Dependência de importados, queda na renda e alta da inflação estão entre as causas apontadas pelo Iedi para a estagnação do setor: “todos os macrossetores no vermelho bem como cerca de 70% dos ramos industriais (18 dos 26 identificados pelo IBGE”
A produção industrial nacional registrou queda de -0,4% em junho em comparação com mês anterior (maio), segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta terça-feira (2). Nos últimos quatro meses o setor vinha amargando rendimento de baixo crescimento por influência da alta dos juros e da inflação.
No primeiro semestre do ano, a indústria acumula queda de 2,2%, com resultados negativos em todas as quatro grandes categorias econômicas, 18 dos 26 ramos, 55 dos 79 grupos e 62,6% dos 805 produtos pesquisados. Em 12 meses, o setor acumula queda de 2,8%.
“O perfil dos resultados para o primeiro semestre de 2022 mostrou menor dinamismo para bens de consumo duráveis (-11,7%), pressionada, em grande parte, pelas reduções verificadas na fabricação de eletrodomésticos da “linha branca” (-21,7%) e da “linha marrom” (-12,6%) e de automóveis (-7,0%)”, destacou o IBGE, em nota.
Assim, o setor industrial ainda se encontra 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,0% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
Na passagem de maio para junho, três das quatro grandes categorias econômicas mostraram redução na produção: Bens de Capital (-1,5%), acumulando no ano queda de -0,9%; Bens Intermediários (-0,8%), com queda de -2,1% no acumulado de janeiro a junho; e Semiduráveis e não Duráveis (-0,7%), que no ano registra recuo de -1,0%.
Apenas Bens de Consumo Duráveis (6,4%) apresentou saldo positivo no mês, mas no ano, registra queda de -11,7%, puxada pelas quedas de móveis (-24,2%), eletrodomésticos (-21,3%) e automóveis (-7,0%).
No acumulado de 12 meses, Bens Intermediários (-2,6%), Bens de Consumo (-6%), e Bens de Consumo Duráveis (-16%), registraram queda em suas produções. Bens de Capital (+7%) registrou saldo positivo no período.
Em junho, 15 dos 26 ramos pesquisados ficaram no negativo. Entre os destaques estão: farmoquímicos e farmacêuticos (-14,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%), máquinas e equipamentos (-2,0%), metalurgia (-1,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,8%) e de outros equipamentos de transporte (-5,5%). Do lado positivo, destacam-se: veículos automotores, reboques e carrocerias (6,1%) e indústrias extrativas (1,9%).
No acumulado do ano, as principais influências negativas vieram de produtos diretamente ligados ao consumo das famílias, como: Móveis (-19,8%), Produtos têxteis (-15,3%), Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-14,6%), Confecção de artigos do vestuário e acessórios (-9,3%), Produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,1%), e Perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-5,0%)
No intervalo de janeiro a junho também vale destacar as contribuições negativas dos ramos: Produtos de metal (-12,1%), Produtos de borracha e de material plástico (-10,0%), Metalurgia (-5,4%), Veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,4%) Produtos de minerais não metálicos (-5,2%), Produtos diversos (-7,0%), indústrias extrativas (-3,3%) e máquinas e equipamentos (-1,3%).
Ao analisar os números divulgados pelo IBGE, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), afirma que a “tendência mais de longo prazo, revelada pelo acumulado em doze meses frente ao mesmo período do ano passado, também mostra que a reação após os efeitos iniciais da pandemia de Covid-19 foi interrompida, não dando início a um processo consistente de crescimento”. Para o instituto, o maior obstáculo a uma performance industrial superior na primeira metade de 2022 foi a produção de bens de consumo durável, que registrou -11,7%, a despeito do crescimento recente na série com ajuste (+6,4%)”.
“Suas atividades estão entre as mais atingidas pela desorganização das cadeias de fornecedores, já que empregam inúmeras partes e componentes em suas linhas de produção, muitos deles importados. Além disso, sua demanda final também tende a ser adiada em situações de queda do poder de compra dos consumidores e de incerteza, como tem sido o caso dada a alta da inflação e a aproximação das eleições”, avaliou.