No final da tarde de sexta-feira, a promotora Carmen Carvalho pediu, finalmente, seu afastamento da equipe que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.
Desde o dia anterior que a promotora, depois de divulgadas fotos que ela mesma colocou nas redes sociais, resistia a se afastar.
A promotora fez campanha para Bolsonaro no ano passado (foto abaixo) e posou ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), cujo feito mais conhecido é a quebra de uma placa com o nome de Marielle Franco (foto acima).
A promotora foi uma das três representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) na entrevista coletiva de quarta-feira, em que o MPRJ afirmou que o porteiro do condomínio Vivendas da Barra mentiu, ao dizer, em depoimento, que Élcio Queiroz, um dos assassinos de Marielle, pediu para ir à casa de Bolsonaro, quando foi encontrar-se com o outro assassino, Ronnie Lessa, que morava no mesmo condomínio de Bolsonaro.
A Constituição proíbe aos membros do Ministério Público (promotores e procuradores) o exercício de qualquer atividade político-partidária (artigo 128).
O Conselho Nacional do Ministério Público estabeleceu, sobre esse dispositivo, uma interpretação que, praticamente, proíbe aos promotores e procuradores qualquer atividade política pública, mesmo que não seja estritamente “partidária”.
Porém, no caso da promotora Carmen Carvalho, o problema não se restringe a isso – ou a quaisquer aspectos apenas formais.
A questão é a confraternização (a palavra não é boa, mas não achamos outra) com elementos abertamente hostis à vítima de um caso que está, de uma forma ou de outra, sob a sua responsabilidade.
Quando Marielle foi assassinada, todos os candidatos à Presidência manifestaram o seu repúdio, com exceção de um: Jair Bolsonaro. Disse este que, se expressasse sua opinião, “seria polêmica demais”.
Em seguida, houve uma enxurrada de ataques à vítima de um crime dos mais covardes que já houve no país – inclusive a quebra da placa, pelo então candidato a deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e pelo então candidato a deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), o mesmo que aparece abraçado à promotora Carmen Carvalho na primeira foto desta página.
Em nota, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (GAECO/MPRJ) declarou que “as investigações que apontaram os executores de Marielle Franco e Anderson Gomes foram conduzidas pelas Promotoras de Justiça Simone Sibilio e Letícia Emile Petriz. Findas as investigações, a Promotora de Justiça Carmen Eliza Bastos de Carvalho passou a atuar na ação penal em que Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são réus, a partir do recebimento da denúncia pelo 4ª Tribunal do Júri da Capital (…) Cumpre informar que, diante da repercussão relativa às postagens da promotora em suas redes sociais, a Corregedoria-Geral do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurou procedimento para análise”.
C.L.