Os debates entre entidades empresariais, sindicatos, confederações e centrais sobre a construção de um projeto de desenvolvimento poderão agora ser conferidos no livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empresários pela reindustrialização do Brasil”, publicado pela Editora Página 8.
Com organização de Carlos Pereira, redator especial do HP, o livro é fruto do Seminário Nacional pela Reindustrialização do Brasil, realizado na sede da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), em 11 de junho de 2024, e reúne entrevistas com representantes dos empresários e dos trabalhadores sobre os caminhos para se reverter o processo de estagnação econômica que há décadas sufoca o setor produtivo brasileiro e o desenvolvimento do país.
O debate reuniu a CTB, confederações de trabalhadores na indústria e, pelos empresários, o representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI), e apontou para um consenso inicial que tem como base quatro bandeiras prioritárias: redução dos juros a níveis internacionais, preferência para as compras do Estado às empresas com conteúdo nacional, financiamento para empresas nacionais a juros decentes e prioridade para o mercado interno.
O livro traz também a publicação da Carta ao Povo Brasileiro, documento resultado desse primeiro encontro, no qual se defende “forjar a economia no fortalecimento da produção industrial e no mercado interno, complementados por uma vigorosa produção agrícola, num salário mínimo suficiente para sustentar a família e estimular as vendas. Numa indústria pujante em tecnologia e respeito ao meio ambiente. Formar uma poderosa corrente pela reindustrialização do país. Deixar falando sozinhos os arautos da especulação financeira.”
Rafael Lucchesi, diretor da CNI, e um dos dirigentes presentes no Seminário, destaca que “se nós pegarmos os últimos 80 anos de Brasil e dividirmos em dois blocos de 40 anos, no primeiro, o Brasil se industrializou, e era o país que mais crescia no mundo. Saiu de uma condição de uma sociedade rural e agrária para uma sociedade industrial e urbana. Aliás, vamos ser minimamente honestos, tudo o que nós conhecemos de Brasil, as cidades, a riqueza, o desenvolvimento econômico, a classe média que nós temos e construímos, foi feito por esse processo de industrialização. E nos últimos 40 anos, que nós resolvemos acreditar numa mentira muitas vezes repetida, que estava tudo errado, que nosso modelo estava errado, nós nos tornamos o país que mais perdeu complexidade produtiva. Nós somos o maior derrotado”.
“Num grande erro estratégico do país, nós conseguimos retroceder, regredir, empobrecer, perder protagonismo. Foi tudo isso que nós conseguimos acreditando nessa mentira”, afirma Lucchesi.
Para Adilson Araújo, presidente da CTB, “é chegada a hora de ampliar o coro contra as taxas de juros absurdas e pôr fim à autonomia do Banco Central. Não acreditamos que o Brasil vá retomar a sua capacidade produtiva patrocinando uma taxa de juros maior do que a dos países em guerra. A manutenção dessa política de juros altos só serve para alimentar o ranço rentista e a financeirização”.