“Percebemos que mesmo que tivéssemos o abastecimento de peças regularizado, agora teríamos o efeito da alta nos juros, da renda que não cresceu, de um desemprego ainda elevado”, avalia o presidente da Anfavea
A produção de autoveículos em março registrou uma queda de 7,8% na produção no mês de março. No mês, foram montadas 184,8 mil unidades, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. Foi o pior resultado dos últimos 19 anos para o mês, quando em março de 2003, as montadoras fabricaram 127,5 mil veículos.
Em relação a fevereiro houve alta de 11,4%. No segundo mês do ano, foram produzidos 165,9 mil unidades. No trimestre, a indústria também apresentou queda de -17%, foram 496 unidades em 2022 ante 598 unidades em 2021.
Os dados foram divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), nesta sexta-feira (8).
Os empregos também foram afetados pela crise nas montadoras. Na comparação com março do ano passado, cerca de 3 mil trabalhadores perderam seus empregos no setor.
Além da falta de peças, com a escassez mundial de semicondutores, que têm provocando paralisações e fechamento de fábricas, o setor enfrenta a crise econômica na era Bolsonaro com desemprego elevado, queda na renda e inflação acelerada.
“Consideramos isso na nossa previsão conservadora, que indica crescimento de 8,5% nas vendas internas e 9,4% na produção. Percebemos que mesmo que tivéssemos o abastecimento de peças regularizado, agora teríamos o efeito da alta nos juros, da renda que não cresceu, de um desemprego ainda elevado”, declarou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, em entrevista ao Valor Econômico.
VENDAS DESABAM 22,5%
Os preços dos veículos no Brasil, que historicamente, estão entre os maiores do mundo, continuam em alta, apimentados com os juros elevados no crédito, afastando os consumidores.
No mês de março, o setor registrou a maior queda nas vendas para o mês em 18 anos, de 22,5%, apesar da benesse dada pelo governo Bolsonaro às montadoras com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aplicadas na comercialização de automóveis. Redução que não foi repassada para os consumidores, conforme avisaram as montadoras na época.
“Reajustes em itens como aço, pneus e resinas afetaram o custo e repassamos parte disso aos preços. Além disso, os veículos hoje têm mais conteúdo”, disse o presidente da Anfavea ao tentar se explicar por que a redução do IPI não alterou nos preços dos veículos que continuam subindo.