Secretário de Segurança de Tarcísio, Guilherme Derrite, tentou tirar a PF do combate ao crime. Em depoimento na CPI do Crime Organizado no Senado, Lincoln Gakiya alerta que polarização política e resistência à cooperação institucional enfraquecem o enfrentamento ao crime organizado
A abertura da audiência da CPI do Crime Organizado no Senado foi marcada, nesta terça-feira (25), pela defesa enfática, por parte de um dos promotores, Lincoln Gakiya, que investiga o PCC, de política nacional de integração entre as polícias e do fortalecimento da PF (Polícia Federal).
Segundo ele, somente atuação coordenada — unindo PF, polícias estaduais, Ministério Público e órgãos de inteligência — é capaz de enfrentar organizações criminosas que operam com alta capacidade de comando e articulação.
O promotor criticou a resistência de setores bolsonaristas à integração e à ampliação do papel da PF, e afirmou ainda que essa postura mina esforços estratégicos e aprofunda a fragmentação institucional explorada pelas facções.
Para ele, a segurança pública exige cooperação permanente, e não disputa política.
O secretário de Segurança do governo Tarcísio, Guilherme Derrite, deixou o cargo no governo de São Paulo para relatar o projeto Antifacção na Câmara. Em seu relatório, Derrite tentou afastar a Polícia Federal das investigações, submetendo sua participação a uma autorização dos governos estaduais. Ele também tentou descapitalizar a PF, inibindo o acesso da corporação a fundos, deixando-a sem recursos. Diante da repercussão negativa teve que recuar e repor os recursos da PF
RAÍZES E EXPANSÃO DO PCC
Criado em 1993 no presídio de Taubaté (SP), após o massacre do Carandiru, o Primeiro Comando da Capital evoluiu de irmandade de proteção à organização criminosa estruturada, com forte hierarquia, estatuto próprio e regras internas rígidas.
A partir dos anos 2000, o PCC consolidou-se como a maior facção do País, e ampliou seu domínio para rotas internacionais de tráfico. Tendo estabelecido “tribunais do crime” e criado rede nacional de células conectadas por comunicação clandestina.
O poder econômico e territorial da organização transformou-se em desafio permanente ao Estado brasileiro.
GAKIYA COBRA ENDURECIMENTO PENAL
O promotor Lincoln Gakiya, referência nacional no enfrentamento ao PCC, reforçou à CPI que o País precisa endurecer penas e revisar o arcabouço legal aplicado às facções.
Segundo ele, a legislação atual não acompanha a evolução das organizações criminosas, que operam com logística sofisticada e financiamento robusto.
O resultado, disse, é que mesmo líderes presos conseguem manter comando e ordenar crimes sem grande dificuldade.
“Precisamos recrudescer e ter ferramentas modernas para combater o crime organizado, mas é preciso pensar em quem vai executar essas tarefas”, afirmou.
DÉFICIT DE INTEGRAÇÃO PREJUDICA INVESTIGAÇÕES
Gakiya alertou que a falta de coordenação plena entre polícias, Ministério Público, sistema penitenciário e inteligência federal compromete investigações e reduz a eficácia de operações.
A ausência de protocolos unificados mantém o Estado em desvantagem diante de facções com atuação coordenada e dinâmica.
Para o promotor, a fragmentação institucional tem custo alto: investigações se sobrepõem, operações se dispersam e células criminosas se reorganizam rapidamente.
POLARIZAÇÃO POLÍTICA COMO ENTRAVE
O promotor abriu a audiência e também afirmou que a “polarização política” — intensificada nos últimos anos — enfraquece forças-tarefas e contamina decisões estratégicas.
Disputas entre Estados, União e grupos políticos desidratam iniciativas de longo prazo e produzem insegurança institucional.
Segundo ele, facções como o PCC se beneficiam diretamente dessa disputa, e aproveita a desarticulação do Estado para expandir influência sobre territórios, economias ilícitas e redes de corrupção.
RUMO À POLÍTICA DE ESTADO
O promotor defendeu que o País precisa abandonar agendas politizadas e adotar política de Estado para segurança pública, centrada em integração, inteligência e atuação unificada.
Para ele, o enfrentamento ao crime organizado exige cooperação nacional permanente — inclusive com protagonismo da Polícia Federal — e ações estratégicas para desmantelar finanças, logística e comando das facções.











