
Aprendiz de Torquemada acha que pode exigir explicações da entidade sobre as razões pelas quais não recomenda a droga, que é ineficaz, para os pacientes com Covid-19
O procurador-chefe da República em Goiás, Ailton Benedito de Souza, extrapolou completamente suas atribuições e decidiu, nesta quarta-feira (9), obrigar a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) a explicar por que não recomenda o uso da cloroquina e outras drogas sem eficácia comprovada no tratamento precoce da Covid-19.
A atitude do procurador é descabida, arrogante e faz lembrar as ridículas perseguições sofridas pelos cientistas ou qualquer ser pensante, durante as trevas da Idade Média. O procurador goiano deve estar, quem sabe, preparando alguma fogueira para os integrantes da SBI. Ele deu prazo de cinco dias para a entidade apresentar os documentos solicitados.
Por pura coincidência, o aprendiz de Torquemada foi também indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para compor a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
Ele quer que a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) apresente documentos que embasem a recomendação da entidade médica de que pacientes com Covid-19 não devem ser tratados precocemente com estes medicamentos.
Na publicação da SBI, divulgada na quarta-feira, lê-se que o órgão “não recomenda tratamento farmacológico precoce para COVID-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro)”.
A justificativa apresentada é uma só: “não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a COVD-19″.
A entidade informa que sua recomendação tem base na ciência e está em sintonia com diversas entidades, entre elas a Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA) e da Europa (ESCMID); o Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH); os Centros Norte-Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC); Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância do Ministério da Saúde do Brasil (Anvisa).
Ailton Benedito de Souza é auto-declarado conservador e defensor ferrenho nas redes sociais do uso da cloroquina e outros medicamentos no tratamento da doença. Ailton pede que o órgão justifique as recomendações publicadas, informe sobre conhecimento de orientações do Ministério da Saúde (MS) relacionadas ao uso dos fármacos e declare que não há conflito de interesse na publicação.
Ao longo da pandemia prosperaram defensores da cloroquina e outras drogas ineficazes para o tratamento da Covid-19. Conforme o tempo foi passando, e foram sendo publicados os trabalhos científicos que comprovaram a ineficácia dessas drogas, só permaneceram defendendo o seu uso os charlatões, os negacionistas e terraplanistas, aí incluídos o presidente da República e alguns de seus seguidores.
O procurador de Goiás, certamente, está incluído num desses agrupamentos, e, por conta disso, revela também desconhecer os limites que são impostos pelas leis à sua atuação.
Repercussão
Uai será o Benedito?