O ex-vereador paulistano e poeta Eduardo de Oliveira, presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB) e uma das mais importantes lideranças do movimento negro brasileiro, faleceu na última quinta-feira (12), no Hospital do Servidor Público de São Paulo (ler mais na página 8).
Com problemas no coração, aos 86 anos, o Professor Eduardo, como era carinhosamente chamado, foi vítima de insuficiência renal por conta de uma arritmia cardíaca. Personalidades do movimento negro, políticos, ministros, sindicalistas, lideranças estudantis, femininas e amigos se despediram do poeta, que foi velado na Câmara Municipal e sepultado na sexta-feira (13), no Cemitério da Lapa, Zona Oeste da Capital.
A morte do Professor Eduardo, autor do Hino à Negritude, provocou homenagens das mais variadas, vindas de todo os setores sociais e políticos, expressando consternação, tristeza e uma gama enorme de solidariedade. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a Confederação das Mulheres do Brasil, a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), e a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) divulgaram notas.
“Sem nunca perder a crença de que ainda poderemos viver uma sociedade livre do racismo, o autor do Hino à Negritude nos deixa contribuições importantes como poeta, jornalista, escritor, primeiro vereador negro da cidade de São Paulo”, diz a nota da Seppir, dirigida por Luiza Bairro. “Sempre foi um lutador e muito lúcido. Ele estava numa lucidez tremenda, apesar da idade avançada. Por isso, não esperávamos essa notícia agora”, acrescentou Sandra Mariano, da Conen.
“Sua história de lutas para um Brasil progressista e independente, com um povo nutrido e feliz, se soma a toda uma trajetória de vida contra o racismo e os preconceitos. Seu legado nos orienta a erguermos a cabeça e continuarmos lutando por uma sociedade justa, sem racismo e fraterna”, destacou o presidente da Fundação Palmares, Elói Ferreira de Araújo.
Para o coordenador geral da União de Negros pela Igualdade (Unegro), historiador Edson França, o Professor Eduardo “era uma espécie de pai de todos nós”. “Ele nos ensinou como lutar. Durante toda a sua vida ele militou e contribuiu para a igualdade racial. É uma perda que vai emocionar todo movimento porque é como um pai de todos nós que vai embora”, declarou.
“Esse fraterno e valente combatente deixa marcas indestrutíveis pelo tempo, deixa valores humanos e políticos que orgulham todos aqueles que puderem com ele conviver e aprender. Sempre solidário com as lutas dos povos por sua liberdade e autodeterminação, apoiou com valentia o povo palestino, não vacilou em nenhum momento em ser solidário com esse povo”, disse Emir Mourad, secretário-geral da Fepal.
O deputado federal Vicentinho (PT/SP) sublinhou que o Professor Eduardo “sempre foi uma pessoa muito alegre, cheio de energia”. “Sua energia e juventude na luta pela igualdade racial, por um Brasil mais justo, pelo combate a pobreza, sempre alegre, sempre sorrindo, são imagens que irão marcar a sua passagem pelo mundo. O país perde um grande homem e um grande cidadão”, acrescentou o deputado federal Vicente Cândido (PT/SP). A deputada federal Janete Pietá, em nota, lembrou que o Professor Eduardo, membro do Conselho da Seppir, onde exerceu vários mandatos, “continuará como exemplo de que é possível manter o gesto afável e acolhedor, com que sempre saudava a todos, mesmo nas mais duras e difíceis circunstâncias”.
O presidente do Partido Pátria Livre do Estado de São Paulo (PPL-SP), Miguel Manso, candidato a prefeito da capital paulista, qualificou o Professor, que também foi fundador do PPL, como um “lutador incansável” que “dedicou seus mais de oitenta anos de vida integralmente à luta pela igualdade racial e por um Brasil independente”.
O presidente da CGTB e vice-presidente do CNAB, Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), lembrou a trejetória e o alcance do inesquecível líder negro. “Os caminhos da vida, da luta, ele trilhou com galhardia e determinação. Ele nos disse que o CNAB não poderia acabar. E não vai acabar. Eu juro a vocês e a ele que eu vou levar essa luta à frente”, frisou.
“O nome do Professor Eduardo servirá sempre como referência, um símbolo de dedicação e empenho pela valorização dos negros e negras, pelo fortalecimento da nossa autoestima”,declarou Ramatis Jacino, presidente do Inspir (Instituto Social Interamericano pela Igualdade Racial).
Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o Professor Eduardo foi “um ícone do movimento negro”. O ministro enviou mensagem, manifestando seu pesar aos familiares e amigos “ao tempo em que enalteço o seu brilhantismo na luta ao combate ao racismo e pela igualdade racial neste país”. Também enviaram mensagem o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho; o senador Zezé Perrella (PDT/MG); e o diretor da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), Wanderley Gomes da Silva.
No velório na Câmara de Vereadores e na emocionada cerimônia no Cemitério da Lapa coube ao maestro Casemiro, com sua voz inconfundível de barítono, puxar e dirigir o canto do Hino às Negritude. Ele destacou a grandeza do professor Eduardo. “Pela vossa expressão, pela vossa caminhada, tudo o que nós possamos oferecer em homenagem é pequeno, mas se reveste de grandeza pela força do reconhecimento e eco das suas ações”.
Também estiveram presentes no velório e no cemitério da Lapa a ex-ministra da Promoção da Igualdade Racial Matilde Ribeiro; os vereadores Claudio Prado (PDT) e Ítalo Cardoso (PT); Frei Davi, presidente do Educafro; Alfredo de Oliveira Neto, secretário-geral da CGTB-SP e diretor do CNAB; Jorge Venancio, membro do Conselho Nacional de Saúde; Carlos Lopes, diretor de redação da Hora do Povo; Glaucia Morelli, presidente da Confederação das Mulheres do Brasil; Gabriel Alves, presidente do CPC-UMES; Carlos Alberto Silva Junior, Ouvidor da Seppir; Celso Fontana, especialista em relações raciais do SOS-Racismo da Assembleia de SP; Antônio Carlos Arruda da Silva, Coordenador Estadual de Políticas Públicas para a População Negra e Indígena do governo do Estado de SP; Osvaldo Camargo, presidente da Associação dos Poetas Negros; João Bosco, presidente do Instituto Luiz Gama; Marco Antonio Zito Alvarenga, presidente do Conselho da Comunidade Negra de SP; Sérgio Rubens, presidente nacional do PPL; Miguel Manso, presidente do PPL-SP; Irapuan Santos, presidente do PPL-RJ; Edna Costa, presidente do PPL-PE; o secretário regional Sul do PPL, Márcio Cabrera; Pedro Campos, presidente da Juventude do Partido Pátria Livre; além de representantes da UMES, UNE, Unegro e de religiões de matizes africanas..