Depois de perder a presidência do Peru por corrupção, Pedro Pablo Kuczynski ficou sem a imunidade que o cargo lhe proporcionava e enfrenta diversas ações. Logo após a aceitação pelo Congresso de sua demissão, na sexta-feira passada, a Promotoria abriu uma investigação por seus vínculos com a Odebrecht e outras empresas que foram favorecidas por Kuczynski em troca de vários milhões de dólares quando ocupou o cargo de ministro na década passada.
Por essas ações, o Congresso tinha pedido sua destituição, mas ele renunciou antes que esta fosse debatida e votada.
No sábado, 24 horas depois que deixou o Palácio de Governo, uma corte determinou o seu impedimento de saída do país por considerar que há risco de fuga.
No mesmo sábado, a promotoria revistou a residência do ex-presidente em um dos bairros mais ricos da capital peruana, uma segunda casa de sua propriedade, contígua à primeira, e ainda sua chácara em Cieneguilla, na periferia de Lima, apreendendo documentos, registros de transações bancárias e computadores.
O promotor Hamilton Castro assinalou que “há suspeitas de criminalidade” na relação de PPK com a Odebrecht e outras empresas desde quando foi ministro. O advogado de Kuczynski é César Nakasaki, o mesmo que defendeu Alberto Fujimori (1990-2000) nos processos de lesa humanidade e corrupção que acabaram numa condenação de 25 anos. PPK indultou em dezembro a Fujimori. Nakasaki, que virou especialista em defender políticos acusados de corrupção, também é advogado do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016), que está preso e também acusado de receber financiamento ilegal para sua campanha eleitoral.
Kuczynski tem vínculos com a Odebrecht desde 2004 quando ministro de Economia do governo de Alejandro Toledo (2001-2006), acusado de receber subornos da construtora. A relação, à época, se deu através de uma empresa de assessoria financeira de sua propriedade, a Westfield Capital, e de uma segunda empresa de assessoria, First Capital, de um sócio seu.
Ambas receberam mais de cinco milhões de dólares da Odebrecht. Está comprovado que após complexas articulações financeiras, que incluíam a transferência de dinheiro de uma consultora para outra e o uso de empresas offshore, mais de 3 milhões 400 mil dólares desse montante foram parar em contas pessoais de PPK.
Um dos projetos pelos quais a Odebrecht contratou a assessoria da Westfield foi para a construção da estrada interoceânica que une o Brasil com a costa peruana, obra pela qual a construtora confessou ter pago um suborno de 20 milhões de dólares ao ex-presidente Toledo para ganhar a licitação. Kuczynski teve um papel central no desfecho dessa armação.
Quando Kuczynski era ministro, a Westfield Capital também deu “assessoria” financeira ao consorcio TGP, que explora o gás de Camisea, a maior jazida de gás do país, que tem como acionista a petroleira texana Hunt Oil. Ao mesmo tempo, PPK também teve um papel central nas decisões do governo para permitir a exportação do gás que por lei estava reservado para o consumo interno e dar ao consórcio uma série de benefícios tributários.