IBGE aponta que a inflação e o aumento dos juros afetaram diretamente o poder de compra das famílias. Principal parque industrial do país, São Paulo, ficou estagnado, com 44% de seus ramos perdendo produção, destacou o Iedi
Oito das 15 regiões pesquisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registraram queda na produção industrial em 2022. No Brasil, o resultado da produção física no ano passado foi de baixa de 0,7% em meio a um cenário de juros altos, salários baixos e inflação persistente.
Recuos importantes nos polos da indústria extrativa e a estagnação na produção de São Paulo – o maior e mais diversificado núcleo industrial – explicam o declínio do setor no país e acendem um alerta para o ano que começa.
Segundo os resultados regionais divulgados pelo IBGE na sexta-feira (10), as maiores quedas no ano vieram do Pará (-9,1%) e Espírito Santo (-8,4%), locais onde se concentram indústrias extrativas de minério de ferro e petróleo. No Paraná, a produção caiu 4,3%.
“O setor de derivados do petróleo foi o que mais contribuiu negativamente, com queda na produção de óleo diesel e óleos combustíveis. No caso de Santa Catarina (-4,3%), terceira maior influência negativa, o setor de têxteis (roupas de banho e fitas de tecido) foi o principal fator”, explica o analista da pesquisa, Bernardo Almeida.
Ceará (-4,9%), Pernambuco (-2,3%), Minas Gerais (-1,3%) e Região Nordeste (-1,0%) também registraram queda na produção no índice acumulado em 2022.
“A aceleração da inflação e o consequente aumento dos juros afetaram diretamente o poder de compra das famílias. A geração de empregos com baixa remuneração também impactou nisso. Houve ainda, em grau menor, o desabastecimento de alguns insumos e o aumento de preços de matérias-primas”, destaca o analista do IBGE.
A posição de São Paulo também teve grande responsabilidade no resultado do ano. No acumulado de 2022, a produção ficou paralisada.
“São Paulo, que tem a maior e mais diversificada indústria do país, evitou o terreno negativo, mas nem por isso cresceu. Ficou virtualmente estagnado ao registrar +0,2% em jan-dez/22, com 44% de seus ramos perdendo produção”, pontua o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Na outra ponta, a produção regional destaca os crescimentos no Mato Grosso (19,4%), Rio de Janeiro (4,6%), Amazonas (3,8%) e Bahia (2,4%). Esses resultados, que vêm sobretudo da margem deprimida de comparação, pouco contribuíram para o avanço do setor produtivo em termos gerais.
“O esgotamento das medidas de incentivo à demanda adotadas pelo governo federal, somado aos efeitos contracionistas do aumento da taxa de juros, motivaram essa trajetória de desaceleração, refletida na variação negativa da indústria geral registrada em 2022”, afirma a Federação das Indústrias Paulistas (Fiesp).
Registra-se que a queda de 0,7% na indústria geral é a sexta dos últimos dez anos e mantém o setor defasado em 2,2% em relação aos níveis pré-pandemia e 18,5% abaixo do pico observado em 2011.