Os professores argentinos pararam no país todo e, aos milhares, se manifestaram na frente do Ministério de Educação nacional, em Buenos Aires, nos dias 5 e 6 de março, rejeitando o arrocho dos salários, o fechamento de escolas, o arrocho no orçamento para a educação e a ameaça às aposentadorias.
Segundo os sindicatos, a adesão à greve “está entre 85% e 90%”, declarou Roberto Baradel, dirigente da Confederação de Trabalhadores da Educação da República Argentina (CTERA) pela província de Buenos Aires, o distrito que concentra 40% da população do país e com aproximadamente três milhões de alunos entre o ensino primário e secundário, 65% dos quais frequentam escolas públicas.
Em apoio à greve, milhares de docentes ocuparam as ruas do centro da capital argentina, rejeitando a política econômica do governo de Mauricio Macri que ameaça todas as conquistas conseguidas por anos de luta e trabalho. A manifestação contou com o apoio da Confederação Geral do Trabalho, CGT, e da Central de Trabalhadores da Argentina, CTA, principais entidades sindicais que caminham juntas nas mobilizações nos últimos meses.
“Dizemos ao governo que não vamos aceitar que nos ponham de joelhos. Não nos calamos, não consentimos, não vamos assinar nenhuma coisa contra os trabalhadores e o povo”, sublinhou a secretária-geral da Ctera, Sonia Alesso.
Os professores responsabilizaram Macri e ao ministro de Educação, Alejandro Finocchiaro, pelo conflito. Principalmente, pela decisão de desconhecer as negociações coletivas, previstas pela Lei de Financiamento Educativo. Esta forma de negociação funcionou normalmente desde 2008 até 2016 como o espaço onde os sindicatos e as autoridades definiam um piso salarial para os professores de todo o país, e estabeleciam os montantes de dois fundos nacionais, um Compensador – para garantir que as províncias mais pobres possam pagar o piso salarial – e outro de Incentivo Docente – que se reparte de forma igualitária entre todos os professores do país, para melhorar seus salários. Em 2016, durante o primeiro ano da gestão de Macri, a negociação nacional se realizou ainda, fixou um piso salarial, destinou recursos a esses dois fundos. Mas a partir de 2017, o governo desarticulou a negociação nacional. Agora, aumentando o arrocho, este ano a eliminou por decreto.
O resultado foi que os docentes viram cair o poder aquisitivo de seus salários. Os professores rechaçaram o ajuste salarial anual de 15% em três partes proposto pelo governo, que busca vincular os aumentos com uma avaliação extremamente subestimada da inflação para 2018, “para não acentuar o aumento do custo de vida” que chegou a 24.8% em 2017 e foi de 1.8% em janeiro.
Baradel declarou que na próxima semana poderia se definir a continuidade das mobilizações. “Se não temos novidades, voltaremos a convocar assembléias e os docentes decidiram as novas medidas”.