O Ministério Público Federal em Brasília pediu, nesta sexta-feira (11), a condenação do ex-assessor da Presidência da República Rodrigo da Rocha Loures, o “homem da mala”, no processo em que é acusado de receber uma mala com R$ 500 mil de executivos da JBS para entregá-la ao presidente Michel Temer (MDB). Em abril de 2017, o auxiliar do emedebista foi filmado em uma ação controlada da Polícia Federal recebendo uma mala contendo a propina de Ricardo Saud.
Ele foi um dos alvos da Operação Patmos, deflagrada em maio daquele ano. Acabou denunciado, ao lado do de Michel Temer, por ser flagrado com a mala de propina. No entanto, para o ex-presidente, a abertura de ação foi barrada depois de uma ação ostensiva de suborno de deputados e pressão sobre o Parlamento. A votação na Câmara Federal impediu que Temer fosse punido. Como não tinha foro privilegiado, Rodrigo Rocha Loures passou a responder pelas acusações em processo na 10ª Vara Federal de Brasília.
A Operação Patmos foi uma operação do âmbito da Lava Jato conduzida pela Polícia Federal (PF) e a Procuradoria Geral da República (PGR), com a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) em 18 de maio de 2017. Seus principais alvos foram o presidente da República Michel Temer (PMDB), e o senador da República, Aécio Neves (PSDB), além de Rocha Loures. Foram apreendidos dois milhões de reais na operação.
Em 28 páginas, o procurador Carlos Henrique Martins Lima pede que Loures seja sentenciado pelo crime de corrupção passiva. De acordo com o procurador, “restou demonstrando que o réu Rodrigo Santos da Rocha Loures agiu com vontade livre e consciente e recebeu vantagem indevida para Michel Elias Temer, em virtude da condição deste de chefe do Poder Executivo, materializado no valor de R$ 500.000,00, além da promessa de prestações semanais”.
“A explicação do réu de que fora à pizzaria Camelo determinado a colocar termo às tratativas com Ricardo Saud e Joesley Batista é desconstruída pelo fato de que, após o dia 28/04/2017, prosseguiu trocando mensagens com o empresário, confirmando o teor das tratativas de que o pagamento indevido continuaria ocorrendo de modo permanente, reiterado e habitual e, ainda, que Rodrigo Loures falava em nome de Michel Temer”, sustenta.
Rocha Loures foi denunciado por agir em nome de Temer e na condição de “homem de confiança” do presidente para interceder junto à diretoria do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – órgão do governo federal – em benefício da JBS. Colaboradores da JBS dizem que foi prometida uma “aposentadoria” de R$ 500 mil semanais durante 20 anos ao peemedebista e ao presidente Temer.
Depoimento
Em depoimentos à Justiça os advogados de Rocha Loures tentaram emplacar a versão de que o ex-deputado recebeu a mala “sem saber qual era seu conteúdo”. Ele disse que nunca abriu a mala. E que não queria recebê-la. O funcionário de Temer inventou a história que, no encontro, na pizzaria, tinha o objetivo de encerrar as tratativas ilícitas, mas acabou saindo de lá com uma mala de dinheiro.
“Quando estou saindo, ele diz assim ‘Rodrigo, Rodrigo’. Eu vou até ele, aí ele pega, com esta mala na mão, diz assim ‘olha a sua mala, pega que você vai perder o avião, corre que você vai perder o avião’.”
Rocha Loures afirmou ter entrado em pânico.
“Naquele momento, Excelência, eu entrei em pânico, no meio da rua, e saí correndo. As imagens, eu não sabia o que fazer. E eu fugi. Eu corri. Eu não consegui eventualmente agredi-lo se fosse o caso. E me desfazer dessa situação ali, naquele momento, até pra que ficasse gravado. E o meu inferno começou. Eu pego essa mala, deixo na casa dos meus pais, aonde eu tenho lá 1 quarto de hóspedes, coloco dentro do armário e eu não sei o que fazer”, disse.
Diante da narrativa de Rocha Loures, o juiz faz questionamentos incisivos para saber por que ele continuou mantendo encontros.
“Eu quero saber o que justificou a um deputado federal com uma ampla história profissional e pessoal a se seduzir por esses convites, e chegar a se reunir com pessoas que o senhor afirma que não tinha empatia pessoal, 4 dias após 1 primeiro encontro, que já lhe sugeriu algo que não encaixava as peças do quebra-cabeça“, questionou.
O ex-deputado respondeu que Michel Temer havia pedido para ouvir as demandas da JBS.
“O presidente [Michel Temer] havia pedido para eu ouvir as demandas do grupo [JBS]. O presidente não pediu pra eu resolver, nem fazer ilícitos com quem quer que seja, o presidente pediu pra ouvir as demandas do grupo. Então, excelência, até prova em contrário, ou até mudar esse acordo com o presidente, eu sou uma pessoa solícita, mas eu não sou venal, não sou corrupto“, disse.
De acordo com executivos da J&F, o dinheiro que estava na mala era parte de um suborno que valeria por 20 anos. Era uma espécie de mesada para Rocha Loures e para Temer em troca de atuação junto ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
O objetivo era resolver uma disputa sobre o preço do gás fornecido pela Petrobras a uma termelétrica do grupo J&F.
Sobre o encontro de Joesley com Temer no Palácio do Jaburu, Rocha Loures disse que o horário foi a pedido do presidente. Segundo ele, Temer tinha um compromisso anterior e por isso recebeu o empresário às 22h.
“Não participei da reunião, só vai à casa do presidente quem é convidado por ele. Aliás, só vai à casa de alguém quem é convidado pelo dono da casa, não por quem está sendo convidado. E é assim. Esse é o protocolo”, afirmou.
Foi nessa ocasião que Joesley gravou a conversa dele com o presidente. O conteúdo do diálogo que levou a PGR (Procuradoria Geral da República) denunciar o presidente.
Assista trechos do depoimento de Rocha Loures