Parte do salário dos professores foi confiscado durante a ditadura de Pinochet e Boric está se negando a ressarcir apesar de promessa de campanha
Diante da falta de resposta às reivindicações da categoria por parte do governo de Gabriel Boric, os professores do Chile iniciaram uma nova greve de 48 horas nesta quarta-feira (02).
O presidente do Colégio de Professoras e Professores do Chile, Carlos Díaz, afirmou que um total de 130 ônibus estão saindo de várias regiões do país para participar de uma concentração em frente ao Congresso em Valparaíso, o maior porto do país, onde fica a sede do legislativo chileno.
A principal reivindicação dos professores é o pagamento da chamada “dívida histórica” originada em 1981, que representa o prejuízo salarial sofrido por mais de 76 mil professores da rede pública durante a ditadura pinochetista, quando a administração dos estabelecimentos foi transferida do Estado para os municípios, o que impediu que os educadores recebessem o reajuste salarial que foi contemplado na instância nacional.
As pensões dos professores que se reformaram nos anos seguintes também foram impactadas. Embora os governos que vieram depois da ditadura de Pinochet tenham reconhecido a «injustiça», a situação destes docentes nunca foi reparada.
Carlos Díaz esclareceu que entre as exigências da categoria, apresentadas já há um ano, contam-se também a alteração do sistema de financiamento do ensino público, o fim da sobrecarga laboral e medidas para resolver com caráter de urgência, como o problema da violência nos recintos escolares.
Na segunda-feira (31), uma estudante de 17 anos foi esfaqueada no abdômen dentro dos banheiros do Liceu Darío Salas e na véspera um grupo de estudantes exibiu uma arma e queimou um ônibus do transporte público à saída do centro Barros Borgoño, ambos na capital.
SÃO NECESSÁRIAS MEDIDAS PARA TODO O PAÍS
O Ministro da Educação, Marco Antonio Ávila, assinalou que o programa “A conviver se aprende” será ampliado para 160 comunas do país, com o objetivo de promover competências para lidar com a violência escolar.
No entanto, representantes dos professores indicaram que focar essa política em um número pequeno de locais não resolve a situação, pois são necessárias respostas concretas do Estado em todos os estabelecimentos.
Díaz assinalou que a dívida acumulada com os educadores atinge “um número estratosférico, são muitos recursos, são mais de 17 bilhões de dólares e o governo não move uma palha para resolver o problema”.
Os protestos começaram há vários meses, o último deles, uma greve de 24 horas na quarta-feira (26), foi seguido por mais de 100.000 professores em todo o país e cerca de 5.000 centros educacionais públicos fecharam suas portas.
O sindicato informou que, caso não haja acordo com a pasta da Educação até 17 de agosto, as bases do corpo docente discutirão o início de uma greve nacional por tempo indeterminado.