“Há muito o que compensar para virarmos a página das duas últimas crises”, afirma o Iedi
Com a apresentação dos dados de junho, a produção industrial do país acumula -19,4% no segundo trimestre. O recuo é o maior da série histórica da Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), gerando forte impacto sobre as previsões de crescimento econômico do país em 2020.
De acordo com os dados do IBGE apresentados hoje (4), o resultado de junho foi positivo em 8,9% na comparação com maio. Essa foi a segunda alta seguida registrada sobre uma base de comparação negativa em dois dígitos e insuficiente, portanto, para recuperar as perdas dos dois meses mais difíceis da pandemia (março e abril), quando o setor produtivo caiu -26,6%.
“A produção industrial ainda está longe de eliminar a perda concentrada nos meses de março e de abril. O saldo negativo desses quatro meses (-13,5%) é bastante relevante”, destacou o gerente da pesquisa, André Macedo.
Mesmo com o resultado de junho, a indústria está 27,7% abaixo do nível de maio de 2011. Em relação a junho de 2019, houve recuo de 9% – o oitavo negativo seguido nessa base de comparação e no semestre, a queda acumulada já é de -10,5%.
“O nível de produção industrial em jun/20 foi 13,5% abaixo daquele de fev/20, isto é, antes da Covid-19 atingir o Brasil, e 27,7% inferior ao nível de mai/11, quando o setor estava no ponto mais elevado de produção de sua série histórica, já corrigidos os efeitos sazonais. Ou seja, há muito o que compensar para virarmos a página das duas últimas crises”, assinalou o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
“Por ora, o sinal ainda relativamente fraco de aceleração da passagem de maio para junho e o padrão de baixíssimo dinamismo industrial antes mesmo do coronavírus justificam certa preocupação”, afirmam os empresários do Iedi.
QUEDA GENERALIZADA
Sobre o dado trimestral, negativo em quase 20%, a queda foi generalizada em todas as quatro grandes categorias econômicas. O recuo foi de -64,9% na produção de bens de consumo duráveis (influenciada pela menor fabricação de automóveis (-83,2%) e de eletrodomésticos (-33,2%) no segundo trimestre). Já nos bens de capital, a queda foi de -38%, puxada pela redução da produção de bens de capital para equipamentos de transporte (-61,1%) e para fins industriais (-33,0%). A produção de bens de consumo semi e não-duráveis (-16,7%) e de bens intermediários (-12,7%) também fechou o trimestre no vermelho.
Em junho, a reação sobre maio se deve especialmente à retomada da produção de veículos, que avançou 70% na passagem de um mês para o outro. “Esse setor acumulou expansão de 495,2% em dois meses consecutivos de crescimento na produção, mas ainda assim está 53,7% abaixo do patamar de fevereiro”, observou o gerente da pesquisa.
QUEBRADEIRA
As medidas de restrição dos serviços não essenciais necessárias para conter o avanço da pandemia, paralisaram a produção e frearam a demanda, que só não foi pior graças ao auxílio emergencial de R$ 600. Ainda assim, segundo o IBGE, na primeira quinzena de junho, 716 mil empresas estavam com portas fechadas definitivamente no país.
Enquanto diversos países do mundo fizeram esforços fiscais para socorrer empresas durante a pandemia, no Brasil o acesso ao crédito ficou empoçado nos bancos, especialmente para as pequenas indústrias.
De acordo com levantamento do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, 30% do total de empresas da indústria de pequeno e micro porte tiveram crédito negado quando recorreram aos programas e linhas de financiamento lançados pelo governo, como o Pronampe. O percentual total de empresas sem acesso a nenhum crédito chegou, em junho, a 79%.
“Você tem 25% das empresas que, se não chegar dinheiro nos próximos 30 dias, vão entrar com pedido de falência e recuperação judicial. Se olhar para trás, somando clientes e fornecedores, estamos tendo uma quebra da cadeira produtiva”, disse o presidente do Simpi, Joseph Couri.