Vendas recuaram 26,1% em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado, segundo Anfavea
A produção de veículos automotores no Brasil em janeiro deste ano, em relação ao mesmo mês do ano passado, despencou para 145,4 unidades, uma queda de 27,4% sobre as 200.4 mil unidades produzidas em janeiro de 2020. Foi a mais baixa para o mês desde 2003.
Os SUVs, modelos da moda, registraram um recuo de apenas 1,9% e já representam 50,6% dos automóveis produzidos.
O total dos veículos licenciados acompanhou a mesma tendência com uma queda 26,1% em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, resultado da redução de 171,1 mil de unidades emplacadas em 2020 para 126,5 mil veículos neste ano. As locadoras licenciaram 17 mil veículos.
As exportações apresentaram resultado favorável com um crescimento de 6,6% ao nível dos 27,6 mil veículos.
Os dados fazem parte da Carta da Anfavea publicada mensalmente, que reúne as estatísticas do setor.
O presidente Luiz Carlos Moraes apresentou um conjunto de fatores que seriam os responsáveis pelos baixos resultados obtidos em janeiro passado: o alto volume de emplacamentos de dezembro, o desequilíbrio na cadeia de suprimentos e a questão dos semicondutores.
Outras questões afetaram esse resultado: a transição do sistema de emplacamentos, chuvas acima da média e a variante ômicron, que afetou pessoal de fornecedores, fabricantes e varejo.
Numa comparação com um grupo oito países, tendo em vista o efeito mundial da pandemia, que também tiveram quedas nos licenciamentos em janeiro de 2022, o Brasil, com a queda de 26,1%, foi o mais afetado. Itália, Coreia do Sul e França ficaram no patamar de 18% e 19%. Japão e Argentina entre 13% e 14%. Estados Unidos -9,8% e México -3,8%.
A estratégia da indústria de concentrar a fabricação de veículos para as camadas de maior renda, cujos efeitos da crise são menores, não afetam esses extratos sociais.
O aumento real dos preços dos automóveis foi generalizado nos últimos anos, inclusive sobre os modelos básicos, aumentando as margens de lucro do setor o que também fez parte dessa estratégia. A participação crescente dos SUVs no total da produção automóveis confirma esse planejamento.
No entanto, nem mesmo essas estratégias estão conseguindo evitar que a difícil situação da economia não atinja o setor automobilístico tão forte e consolidado no país. No mercado brasileiro, em torno de 60% das vendas de veículos dependem de financiamento. Por isso, a escalada nas taxas de juros puxadas pelo aumento da taxa Selic bancada por Guedes e Bolsonaro, preocupa o setor.
O dirigente da associação assinala com preocupação: “Sabemos que o aumento dos juros tem sido uma medida tomada também em outros países. Mas o que nos preocupa no Brasil é a dose. Embora a economia dos Estados Unidos seja diferente da nossa serve como referência lembrar que naquele país, com inflação de 7% no ano passado, o aumento dos juros tem ficado em torno de 0,25% por vez enquanto aqui chegamos a 1,5%. E a paulada pode ser maior”, declarou Luiz Carlos Moraes.
A Anfavea, segundo Moraes, começa a reconsiderar suas previsões, avaliando que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vai ficar abaixo do que se esperava. Na virada do ano, os fabricantes de veículos esperavam que o PIB tivesse um crescimento de 0,5% em 2022. O que seria bem pouco diante da possibilidade de ser até negativo.
A indústria automobilística encerrou 2021 com um contingente de 101,3 mil trabalhadores, o que representa uma redução de 1,97% em relação aos 103,3 mil ocupados no final de 2020.