O promotor responsável pela Operação similar à Lava Jato, no Peru, José Domingo Pérez, denunciou nesta quarta-feira, 26, o procurador-geral do país, Pedro Chávarry, por encobrimento nas investigações contra Keiko Fujimori, filha do ex-ditador, Alberto Fujimori e líder do partido opositor Força Popular. Keiko cumpre prisão preventiva de 36 meses por receber dinheiro ilegal da Odebrecht para a campanha presidencial de 2011.
Em documento entregue à imprensa, o promotor informa ter comunicado “à Procuradoria o suposto cometimento de crime contra a administração da Justiça por meio de encobrimento pessoal e encobrimento real” por parte do “Procurador-Geral, Pedro Gonzalo Chávarry”.
Pérez é membro da equipe especial montada pelo Ministério Público para apurar a Lava Jato peruana e questiona abertamente Chávarry, considerando-o como um integrante de uma máfia corrupta que atua para dominar a Justiça no país.
“Pedro Gonzalo Chávarry, procurador da Nação, através do então secretário-geral da Prefeitura de Lima, Aldo Leon Patiño, executou atos para entorpecer ou obstruir o acordo de colaboração premiada com a empresa Odebrecht”, afirmou o promotor na decisão, divulgada pelo jornal “El Comércio”.
Pérez destaca que o acordo de colaboração foi firmado no dia 8 de dezembro passado e “permitirá que a multinacional Odebrecht brinde informações sobre o pagamento de subornos a funcionários peruanos e contribuições ilegais a campanhas políticas”.
A interferência de Chávarry visa obstruir o acordo com a Odebrecht e o processo de colaboração para evitar que Jorge Barata, que era representante da empreitera no Peru, preste depoimento sobre o financiamento ilegal de campanhas políticas, como denunciou o promotor.
Afirmou ainda que Chávarry não quer que a colaboração da Odebrecht traga uma “conclusão satisfatória”. O objetivo é que não surjam provas contra Keiko Fujimori e outros acusados por lavagem de dinheiro a serem utilizadas em um possível julgamento contra ela.
A denúncia de Pérez contra Chávarry ocorreu horas depois da prisão de outro promotor, Abel Concha, acusado de receber propina para favorecer o prefeito de Chiclayo, David Cornejo, também denunciado por corrupção.
Ainda como elemento revelador da trama de encobrimento dos crimes de corrupção no Peru, Concha era apontado como o candidato de Chávarry para integrar a Equipe Especial da Lava Jato do Peru, chegando a ser apontado como possível substituto de Pérez no comando das investigações.
A Lava Jato peruana investiga os casos de corrupção relacionados à Odebrecht e que envolvem os ex-presidentes Alejandro Toledo (mandato de 2001 a 2006), foragido nos Estados Unidos; Ollanta Humala (2011-2016), que foi detido durante nove meses; Alan García (que governou o Peru por duas vezes, 1985-1990 e 2006-2011), e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou em março passado.
A Odebrecht já admitiu ter distribuído propina a autoridades de 12 países – além do Brasil, em troca de suas obras arranjadas.
A empresa reconheceu em 2016 que pagou US$ 788 milhões em propina em dez países latino-americanos (Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru e Venezuela) e em dois da África (Angola e Moçambique). Apenas no Peru, a empreiteira admitiu o pagamento de US$ 29 milhões, de forma a burlar licitações para participar de mais de 40 projetos envolvendo US$ 12 bilhões em investimentos públicos.