitamento da saúde.
O representante da OMS na China, Gauden Galea, disse “admirar a coragem do povo e governo de Wuhan e nós temos a esperança de que este sacrifício temporário será uma forte contribuição para a saúde pública e sem dúvida para a saúde global”.
Embora sem nenhum caso fatal até aqui, o novo coronavírus já foi detectado fora da China continental. Tailândia (cinco casos), Cingapura (três), Malásia (três), Coreia do Sul (dois), Japão (três), Vietnã (dois), Taiwan (três), Nepal (um) e Austrália (quatro). Nos Estados Unidos, são dois casos, um em Chicago e outro em Seattle. No Canadá, um. O ministério da Saúde da França confirmou os três primeiros casos na Europa, dois deles da mesma família. Os casos de contágio constatados fora da China se referem a pessoas que provieram de -ou estiveram em – Wuhan recentemente.
Até mesmo o presidente Trump, costumeiramente tão crítico de qualquer coisa que venha da China, se sentiu na obrigação de agradecer ao empenho do governo chinês no combate ao surto.
“A China vem trabalhando muito duramente para conter o coronavírus … vai dar tudo certo”, tuitou o inquilino da Casa Branca. “Os Estados Unidos grandemente apreciam seus esforços e transparência. Em particular, em nome do povo americano, eu quero agradecer ao presidente Xi”.
MORTALIDADE
Como registrou a CNN, estudo de cientistas chineses publicado na conceituada publicação médica The Lancet, em setembro do ano passado, mostrou que todo ano há cerca de 88.100 óbitos relacionados à gripe na China, com taxa de mortalidade entre 1,6-2,6%, a maioria pessoas com mais de 60 anos. Assim, o novo coronavírus, com taxa de mortalidade (óbitos/total de contágios) da ordem de 3%, é mais letal.
Mas é menos letal que a epidemia precedente na China, a SARS, de 2003, com taxa de 9,6%; ou que a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), que matou 34% dos infectados – ambas causadas por coronavírus.
Os números dos EUA, assinalados pela CNN, também ajudam na avaliação do problema. A estimativa das autoridades médicas norte-americanas para a estação de gripe deste ano no país – de 1º de outubro passado até 18 de Janeiro: 15-21 milhões de casos de contágio, matando entre 8.200-20.000. Números que são baseados nos relatórios semanais de vigilância da gripe dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
38 TÊM ALTA
Em um desenvolvimento positivo no sábado, a mídia chinesa disse que 38 pacientes derrotaram o vírus mortal. No entanto, não há nenhum medicamento ou vacina específica conhecida até o momento, embora países ao redor do mundo estejam trabalhando às pressas com esse objetivo.
A primeira cura foi revelada pela Comissão Municipal de Saúde de Xangai, que confirmou que uma paciente infectada com o coronavírus mortal, pela primeira vez desde o surto, foi curada e recebeu alta do hospital, depois de seis dias de tratamento.
É uma mulher de 56 anos, identificada apenas como Chen, que demonstrou uma melhora significativa em seus sintomas respiratórios. Dois exames de sangue independentes para o coronavírus tiveram resultado negativo, assim como as tomografias pulmonares, de acordo com o jornal estatal Beijing Daily. Chen seria residente de Wuhan. Ela desenvolveu febre e fadiga no dia 10 de janeiro e foi hospitalizada em Xangai no dia 12 de janeiro.
A.P.