As quatro grandes categorias econômicas e 19 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na produção, segundo IBGE
A produção industrial do Brasil recuou 0,6% em novembro ante outubro, mostrou a Pesquisa Industrial Mensal divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (08). Trata-se da segunda queda mensal consecutiva – após recuo de 0,2% em outubro, o setor acumula perda de 0,8% no período.
O resultado foi influenciado pela queda na indústria de transformação (-1,0%), responsável por 85% da indústria brasileira, e com a indústria extrativa ficando em torno de zero (+0,1%).
Segundo o IBGE, a queda foi disseminada por todas as quatro grandes categorias econômicas, sendo estendido por 19 dos 25 ramos industriais pesquisados. Os principais recuos destacados pelo instituto vieram da indústria de veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda de 11,5% e; coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível, recuo de 3,5%.
O setor de produtos alimentícios teve queda de -1,2% no mês, reflexo direto do consumo. Outros setores importantes que recuaram foram: confecção de artigos de vestuário (-8,5%), produtos químicos (-2,1%), celulose, papel e produtos de papel (-3,9%); produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,4%); couro, artigos de viagem e calçados (-6,6%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,8%), produtos de fumo (-16,3%), bebidas (-2,7%) e móveis (-5,7%).
Entre as atividades que resistiram e contribuíram para que a queda na produção não fosse maior, está máquinas e equipamentos, com expansão de 2,3% no mês.
Na comparação com novembro de 2023, a produção industrial cresceu 1,7%, com alta acumulada de 3,2% em 2024 até novembro. Em 12 meses, o IBGE registrou avanço de 3,0%. Com esses resultados, a produção industrial encontra-se 1,8% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020), mas 15,1% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
JUROS ELEVADOS
Vista como resultado direto da sequência de aumento da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central (BC), a atividade industrial deve sofrer ainda mais este ano com a atual política monetária. O ínicio de um novo ciclo de altas da Selic, em setembro do ano passado, culminou na chegada ao patamar atual 12,25% ao ano, desde dezembro e a promessa do BC de elevar em mais dois pontos percentuais a Selic até março deste ano.
Na época, as principais associações industriais do país condenaram a política, afirmando que a consequência será queda nos investimentos, na produção e no consumo.
“Manter o ciclo de alta da Selic iniciado em setembro já configuraria um erro do Banco Central. Intensificar esse ritmo, como a autoridade monetária escolheu, portanto, não faz sentido no atual contexto econômico”, afirmou Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias Paulistas (Fiesp).
“Não há nada que justifique ter 8% de taxa de juros real, acima da inflação, quando não há demanda explodindo e, de outro lado, no mundo inteiro, há praticamente juros negativos”, concluiu.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) pontuou, em nota, que o aumento é excessivo e que representa mais um obstáculo para a atividade da indústria nacional.
“A federação ressalta que o elevado patamar da taxa de juros inviabiliza uma recuperação sustentável da indústria, em especial da indústria de transformação que há dois anos consecutivos registra queda na produção. Compromete, ainda, os investimentos, que continuam abaixo da média mundial. As incertezas relacionadas à condução da política comercial externa a ser adotada pelo novo governo americano tornam o cenário no médio prazo ainda mais desafiador”.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Ricardo Alban, em nota divulgada pela entidade esta semana, defendeu um pacto contra os juros elevados e alertou para o risco de recessão.
“Afinal, a manutenção de juros altos não só encarece o serviço da dívida – cada ponto percentual de acréscimo na Selic adiciona algo em torno de R$ 50 bilhões por ano aos gastos do governo – mas também arrefece os ânimos de quem pretende investir e gerar emprego no país”, ressaltou Alban.
“Esse pacto adquire centralidade quando se considera o passado recente do Brasil: o país passou longos anos com crescimento praticamente estagnado, mas apresentou, nos últimos tempos, sinais de que poderia acelerar e ingressar em um ciclo de prosperidade mais consistente”, defendeu o presidente da CNI.
“A indústria de transformação, amparada pela Nova Indústria Brasil, demonstrou capacidade de expandir empregos de qualidade, atrair capitais para infraestrutura e aumentar a arrecadação tributária, [..] Contudo, o risco de que a política monetária restritiva e a alta do dólar sufoquem o ímpeto industrial e agrário em 2025 é real”, alertou o dirigente industrial.