
A produção científica dos países membros do BRICS aumentou em 10 vezes entre 2000 e 2024, superando a do G7 e tendo protagonismo internacional, aponta levantamento feito pelo pesquisador brasileiro Odir Dellagostin.
Em 2000, o número de publicações acadêmicas dos países membros do BRICS foi de cerca de 180 mil publicações. Já em 2024, as publicações saltaram para 1,8 milhão.
Foi em 2022 que as publicações feitas pelo BRICS superaram as do G7, grupo do qual participam Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

Em 2024, a produção acadêmica do BRICS representou 41% da mundial, enquanto o G7 foi responsável por 34,7%. O Produto Interno Bruto (PIB) do BRICS superou o do G7 no ano de 2021.
Dellagostin, professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), fez uma apresentação no Fórum das Academias de Ciências do BRICS e defendeu financiamentos e pesquisas conjuntas.
O levantamento foi feito a partir da Scopus, considerada a maior base de dados de resumos e citações de literatura revisada por pares do mundo.
Odir Dellagostin informou que, “de 2021 a 2024, o mundo, em média, cresceu 8,3% na produção científica. Já os países do BRICS, por exemplo, os Emirados Árabes, tiveram crescimento de mais de 60%. A Índia cresceu 41%, a China cresceu 20%, a Malásia [que é considerado país parceiro do BRICS] cresceu 17%, e assim por diante”.
As falas do cientista foram publicadas pela Agência Brasil.
O BRICS hoje é composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Em 2024, a China, que lidera o ranking dentro do BRICS, publicou cerca de 1,25 milhão de artigos acadêmicos; a Índia, por sua vez, aproximadamente 400 mil. Já o Brasil publicou cerca de 100 mil.
O número de publicações feitas pela China superou, em 2020, o dos Estados Unidos. Os dados mostram que os Estados Unidos estagnaram, desde 2018, em menos de 800 mil publicações.
Segundo o professor universitário, “a gente está vendo uma mudança de orientação, o fiel da balança está mudando”.
“Os Estados Unidos eram a referência, a Europa como um todo, também, mas está deixando de ser. Em 2024, a China produziu 60% a mais do que os Estados Unidos. Não é pouco. A Índia já ultrapassou os países europeus e é o terceiro maior produtor de artigos científicos do mundo. Então, nós temos que olhar muito mais para a Ásia, né?”, provocou.
Seu estudo destaca que a cooperação entre os países do BRICS para publicações ainda é muito baixa, sendo que os Emirados Árabes apresentam a maior taxa de cooperação com 4%. O Brasil tem 0,8% de cooperação, enquanto a China tem 0,2%, a menor taxa entre todos os países do BRICS. As principais áreas de pesquisas conjuntas são: energia limpa e soluções climáticas; saúde, vacina e sistemas alimentares; digital e Inteligência Artificial.
Odir Dellagostin sugeriu no fórum a criação de um órgão no BRICS para financiar pesquisas conjuntas, “a exemplo do European Research Council, que recebe recursos dos vários países e aloca para pesquisas em colaboração, um Brics Research Council”.
Além disso, os países do BRICS devem simplificar a emissão de visto para “mover pessoas e ideias mais facilmente” e também compartilhar o uso de instalações consideradas caras, a exemplo de “síncrotrons, biobancos e computadores de alta performance – sob regras de acesso aberto”.
O pesquisador ressaltou que as áreas predominantes nas pesquisas de cada país são coincidentes e complementares. No caso do Brasil, as áreas com mais publicações são medicina (26%), agricultura e ciências biológicas (17,3%) e engenharia (12,5%).
Na Rússia, predominam física e astronomia (21,3%), engenharia (19,8%) e medicina (16,1%). Já na Índia, são: engenharia (31,5%); ciências da computação (24,9%); e medicina (18,9%).
Engenharia (30,4%), ciências da computação (18,9%) e medicina (17,2%) são as áreas com mais publicações na China. África do Sul publica 23,4% de seus artigos na área de medicina, 22,5% de ciências sociais e 12,7% de engenharia.
BRASIL CRESCE EM RITMO LENTO
Para Odir Dellagostin, que foi empossado na Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 2019, o Brasil “vem fortalecendo sua base” de produção científica “de forma contínua, mas num ritmo muito lento”.
“O Brasil apresentou um crescimento bastante acelerado e contínuo até 2021. E esse crescimento foi, basicamente, paralelo ao crescimento da pós-graduação. Enquanto a pós-graduação estava crescendo, a produção científica também evoluía”, explicou.
No entanto, entre 2020 e 2021, quando o país sofreu com a pandemia de Covid-19, a produção acadêmica caiu. O número de artigos publicados só voltou a subir entre 2023 e 2024.
“A forma como nós enfrentamos a pandemia, fechando laboratórios, foi um fator que contribuiu muito, mas também há uma desmotivação dos pesquisadores, até pelo discurso anticiência de alguns dos nossos governantes e pela desvalorização da ciência perante parte da sociedade”, explicou.
De acordo com o especialista, “a absorção dos doutores tem sido baixa nos últimos anos. Isso também contribui para a queda na produção e impacta a motivação. Esse é um ponto muito importante que nós teremos que discutir: implementar a carreira de pesquisador. Acho que isso é fundamental para o Brasil mudar essa situação”.