Bens de capital (-4,0%), bens de consumo duráveis (-1,3%) e 18 de 25 ramos industriais ficaram no vermelho
A produção industrial brasileira ficou estagnada em agosto, ao variar apenas 0,1% em relação a julho, quando caiu -1,4%, segundo a pesquisa Produção Física (PIM-PF) mensal, na série com ajuste sazonal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (2).
Em agosto, a produção pela indústria de transformação, que corresponde a mais de 80% da indústria geral, recuou -0,3% ante julho deste ano, com destaque para a queda da fabricação de máquinas e equipamentos (-2,7%). O resultado total foi puxado pelas indústrias extrativas, que cresceram 1,1% no mês, com destaque para a produção de petróleo.
Sensíveis às taxas de juros e condições de crédito no país, a produção de bens de capital recuou -4,0% e de bens de consumo duráveis caíram -1,3% na passagem entre julho e agosto. A produção de bens intermediários cresceu 0,3% e a de bens semi e não duráveis subiu 0,4%.
Ao todo, 18 dos 25 ramos industriais pesquisados ficaram no vermelho no mês. O IBGE destacou as fabricações de veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,3%), produtos diversos (-16,7%) e impressão e reprodução de gravações (-25,1%), como os principais impactos negativos na média da indústria geral.
Outros impactos negativos importantes também partiram de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,2%), de produtos de metal (-4,0%), de metalurgia (-2,5%), de bebidas (-3,4%), de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-6,6%), de máquinas e equipamentos (-2,7%), de celulose, papel e produtos de papel (-2,5%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,9%), de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3,6%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-0,4%).
Com estes resultados, a produção industrial brasileira segue 15,4%, abaixo do nível recorde registrado em maio de 2011.
Esse baixo desempenho da indústria reflete a política monetária do Banco Central (BC), que mantém os juros em patamares elevados, entre os maiores do mundo, desestimulando os investimentos produtivos, além do consumo de bens e serviços no Brasil, em prol do sistema financeiro. Em 12 meses até agosto, o setor público (União, estados/municípios e estatais) transferiu a bancos e instituições financeiras, via o pagamento dos juros da dívida publica, a soma de R$ 855 bilhões.
Nenhum setor produtivo tem um privilégio financeiro anual deste montante sobre o Orçamento público. Para o setor produtivo que tem capacidade de alavancar a melhora da economia, dos empregos e dos salários no país, a indústria brasileira – que está há décadas na sarjeta dos investimentos públicos – no governo Lula 3 conseguiu um aporte de quase R$ 343 bilhões, recursos disponibilizados pelo plano Nova Indústria Brasil (NIB) ao empresariado industrial, entre 2023 até 2026; ou seja, R$ 85,75 bilhões por ano – para retomar o processo de reindustrialização do país. Recurso comemorado pelo empresariado, mas considerado insuficiente para o tamanho das necessidades do país.
Frente a agosto do ano passado, a produção da indústria está 2,2% em alta. Nos oito meses de 2024, cresceu 3,0% e, no acumulado dos últimos doze meses, marca um avanço de 2,4%.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, ao analisar o resultado da produção física em agosto, considerou “que não representa uma reversão da tendência de recuperação do setor”, mas alerta que “o novo ciclo de aumento de juros tende a pesar contra a continuidade do processo de recuperação em curso para a indústria de transformação, setor mais sensível às condições que incidem sobre o acesso ao crédito. Devido aos efeitos defasados da política monetária, as decisões de aumentar a taxa de juros, sobretudo em um ambiente em que as condições financeiras já estavam restritivas, terão efeitos sobre o nível de atividade industrial em 2025”.
No mês passado, sem nenhuma justificativa, o Banco Central iniciou novo ciclo de aumento dos juros e elevou a taxa Selic de 10,50% para 10,75%. enquadrando-se com as demandas do mercado financeiro, que projeta uma Selic em 11,75% no final de 2024 – mesmo com os indicadores inflacionários e suas projeções sinalizando que a inflação está baixa e controlada no Brasil.