O resultado de 0,6% em julho frente a junho “atingiu apenas uma minoria dos ramos industriais e metade de seus macrossetores. Em consequência, o setor segue abaixo dos níveis de produção pré-pandemia”, destaca o Iedi. A maior queda veio de bens de consumo duráveis (-7,8%), “mais vulneráveis aos efeitos negativos da perda de poder de compra das famílias devido à alta da inflação e dos juros.”
Embora os dados da produção industrial do país, divulgados nesta sexta-feira (02) pelo IBGE, registrem avanço de 0,6% no volume físico em julho ante junho, o setor produtivo continua operando a níveis abaixo do patamar anterior à pandemia. De acordo com os dados da Pesquisa Mensal da Indústria, o setor acumula queda de 2% no ano e de -0,5% no mês ante o mesmo período de 2021. Em 12 meses, o acumulado no ano está negativo em -3,0%.
Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), os dados revelam que 2022 “dificilmente será promissor para a indústria”. Com base no que foi apurado pela pesquisa do IBGE, o instituto lembra que no acumulado dos sete primeiros meses de 2022, 73% dos ramos da indústria permanecem desastrosamente no vermelho.
“Entre os macrossetores, a maior perda cabe a bens de consumo duráveis, com -10,5% ante jan-ago/21, seguidos de longe por bens intermediários (-1,7%) e bens de capital (-1,6%), que em 2021 como um todo tinham acumulado crescimento de dois dígitos (+27,8%). Bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, têm queda de -0,8%”, avalia a entidade.
Tampouco os dados mensais são animadores. O avanço registrado na produção na passagem de junho para julho, além de pequeno, atingiu pouquíssimos ramos.
“Dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE, apenas 10 ampliaram sua produção física na passagem de jun/22 para jul/22, já descontados os efeitos sazonais, o que equivale a uma parcela minoritária de 38% do total”.
Considerando os macrossetores, metade também ficou no vermelho. “Foi o caso de bens de capital, cuja produção recuou -3,7% em jul/22, sendo que já havia caído em jun/22, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir. Foi também o caso de bens de consumo duráveis, que respondeu pelo pior desempenho deste início de semestre: -7,8%”.
• Indústria geral: +0,4% em mai/22; -0,3% em jun/22 e +0,6% em jul/22;
• Bens de capital: +7,1%; -1,9% e -3,7%;
• Bens intermediários: -1,1%; -1,1% e +2,2%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +0,9%; -0,9% e +1,6%, respectivamente.
“O quadro também é de contrastes se considerarmos o nível de produção atual vis-à-vis o pré-pandemia. Em contraste, bens de consumo semi e não duráveis ainda se encontravam 4,9% abaixo de fev/20 e bens de consumo duráveis, 22,7% aquém deste patamar. Importante lembrar que bens de consumo são justamente aqueles mais vulneráveis aos efeitos negativos da perda de poder de compra das famílias devido à alta da inflação e dos juros e, no caso dos duráveis, também estão mais sujeitos aos gargalos nas cadeias de fornecedores”, completa a análise do Iedi.
O gerente da Pesquisa do IBGE, André Macedo, destacou que o saldo negativo da indústria se deve não somente pelas restrições de ofertas de insumos e componentes eletrônicos para a produção do bem final, mas também, pelo lado da demanda doméstica. “São juros e inflação em patamares mais elevados. Isso aumenta os custos de crédito, diminui a renda disponível por parte das famílias e faz com que as taxas de inadimplência permaneçam em patamares mais elevados”, analisa.