Segundo colaboração, Cabral condicionou privatização do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Berj) à contratação do banco Prosper
Em mais uma ação da Força Tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, a Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira o banqueiro Edson Figueiredo Menezes, ex-presidente do Banco Prosper, por suspeita de pagamento de propina para a contratação da instituição financeira no leilão do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Berj) durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Segundo o Ministério Público Federal (MPF), para pagar a propina, a quadrilha abastecia a adega de Cabral em sua mansão em Mangaratiba com garrafas de vinho de até US$ 1,2 mil.
De acordo com Sérgio Miranda, ex-braço direito de Cabral, que colabora agora com a Justiça, o ex-governador condicionou a realização do leilão do Berj e da folha de pagamento dos servidores do Estado à contratação do Prosper para recebimento de propina, o que foi confirmado, segundo o MPF, nas investigações envolvendo Menezes.
O MPF afirma que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) também está sendo investigada pela mesma operação, uma vez que foi contratada pelo governo do RJ para elaborar uma consultoria no processo de leilão do Berj e depois fez pagamento de mais de 3 milhões de reais ao Prosper a título de prestação de serviço.
A operação foi deflagrada pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, em mais um desdobramento do esquema de corrupção comandando por Cabral, que está preso desde novembro de 2016 e já foi condenado há mais de 100 anos em diversas ações por corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes. Esta nova fase foi batizada como “Operação Golias”, já que Menezes era conhecido no esquema como “Gigante”.
ADEGA
De acordo como o MPF, “Edson Menezes realizou pagamentos ao grupo de Sérgio Cabral tanto em espécie quanto por meio da aquisição de vinhos de mais de mil dólares no mercado internacional”. O ex-presidente do Banco Prosper, também já foi presidente da Bolsa de Valores do Rio.
As bebidas foram pagas como forma de abater um pagamento de R$ 6 milhões de propina pela privatização do Berj e da folha de pagamento dos servidores. O banco Bradesco venceu a licitação da venda.
“A solução aventada, então, para honrar o pagamento do restante da propina foi realizar compras de vinho por Gigante (apelido de Edson Menezes), escolhidos por Cabral, e posteriormente repassados a este, sendo abatido o valor do vinho da propina devida”, relata Miranda.
Segundo as investigações, os “presentes” abasteciam uma adega com capacidade para mais de 500 bebidas na casa de praia de Mangaratiba, já que não havia espaço suficiente para todas elas na adega do Leblon, na cobertura onde Cabral morava com a mulher, Adriana Ancelmo.
O Banco Bradesco ganhou a licitação de compra do Berj e contratou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para prestar uma consultoria de como gerir o negócio. Segundo o MPF, há uma suspeita de que a contratação da FGV tenha sido uma fachada para acobertar a atuação no negócio do Banco Prosper, do qual Edson Menezes foi superintendente.
“Essas garrafas vinham de leilões internacionais. Eram adquiridas pelo Edson Menezes no mercado internacional e vinham em transporte refrigerado para o Brasil. Eram entregues, segundo o colaborador Carlos Miranda, na casa do Paulo Fernando Magalhães Pinto, que era um dos assessores do Sérgio Cabral”, afirmou a procuradora da República Fabiana Schneider, da força-tarefa da Lava Jato Rio.
16NUZMAN
A Operação Golias também destacou o vínculo de amizade de Edson Menezes com o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) Carlos Arthur Nuzman, que foi denunciado pelos procuradores por corrupção devido à suspeita de compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Menezes chegou a ocupar a presidência do comitê organizador da Olimpíada após o afastamento de Nuzman em decorrência das investigações.
Os dois foram apontados no pedido de prisão preventiva do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro como “integrantes da mesma organização criminosa”. Edson foi o braço financeiro de Nuzman nos anos da gestão do ex-cartola no COB. Também Foi subchefe da delegação brasileira nos jogos de Atenas, 2004.