“Inflação alta, juros em elevação, mercado de trabalho ainda com contingente elevado de trabalhadores fora dele e a massa de rendimento que também não avança, são características que ajudam a entender esse cenário da indústria”, destaca André Macedo do IBGE
Após tombo de 2,2% em janeiro, a produção industrial do país variou 0,7% em fevereiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (01). O resultado, apesar de positivo, mal repõe as perdas do mês anterior e pouco afeta os atuais níveis de produção da indústria: o setor permanece 2,6% abaixo do patamar de antes da pandemia e 18,9% abaixo dos níveis de maio de 2011.
“A despeito de acentuada oscilação dos resultados na virada do ano, este último resultado coloca o setor no mesmo nível em que se encontrava em ago/21, indicando as dificuldades de avançar de modo mais consistente”, avalia o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
“Dois anos após o início da pandemia, a indústria ainda está abaixo daquele patamar. Isso pode ser explicado pelo desarranjo das cadeias produtivas, já que as indústrias ficaram com dificuldade de acesso à matéria prima e insumos. Pelo lado da demanda doméstica, há inflação alta, juros em elevação, mercado de trabalho ainda com contingente elevado de trabalhadores fora dele e a massa de rendimento que também não avança. São características que ajudam a entender esse cenário da indústria”, destaca o gerente da pesquisa, André Macedo.
O resultado sequer pode ser considerado positivo quando olhamos a comparação anual: ante fevereiro de 2021, o volume de produção despencou 4,3%. Comparando os bimestres, janeiro e fevereiro deste ano registram queda de -5,8% ante o mesmo período do ano passado, com resultados negativos em todas as quatro grandes categorias econômicas, em 19 dos 26 ramos, em 54 dos 79 grupos e em 65,8% dos 805 produtos pesquisados.
Na análise dos macrossetores, todos tiveram reação positiva na passagem de janeiro para fevereiro, que, no entanto, também não alteram em nada a trajetória de queda acentuada.
A produção de bens de consumo duráveis, por exemplo, caiu -17,6% ante fevereiro passado e -21,6% no 1º bimestre. “Já são sete meses seguidos de quedas de dois dígitos nesta comparação. Praticamente todos os grupos de bens de consumo duráveis tiveram perdas expressivas em jan-fev/22: -24,2% em automóveis, -23,7% em eletrodomésticos e -39,6% em móveis, por exemplo”, exemplifica o Iedi.
“Já o macrossetor de bens de capital, ao que parece, deixou de ser exceção e entrou em fase de recuos persistentes, acumulando -6,5% no 1º bimestre”, completa o instituto, adicionando que a produção de bens de capital para transporte (-9,1%) e principalmente bens de capital para a própria indústria (-14,9%), sinalizam menos investimentos no setor.
“A produção de bens de consumo semi e não duráveis, que sente mais claramente o efeito da corrosão do poder de compra da população pela inflação, caiu -6,7% em jan-fev/22 e já está há oito meses no negativo. As quedas mais intensas ficam por conta de produtos cujo consumo pode ser adiado mais facilmente pelas famílias: calçados (-19,7% ante o 1º bim/21), vestuário (-20,9%) e têxteis (-23,7%)”.
Bens intermediários, por fim, tiveram queda de -3,8% nos primeiros dois meses do ano, com maiores contribuições do setor de intermediários da indústria automobilística (-11%) e da construção (-10%), embalagens (-15,3%) e intermediários têxteis (-23,1%).
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