
Sob efeito dos juros elevados, setor acumula perda de 1,5% desde abril
Em julho de 2025, a indústria brasileira marcou o quarto mês consecutivo de queda na sua produção, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (3). Em julho, a produção industrial como um todo recuou -0,2% frente a junho deste ano, mês que não obteve crescimento (0% – dado revisado de -0,1%), acumulando uma perda de 1,5% desde abril.
A indústria de transformação registrou queda de 0,1% na produção. Com o resultado, o ramo que corresponde a mais de 80% da indústria geral, está parada há quatro meses (abril deste ano – queda de -1%; em maio, -0,5%; junho, +0,1%, e julho, -0,1%).
“Em termos conjunturais, destaca-se os efeitos de uma política monetária mais restritiva – que encarece o crédito, eleva a inadimplência e afeta negativamente as decisões de consumo e investimentos. Esses fatores contribuíram para limitar o ritmo de crescimento da produção industrial no período”, ressalta o gerente da pesquisa, André Macedo.
Mais sensíveis às condições dos juros, a produção de bens de consumo duráveis (-0,5%) e bens de capital (-0,2%) registraram as taxas negativas no mês de julho deste ano. Já bens intermediários (0,5%) e de bens de consumo semi e não duráveis (0,1%) mostraram os resultados positivos no mês.
De acordo com o IBGE ficaram no vermelho 13 das 25 atividades industriais. Metalurgia exerceu o maior impacto, com queda de 2,3%, interrompendo dois meses consecutivos de avanço, quando acumulou ganho de 1,6%. Outros destaques negativos vieram das atividades de outros equipamentos de transporte (-5,3%), de impressão e reprodução de gravações (-11,3%), de bebidas (-2,2%), de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3,7%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,0%), de produtos diversos (-3,5%) e de produtos de borracha e de material plástico (-1,0%).
Com a nova queda, a indústria brasileira acumula perda de 1,5%, desde abril deste ano. E, assim, em julho, a produção industrial se encontra 15,3% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
Na média móvel trimestral, a produção industrial apresentou uma queda de -0,3% no trimestre encerrado em julho em comparação com o nível observado no trimestre findo em junho de 2025 (-0,4%). Nesta base, todas as grandes categorias econômicas praticamente registraram quedas: Bens de Capital (-0,5%); Bens de Consumo Duráveis (-1,3%); Bens de Consumo Semi e Não Duráveis (-0,7%); e Bens Intermediários (+0,1% – o que é a mesma coisa que nada).
Em comparação com julho de 2024, a produção pela indústria assinala alta de apenas 0,2%, com apenas uma das quatro grandes categorias econômicas com taxa positiva: Bens Intermediários (2,5%); Bens de Consumo Semi e Não duráveis (-4,1%): Bens De Consumo Duráveis (-3,4%) e Bens De Capital (-0,1%).
PIB INDUSTRIAL
Ontem, o IBGE divulgou dados do Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre deste ano, com a indústria de transformação voltando a apresentar perda no crescimento, com queda de -0,5% no período, após um recuo de 1% no primeiro trimestre de 2025.
O PIB da indústria geral cresceu 0,5% no trimestre encerrado em junho, puxado pelas indústrias extrativas (5,4%), que tem menor participação no PIB, 4,2% em valor adicionado a preços básicos. O ramo da indústria corresponde a 14,4% do PIB.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia, em nota, que o “fator decisivo para esta evolução foi o patamar elevado de taxas de juros no país, restringindo a demanda interna: as decisões de investimento e o consumo das famílias de bens duráveis foram negativamente impactados, o que fez nossas importações recuarem. Outro fator a ser mencionado foi o declínio do consumo do governo (-0,6% ante o 1º trimestre/25, com ajuste)”.
“Com uma contribuição negativa da demanda interna (-0,2%), o PIB do Brasil desacelerou de +1,3% no 1º trimestre de 25 para +0,4% no 2º trimestre de 2025, já descontados os efeitos sazonais”, ressalta o Iedi”. “Do lado da oferta, isso se refletiu em piora dos setores mais sensíveis ao nível de juros, sobretudo na indústria. Embora o setor como um todo tenha progredido de 0% no 1º trim/25 para +0,5% no 2º trim/25, isso se deveu exclusivamente ao ramo extrativo, que avançou +5,4%, com base no petróleo e ferro”, completa.