“Confiscar os equipamentos de jornalistas, com gravações e telefones, prendê-los e deportá-los é coisa de tiranos”, denunciou a jornalista Eva Golinger (conhecida pelo apoio ao governo de Hugo Chávez), referindo-se à prisão, no dia 26, do jornalista Jorge Ramos e integrantes da equipe que o acompanhava durante mais de duas horas no Palácio Miraflores, em Caracas, depois de interrompida, de forma intempestiva, entrevista que fazia com o presidente Maduro.
A jornalista enfatizou que “ao aceitar a entrevista com Jorge Ramos, Maduro e sua equipe de governo sabiam muito bem seu estilo jornalístico. E se não estavam gostando das perguntas, que simplesmente acabassem a entrevista”.
Golinger comentou que em 2014 aceitou dar entrevista a Ramos “sabendo seu estilo e defendi minha postura com argumentos. Inclusive estava denunciando as ações antidemocráticas da oposição na Venezuela e a manipulação midiática”.
“O certo é argumentar com base em fatos, não mediante o uso da força”, acrescentou.
Governo do México protesta contra detenção
O governo do México apresentou seu protesto e preocupação ao governo da Venezuela, pela detenção de Jorge Ramos e do câmera Martín Guzmán, ambos de nacionalidade mexicana.
Assim que soube das prisões, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, transmitiu ao governo da Venezuela sua indignação com a arbitrariedade.
Em nota oficial, a Secretaria de Relações Exteriores (SRE) do governo mexicano solicitou a Caracas que sejam restituídos, tanto o equipamento como materiais a Ramos e seus colaboradores; pediu o respeito à liberdade de expressão e destacou a “obrigação, enquanto governo mexicano, na defesa dos cidadãos do país no exterior”.
A SRE acrescenta que mantém acompanhamento do que acontece em Caracas. Confirmou que o grupo foi liberado após detenção de algumas horas.
Arbitrariedade e hostilidade à imprensa
Maduro abandonou a reunião com o jornalista depois de lhe ter sido mostrado um vídeo no qual se vê um grupo de jovens comendo sobras em um caminhão de lixo. Há quem diga que o vídeo foi uma montagem. É possível, mas, seja como for, o que se viu foram governos e entidades de jornalistas condenando a hostilidade de Maduro e integrantes de seu governo com a prisão de jornalistas e confisco de material.
Jorge Ramos é um dos mais destacados âncoras da Univisión, TV norte-americana com programação em espanhol.
Segundo o jornalista, em sua primeira transmissão, assim que se viu em liberdade, Maduro se mostrou muito aborrecido depois de 17 minutos de gravação. “Não gostou das coisas que estávamos perguntando sobre a falta de democracia, tortura e presos políticos na Venezuela”.
E, prossegue Ramos, “quando viu o lixo que as pessoas comiam, Maduro levantou-se e se foi”.
“Estivemos retidos mais de duas horas (das 19:00 às 21:30) dentro do Palácio Miraflores. Imediatamente depois da interrupção da entrevista, um de seus ministros, Jorge Rodríguez, veio dizer-nos que a entrevista não estava autorizada. Logo a seguir, confiscaram todo o nosso equipamento. Tiraram de nós todos os celulares e nos detiveram, separados uns dos outros durante duas horas e meia. No meu caso e no da produtora María Guzmán, nos colocaram em um quarto, apagaram as luzes e nos tiraram os pertences pessoais”, acrescentou.
A equipe do jornalista – composta por dois mexicanos, um venezuelano e quatro norte-americanos – foi, depois da soltura, imediatamente deportada.