EDSON FRANÇA (*)
Hoje completamos dez anos sem a presença do professor Eduardo de Oliveira.
Tive a honra de conviver um tempo com o professor Eduardo de Oliveira, fundador do Congresso Nacional Afro-Brasileiro – CNAB. Percorremos algumas cidades do interior de São Paulo, defendendo a pauta do movimento negro, o Estatuto da Igualdade Racial e a implantação de cotas nas universidades públicas brasileiras. Participamos juntos da implantação do Conselho Nacional de Políticas de Igualdade Racial – CNPIR e da construção das políticas de igualdade racial que inauguraram a primeira experiência de um governo liderado por um Presidente da República vindo das classes populares. Estou entre as pessoas que o acompanhou muitas vezes entoando o “Hino a Negritude”.
Professor Eduardo foi o mais ativo e longevo militante do movimento negro que tive oportunidade de conviver, figura entre líderes octogenários que dedicaram toda vida na causa da igualdade e da Nação, como José Corrêa Leite, do Jornal Clarim d’ Alvorada e do Centro Cívico Palmares, Dr. Francisco Lucrecio, da Frente Negra Brasileira, Abdias do Nascimento, do Teatro Experimental do Negro, e hoje do nosso decano Yedo Ferreira lúcido militante do Movimento Negro Unificado – MNU.
Professor Eduardo de Oliveira, como muito de nós, vem de família violada em seus direitos, vulnerabilizada socioeconomicamente. Criado por família branca, conheceu a diferença e o racismo em tenra idade, fase que desconhecemos a dimensão do ódio e da desigualdade. Se tornou poeta, compositor, foi vereador em São Paulo, fato raríssimo na sua geração, e militante do movimento negro por toda vida. Alfabetizou milhares de negras e negros, denunciou intransigentemente o racismo, imortalizou obras como o livro “Quem é quem na negritude brasileira”, onde dá luz a personalidades negras que contribuem com o progresso nacional, compôs o “Hino à negritude”, onde contém versos que narram a saga dos africanos, escravizados e seus descendentes, exaltando a história e a cultura afro-brasileira, muito antes da Lei 10.639. Foi um grande tribuno e nos anos finais de sua militância se constituiu num ponto de equilíbrio e convergência do movimento negro.
Ainda assim, com extensa obra e trabalho realizado à negritude, nos altos de seus oitenta e poucos anos, conversava com os jovens como igual, participava das cansativas reuniões preparatórias das Marchas da Consciência Negra em São Paulo e da preparação de outras agendas do movimento negro, perseguiu inúmeros projetos dia a dia, semana a semana, mês a mês, ano a ano, como se a vida não tivesse fim.
Ouso dizer que se o Professor Eduardo estivesse ainda entre nós, veríamos carregando sua malinha pesada, lutando contra o fascismo e o Presidente da República que prega o ódio entre o povo brasileiro, veríamos defendendo o retorno de Lula e com ele um projeto de desenvolvimento nacional que edificasse o Brasil e tirasse seu povo da indignidade da fome e da pobreza, veríamos trabalhando diuturnamente para eleger negras e negros progressistas nos parlamentos brasileiros.
Professor Eduardo sempre trabalhou para termos governantes justos, submissos à Constituição, antirracistas e comprometidos com o Brasil.
Guardo do Professor Eduardo de Oliveira os mais belos ensinamentos, pois ele tinha profunda consciência de quem eram os reais inimigos do povo, combatia com destemor os racistas e defendia com paixão e doçura a causa do movimento negro brasileiro.
Quando completamos dez anos de sua passagem ao Orun, homenageamos sua memória e feitos.
“Ergue a tocha no alto da glória/ Quem, herói, nos combates, se fez/ Pois que as páginas da História/ São galardões aos negros de altivez“
(*) Historiador, ex-presidente e diretor da União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), membro do Comitê Central do PCdoB (Partido Comunista do Brasil).