Antes mesmo da divulgação da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que registrou queda de 10,9% na produção industrial na passagem de abril para maio, o governo Temer e parte da mídia vinham alardeando a derrocada do setor como resultante da greve dos caminhoneiros. O objetivo é claro. Mascarar a derrocada da política de Temer, uma continuidade de Dilma Rousseff.
Como já registramos em edição anterior, há quatro anos que a economia brasileira vem rastejando, em função da política neoliberal adotada, inicialmente pelo PT, de juros estratosféricos, corte de investimentos públicos e arrocho salarial, que atingiu em cheio a atividade industrial.
Números do IBGE sobre a produção industrial. Em 2014, houve um recuo de 1,5%. No ano seguinte, despencou 5,8%. Em 2016, para variar, novo tombo: -3,8%. No ano passado, ficou em zero. Este ano, comparação mês/mês anterior. Janeiro: -2,2 %; fevereiro: 0,1%; março: zero; abril: 0,8%.
Ou seja, a produção industrial está no fundo poço há muito tempo, bem antes da greve dos caminhoneiros. Quem estabeleceu os juros reais na estratosfera, que entravam a atividade produtiva? Foram os transportadores de carga ou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central? Quem aprovou o corte por 20 anos dos investimentos públicos, ao mesmo tempo em que deixou livre os gastos com juros? Foram os caminhoneiros ou os parlamentares comprados por Temer com liberação de emendas e outras benesses?
Quem transformou o governo em um verdadeiro balcão de negócios, onde faltam recursos para a saúde, educação, transporte, segurança etc. mas sobram bilhões para a especulação financeira. Foram os caminhoneiros?
No Relatório de Inflação do segundo trimestre, o Banco Central reconhece que a atividade econômica está mais lenta do que o “esperado” e revisou para baixo a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, para 1,6%, sem ainda levar em consideração a paralisação dos caminhoneiros. E que possivelmente vai afetar “a dinâmica da atividade no segundo trimestre e influenciando a revisão da projeção de crescimento anual”. Ou seja, o BC vai revisar mais uma vez a projeção do PIB. Certamente, um percentual ainda menor.
Apesar de afirmar que greve dos caminhoneiros atingiu a indústria, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) classificou a produção industrial como “primeiro trimestre fraco”. Isto é, de janeiro a março. Portanto, antes da greve.
O fato é que o país está à deriva em todos os sentidos e o declínio da produção industrial é reflexo, em termos econômicos, de uma situação que já dura anos. Assim é que 24 dos 26 ramos industriais registraram declínio em maio na comparação com abril. As maiores quedas se deram nos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (-29,8%), bebidas (-18,0%) e produtos alimentícios (-17,1%).
Essencial para uma política de desenvolvimento, o setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) declinou 18,3%, o menor nível de produção foi o menor desde fevereiro de 2016.
Um indicador que demonstra bem a queda da atividade industrial – até porque reflete também o desemprego – é a Utilização da Capacidade Instalada (UCI). De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a UCI ficou em 75,9% em maio, uma queda de 2,2 pontos percentuais na comparação com o mês anterior.
Resumo da ópera: produção industrial em declínio e desemprego em massa (mais de 27 milhões de desempregados e subempregados). Retrato sem retoques de uma política econômica falida e fracassada.
V.A.