
Sindicato aponta privatização como causa da morte de Lourivaldo e denuncia falhas de segurança em sistema concessionado
A presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa, atribui à privatização a responsabilidade pela morte de Lourivaldo Ferreira Nepomuceno, de 35 anos, na Estação Campo Limpo, no último dia 6. Segundo ela, o modelo de concessão da Linha 5-Lilás, operada pela ViaMobilidade, é falho e compromete a segurança dos passageiros.
“Este contrato de concessão é um absurdo porque a única responsabilidade da ViaMobilidade é lucrar. “Todo o resto — manutenção, segurança, fiscalização — fica sob responsabilidade da empresa pública Metrô e do Governo do Estado”, disse Camila em entrevista à Hora do Povo.
Camila criticou duramente tanto a concessionária quanto a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), classificando como inaceitável que o sistema continue funcionando normalmente mesmo após uma sequência de acidentes semelhantes. “Não pode ser que eles [ViaMobilidade] achem que a população é tão idiota a ponto de acreditar que o acidente que aconteceu numa empresa, é responsabilidade de outra empresa”, declarou, ao lembrar que o Metrô de SP também tem culpa por aceitar um contrato nesses moldes.
Segundo a sindicalista, “os problemas de segurança da Linha 5 só aumentaram depois da privatização” e “essa concessão deveria ser suspensa imediatamente”. Ela ainda destacou a ausência de posicionamento oficial do Governo do Estado após a tragédia: “Nem uma nota de pesar foi emitida.”
A série de acidentes na Linha 5-Lilás, operada pela ViaMobilidade há 7 anos, evidencia, segundo Camila e especialistas, os riscos da gestão privada sem a devida responsabilização técnica. Nos últimos quatro anos, ao menos 15 ocorrências semelhantes foram registradas, envolvendo passageiros presos entre o trem e a porta de plataforma, conforme denúncia do Fantástico da TV Globo, veiculada no último domingo (11).
O pintor Jutaí Gonzales quase perdeu a vida em 2023, também na Linha 5, que liga o Capão Redondo à Chácara Klabin. Ao tentar embarcar na Estação Largo Treze, relatou Jutaí à reportagem da Globo, ele ficou preso entre as portas, que se fecharam simultaneamente. Com a movimentação do trem, Jutaí foi arrastado pela composição, num movimento semelhante ao que ocorreu com o outro passageiro.
Ele ficou internado por 12 dias e ainda se recupera das cirurgias realizadas após o acidente. Segundo o pintor, foram feitas diversas tentativas de contato com a ViaMobilidade, mas nenhuma resposta foi recebida e o caso foi levado à Justiça. Em nota, a concessionária informou que ofereceu assistência no dia do ocorrido e que, no momento, aguarda a decisão judicial.
Sem sensores de presença na área entre o trem e as portas de plataforma — tecnologia ausente nas estações administradas pela ViaMobilidade, mas presente nas linhas operadas diretamente pelo Metrô —, o sistema falhou mais uma vez. A concessionária havia sugerido, ainda em 2024, a instalação de barras de borracha com sensores, mas problemas administrativos atrasaram a implementação.
O engenheiro Moacyr Duarte, especialista em análise de risco e gerenciamento de emergências, assegura que o acidente que vitimou Lourival dificilmente ocorreria nos principais metrôs do mundo. Ele justificou que o motivo é o fato de o espaço entre a porta do trem e a porta de segurança ser tão estreito que não comporta uma pessoa, já que o vão é quase inexistente.
Alex Santana, vice-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroferroviários), confirmou que os trens do Metrô contam com mais dispositivos de segurança. “Na L5 (ViaMobilidade) não há sensores de presença, e a borracha que tem não é suficiente”, observou. “A visibilidade é limitada e há falta de funcionários nas plataformas”, disse ao Fantástico.
Nessa terça-feira (13), a Comissão de Transporte da Alesp fez uma vistoria na Estação Campo Limpo. Deputados estaduais cobraram providências urgentes. “Estamos alarmados porque essa história começou em 2021, e só agora, após uma morte, há promessas de ação”, disse o deputado Antônio Donato (PT). A previsão para instalação de novas barreiras de segurança é de pelo menos 90 dias, segundo o presidente do Metrô, Julio Castiglioni.
Mas para Camila Lisboa, o problema é estrutural e político: “Embora o Metrô também tenha sua responsabilidade, quem compactua com esse projeto de privatização está colocando vidas em risco. Isso não é só uma falha técnica. É um modelo que prioriza o lucro em detrimento da segurança do povo.”
“A ViaMobilidade tinha que ter tomado uma atitude, assim com o Metrô de SP também tinha que ter tomado uma atitude, assim como o Governo do Estado tinha que ter tomado uma atitude (na direção) de não fazer mais nenhum aditivo contratual, de cancelar essa privatização porque os problemas de segurança da Linha 5 só aumentaram depois que teve a privatização”, defende a metroviária.
“Embora o Metrô de SP também tenha sua responsabilidade, porque concordar com um contrato em que o Metrô continua responsável pela manutenção, aí também é um absurdo. Quando eu me refiro ao Metrô de SP, eu tô falando da direção da empresa, que na nossa opinião, infelizmente compactua com esse projeto de privatização”, ressalta.
Privatizada em 2018, a Linha 5-Lilás passou a ser operada pela ViaMobilidade sob a promessa de melhorias. No entanto, o que se observa é o acúmulo de falhas relacionadas à segurança e à manutenção.
JOSI SOUSA