A produção industrial do país teve o pior desempenho da série histórica no mês de abril, quando despencou -18,8% na comparação com março. Os dados foram divulgados na manhã desta quarta-feira (03) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e refletem o primeiro mês inteiro de medidas restritivas necessárias para a contenção da epidemia do novo coronavírus.
Em março, a produção física das indústrias do Brasil já havia caído – uma consequência da política econômica em curso e dos primeiros dias de quarentena.
Em 2019, primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro marcado pela intensificação do ajuste fiscal e cortes nos investimentos públicos, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do país foi o pior dos últimos três anos, com a produção industrial despencando -1,1% de janeiro a dezembro. Isso reforça a tese de economistas de que a pandemia chegou ao país com uma economia já doente, asseverando as perdas do setor produtivo e da economia como um todo.
“É a queda mais intensa da indústria desde o início da série histórica, em 2002, e o segundo resultado negativo seguido, com perda acumulada de 26,1% no período”, informou o IBGE.
Na comparação anual, a retração de abril foi de -27,2%. Em março, a queda da produção industrial havia sido de 3,8% sobre o mesmo mês do ano passado. Com o tombo, o patamar da produção industrial no país ficou 38,3% abaixo de pico histórico, registrado em maio de 2011.
“É o patamar mais baixo da série histórica na pesquisa. Estamos no piso da produção industrial”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo.
“O resultado de abril decorre, claramente, do número maior de paralisações das várias unidades produtivas, em diversos segmentos industriais, por conta da pandemia. Março já tinha apresentado resultado negativo. Agora, em abril, vemos um espalhamento, com quedas de magnitudes históricas, de dois dígitos, em todas as categorias econômicas”, destacou Macedo.
No acumulado de 2020, a retração da indústria já é da ordem de -8,2%, confirmando que a contribuição do setor produtivo para a queda do PIB (Produto Interno Bruto) do ano, estimada em queda de 5,25% pelo mercado financeiro, será importante.
Queda setorial
De acordo com o IBGE, a queda acentuada refletiu taxas negativas em todas as quatro grandes categorias econômicas e em 22 dos 26 ramos industriais pesquisados. Entre os setores de principais influências negativas, teve a paralisação quase que completa da produção de veículos automotores (-88,5%), da produção de petróleo e derivados (-18,4%), metalurgia (-28,8%), máquinas e equipamentos (-30,8%), bebidas (-37,6%), de outros equipamentos de transporte (-76,3%), entre outros.
Três ramos apresentaram resultados positivos em abril, registrados na produção de produtos alimentícios (+3,3%) e produtos farmoquímicos (+6,6%).
Entre as grandes categorias econômicas, ainda em relação a março de 2020, bens de consumo duráveis recuou -79,6%; o segmento de bens de capital, -41,5%; os setores produtores de bens intermediários, -14,8%; e de bens de consumo semi e não-duráveis -12,4%.
Ausência de plano
Mesmo que os dados oficiais – assim como as demissões em massa e fechamento de empresas – exija uma resposta do governo federal, até o momento o Ministério da Economia ainda não apresentou um plano concreto de apoio à indústria e demais setores.
O ministro Paulo Guedes insiste que o corte nos investimento e a “iniciativa” do setor privado serão suficientes para uma retomada – uma tolice de acordo com economistas.
“O governo claudica e resiste a adotar medidas que, ao reforçar o investimento público, preparem a economia para seguir funcionando durante a crise e para retomar o crescimento no pós-pandemia. Ele teve a chance de fazer isso quando o general Braga Neto apresentou o esboço de Plano Pró-Brasil, mas optou por dar ouvidos ao discurso escrachado desse cidadão que ocupa o ministério da Economia”, afirma o professor e economista Nilson Araújo de Souza.
“Dizer, como faz Guedes, que não tem dinheiro, que dinheiro não cai do céu, não passa de uma mentira deslavada. Só no caixa único do Tesouro existe R$ 1,350 trilhão, que pode ser destravado com decisão já tomada no STF e a aprovação pelo Congresso da lei de calamidade pública. Além disso, já vimos demonstrando há bastante tempo que, em momentos de crise, quando a economia opera com capacidade ociosa, o governo pode financiar seus investimentos e demais gastos com emissão monetária. O mundo inteiro já fez isso no passado e está fazendo novamente agora. Até os EUA de Trump”, completa o economista.