A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro cumpriram, na manhã desta quinta-feira (03), cinco mandatos de prisão contra milicianos ligados ao sargento reformado da PM Ronnie Lessa, apontado como o assassino da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Os outros alvos da operação “Submersus” são a própria mulher de Lessa, Elaine de Figueiredo Lessa, e o irmão dela, Bruno Figueiredo, além de dois cúmplices do miliciano. Até 7h35, quatro pessoas já haviam sido presas: Elaine, Bruno, José Márcio Mantovano, o Márcio Gordo, e Josinaldo Lucas Freitas, o Djaca. Todos foram detidos de forma preventiva.
O miliciano Ronnie Lessa está preso na Penitenciária Federal de Porto Velho. Ele foi preso em sua mansão no condomínio “Vivendas da Barra”, onde era vizinho de Jair Bolsonaro.
Josinaldo Lucas Freitas, o Djaca, é acusado de ter jogado no mar as armas que foram usadas no assassinato de Marielle e Anderson.
Ele é também conhecido por postar em suas redes sociais fotos com políticos, como o próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL), seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro e o vereador Marcello Siciliano. O professor de artes marciais vive e dá aulas na região de Rio das Pedras e Muzema, zona oeste do Rio, onde ficam favelas dominadas por milicianos.
Em suas redes sociais ele já postou panfletos que fazem propaganda de um serviço de transporte de passageiros apelidado de “Uber da milícia”.
BUSCA E APREENSÃO
Por determinação do juízo da 19ª Vara Criminal da Capital, também foram expedidos 20 mandados de busca e apreensão, um deles contra um suspeito de integrar um grupo de matadores de aluguel que teria como principais clientes contraventores cariocas.
A coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Simone Sibílio, comandou a busca e apreensão no alvo principal: a casa de Elaine. O advogado de Bruno Figueiredo, Fernando Santana, que também defende Lessa e a mulher do sargento reformado, disse que a arma encontrada na casa de Elaine é um fuzil Airsoft.
“Tanto Ronnie Lessa quanto Bruno comercializam armas de Airsoft. Esta arma já estava na casa de Ronnie da outra vez. Por que não apreenderam antes? Como é que a minha cliente pode ser presa? Ela é apenas esposa de um comerciante. Quiseram chamar atenção para o interrogatório do Ronnie Lessa, que acontece amanhã”, disse Santana.
Segundo o advogado, Elaine se mudou logo depois da prisão do marido para um imóvel em um condomínio no número 3200 da Avenida Sernambetiba, na Barra, que é de propriedade do casal. Antes, ela morava no condomínio no número 3100 da mesma via, onde o presidente Jair Bolsonaro tem uma casa. Os dois condomínios se chamam Vivendas da Barra. A atual residência de Elaine ocupa apenas um andar, mas é de alto padrão. As buscas na casa da mulher de Lessa começaram às 5h40m e terminaram às 7h24. Os policiais revistaram o local em busca de documentos e armas, pois Elaine tem registro de colecionadora de armas e, segundo investigadores, também atira.
Elaine Lessa por trás de sumiço de armas
A DH e o Gaeco acreditam que Elaine foi quem comandou a ação para dar sumiço às armas do marido para apagar qualquer tipo de prova que pudesse incriminá-lo. Acredita-se que uma submetralhadora HK-MP5, que teria sido usada na execução da parlamentar, tenha sido jogada no mar da Barra da Tijuca , próximo às Ilhas Tijucas um dia depois das prisões de Ronnie e do ex-PM Élcio de Queiroz (outro apontado como autor do crime), na madrugada do dia 13 de março.
A mulher de Lessa teria escolhido pessoas da confiança de Lessa e dela própria para a empreitada criminosa: Bruno Figueiredo, José Márcio Mantovano, o Márcio Gordo e Josinaldo Lucas Freitas, o Djaca
Segundo o MPRJ, na ocasião, um carro com quatro ocupantes tentou entrar no imóvel alugado por Ronnie na Rua Professor Henrique da Costa, no Pechincha, para retirar pertences do local. Os ocupantes do veículo foram impedidos de entrar no prédio pela administração do condomínio.
Já de tarde, Bruno levou Márcio Gordo até o apartamento de Ronnie e, de lá, retirou uma grande caixa com pertences, como mostram as câmeras de segurança do condomínio, retornando em seguida ao veículo dirigido por Bruno.
Na manhã seguinte, Márcio Gordo foi ao estacionamento de um supermercado da Barra com seu carro, onde se encontrou com Djaca e retiraram de dentro de outro veículo caixas, bolsas, malas e seguiram para destinos diferentes.
Enquanto, Márcio Gordo seguia para um local desconhecido, Djaca se dirigiu para a colônia de pescadores do Quebra-Mar da Barra, onde alugou os serviços de um barqueiro e atirou todo o conteúdo retirado do apartamento de Ronnie ao mar, sendo possível identificar armas de grosso calibre e peças para a montagem de armas.
Em depoimento à DHC, um pescador revelou que foi contratado por um homem, identificado depois como Djaca, recebendo R$ 300 para levá-lo ao local onde “fuzis e pequenas caixas”, que estavam em uma mala e em uma caixa, fossem jogados próximo às Ilhas Tijucas.