Um dos principais presos políticos negros dos Estados Unidos, Mike Africa foi libertado na última terça-feira (23), após 40 anos, da prisão SCI Phoenix, na Pensilvânia. Ele é o segundo integrante do grupo de militantes negros Move a deixar a penitenciária após ter sido ilegalmente jogado atrás das grades por quatro décadas por um crime que não cometeu.
Unindo a ideologia do partido dos Panteras Negras – que combatia a segregação racial – com o cuidado da natureza e do meio-ambiente, o Move organizava comunidades onde os integrantes viviam em harmonia, colocando em xeque a dominação e a superexploração.
No dia 8 de agosto de 1978, o então prefeito da Filadélfia e ex-comissário de polícia da cidade, Frank Rizzo, conhecido por seu racismo e truculência, deu a ordem para que a comunidade Move 9 fosse cercada e os moradores despejados, sob a alegação de que estivessem armazenando armas – jamais encontradas.
Centenas de policiais participaram da ação. No tumulto, o policial James Ramp foi morto com um único tiro. Apesar de não portarem armas de fogo, todos os nove membros adultos – cinco homens e quatro mulheres – da casa Move 9, no bairro de Powelton Village, na Filadélfia, foram responsabilizados e condenados com penas de 30 a 100 anos
Sob liberdade condicional, Mike África se reuniu com sua esposa Debbie África – grávida de oito meses na época -, libertada em junho, e com o filho, Mike Africa Jr, que jamais havia estado com ambos os pais juntos. Júnior nasceu numa cela onde sua mãe o manteve escondido durante três dias debaixo das cobertas, até que foi forçada a entregá-lo aos guardas.
“Estou em êxtase vindo de onde estava há apenas algumas horas. Não estava convencido que isso aconteceria, até que saí pelos portões da prisão”, declarou Mike. Ele e a esposa foram mantidos em prisões separadas ao longo de todo o tempo. “Senti falta dela e a amei. Ela é minha garota desde que éramos crianças. Isso nunca mudou, de jeito nenhum”, declarou emocionado.
A libertação de Mike África reduz o número de membros do Movimento 9 ainda encarcerados para cinco. Além dele e da esposa – livres -, dois outros morreram atrás das grades devido a complicações de saúde relacionadas à prisão: Merle Austin África, em março de 1998, e Phil África, em janeiro de 2015 .
Bastante atuante, o Move também foi alvo em 1985 de um outro bárbaro cerco, quando um helicóptero da polícia lançou uma bomba no complexo Move, uma casa geminada no meio do bloco 6200 da Avenida Osage. O incêndio matou onze membros do Move, incluindo cinco crianças, e destruiu 65 casas no bairro.