
“Fora Marito”, exigiram manifestantes. Ministro da Saúde já caiu
Após presenciarem uma multiplicação de cadáveres e contagiados pela pandemia do coronavírus nos últimos dias, milhares de paraguaios tomaram as ruas da capital, Assunção, na noite desta sexta-feira (5), para exigir a saída do presidente Mario Abdo Benítez. Expressando a revolta, parte da sede do Ministério da Fazenda foi incendiada.
A contundência do grito “Fora Marito!” – o apelido do presidente – se explica. Até o momento apenas quatro mil dos sete milhões de habitantes receberam uma dose da vacina russa Sputnik, enquanto o país contabiliza 164.310 casos contagiados e 3.256 mortos em decorrência da doença.
Entidades médicas do Paraguai têm ido às ruas e alertado, com faixas e cartazes, para o colapso em que o sistema de saúde se encontra mergulhado. Com nome e sobrenome, acusam o governo de Marito – amigo de Jair Bolsonaro – pelo agravamento no sistema sanitário, pela ausência de vacinas para o combate à pandemia do coronavírus e pela falta de medicamentos para os pacientes em tratamento de terapia intensiva. Alguns destes medicamentos essenciais, inclusive, teriam sido roubados.
O próprio Senado já havia classificado na quinta-feira a gestão do ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, como “negligente, improvisada e inoperante”. Na tentativa de evitar a explosão social, um pouco antes do protesto, Mazzoleni renunciou. Mas já era tarde.
Em meio à crise, o presidente pediu a renúncia de todos os ministros.
Os protestos se avolumaram para exigir a imediata saída do presidente, pelo caos na saúde e também pelo agravamento da crise econômica, que alastra o desemprego e a carestia, a multidão marchou pela Praça da Democracia, próxima ao Congresso, chegando até o Palácio de Governo, onde virou uma praça de guerra.
A Polícia (anti) Nacional disparou jatos d’água, balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e de “efeito moral”, ferindo dezenas de manifestantes.
Já foi informada a morte de um manifestante, identificado como Alejandro Daniel Florentín, 32. Ele teve um ferimento penetrante no tórax e uma lesão cardíaca. Outro manifestante foi atingido por até 19 balas de borracha disparadas pela Polícia Nacional. Entre os casos graves está um jovem alvejado por uma bala de borracha no olho esquerdo, numa prática semelhante à dos Carabineiros do Chile, para cegar.
Quando acabou a munição, com 11 policiais feridos pelas pedras lançadas pelos jovens que reagiam à repressão, e em franca minoria, o delegado Silvino Leguizamón pediu um cessar fogo. Foi levantado um lenço branco e acertado que o protesto continuaria, de forma pacífica, como no começo.
Entoando o hino nacional paraguaio, os manifestantes retornaram para a frente do Parlamento, reiterando que irão permanecer no local até o presidente renunciar. Hoje haverá novo ato pelo “Fora Marito!”.
Neste sábado (6), chegarão 20 mil doses da CoronaVac doadas pelo governo do Chile.