
Centenas de jornalistas se manifestaram em Paris e Marselha para condenar o assassinato de trabalhadores de imprensa palestinos pelo regime genocida de Israel
A noite desta quarta-feira (16) em Paris e Marselha foi marcada pela solidariedade dos jornalistas franceses com os seus colegas mortos a bala e bomba na Faixa de Gaza.
Na capital francesa, mais de 200 jornalistas deitaram-se simbolicamente ao longo dos degraus do Ópera usando coletes de imprensa marcados com manchas vermelhas simbólicas, enquanto os nomes dos camaradas mortos desde o início da guerra, em outubro de 2023, eram lidos em voz alta.
Os repórteres, vindos de várias regiões do país, seguravam cartazes com fotos dos jornalistas mortos ao lado do slogan: “Gaza: rostos, não apenas números”.
Na cidade de Marselha, no sul do país, também cerca de 200 pessoas se reuniram para uma homenagem semelhante, lendo os nomes das vítimas e observando um minuto de silêncio.
Profissionais de mídia de pelo menos 36 publicações, incluindo Agence France-Presse (AFP), Radio France, Mediapart, Art e BFM TV, participaram do protesto, juntamente com jornalistas freelancers.
Organizações jornalísticas, incluindo a Federação Europeia de Jornalistas e a Federação Internacional de Jornalistas, apoiaram a manifestação.
“É NOSSO DEVER PRESTAR SOLIDARIEDADE AOS COLEGAS PALESTINOS”
“Como jornalistas, é nosso dever expressar nossa solidariedade aos nossos colegas palestinos e exigir, repetidamente, o direito de entrar em Gaza”, disse a Repórteres Sem Fronteiras em um comunicado após o protesto.
“Apoiamos e protegemos, por meio de nossa presença, nossos colegas palestinos que demonstram coragem incomparável ao nos enviar imagens e testemunhos da imensa tragédia que se desenrola em Gaza”, afirmou.
“Não nos calamos! Genocídio em Gaza!” e “Palestina Livre!”, foram palavras de ordem expressadas no momento.
O dirigente do escritório europeu do Sindicato de Jornalistas Palestinos, Youssef Habash, denunciou o “genocídio” e apelou ao fim do bloqueio à Faixa de Gaza.
“Nunca houve tantas vítimas na nossa profissão. O direito dos cidadãos a serem informados está comprometido”, denunciou Pablo Aiquel, secretário-geral do Sindicato Nacional de Jornalistas filiado à CGT (SNJ-CGT), ao falar em nome da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).
Em artigo publicado pelo Le Monde, várias organizações e sindicatos de jornalistas e trabalhadores em geral – SNJ, CGT, CFDT, RSF, FIJ e uma quarentena de grupos de jornalistas ou membros da redação de vários meios, entre os quais a AFP — denunciaram “uma hecatombe de uma magnitude nunca vista”.
No texto, expressaram: “O exército israelense procura impor um ‘black-out’ mediático sobre a Faixa de Gaza, a reduzir ao silêncio os testemunhos dos crimes de guerra praticados pelas suas tropas”.
ISRAEL SILENCIA TESTEMUNHAS
Jornalistas estrangeiros foram impedidos de fazer reportagens de Gaza, exceto em raras visitas sob rigorosa escolta militar israelense.
No comício em Paris, um jornalista contou ao sobre a mudança de percepções nas redações francesas em relação à cobertura da guerra em Gaza.
“Falar sobre Gaza virou um tabu. Quando você quer falar sobre isso, é visto como um ativista e não como um jornalista, e é acusado de falar sobre a guerra apenas por causa do seu aspecto racial. É algo sobre o qual muitas vezes fomos silenciados”, disse Celia Gueuti, jornalista da Rádio França, ao Middle East Eye (MEE).
“O exército israelense está tentando impor um bloqueio midiático em Gaza — para silenciar, tanto quanto possível, as testemunhas dos crimes de guerra cometidos por suas tropas”, acrescentou.