O PSL não deu ouvidos a Flávio Bolsonaro, senador e presidente do partido no Rio de Janeiro, e ele teve que recuar da exigência de que todos os filiados com cargos no governo de Wilson Witzel (PSC) abandonassem imediatamente suas funções, sob risco de serem expulsos da legenda.
Em reunião na sexta-feira (27) com a bancada estadual do partido, Flávio deixou que os filiados decidissem se mantêm seus indicados nos cargos do governo do Rio de Janeiro. O PSL ocupa 40 cargos no governo, incluindo duas secretarias.
Flávio Bolsonaro chegou a determinar que o PSL deixasse a base do governo de Witzel ou teriam que deixar o partido. “Aqueles que quiserem permanecer devem pedir desfiliação partidária. Nossa oposição não será ao Estado do Rio, mas ao projeto político escolhido pelo governador Wilson Witzel”, disse Flávio em nota.
Uma semana se passou e as coisas não aconteceram bem assim. Vários filiados ao PSL seguiram na base de apoio do governador fluminense.
A deputada federal Major Fabiana, da Secretaria de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência, e Leonardo Rodrigues, da Secretaria de Ciência e Tecnologia, continuam em seus cargos.
O vice-líder do governo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Alexandre Knoploch (PSL), foi o único a anunciar que entregaria a vice-liderança. Contudo, ainda não tinha oficializado o seu desligamento, levando em banho maria.
A permanência de integrantes do PSL em cargos do governo Witzel revela o desgaste de Flávio Bolsonaro ante seus comandados no Estado do Rio. As investigações do caso Queiroz e contra si mesmo estão pesando bastante para o desgaste.
As movimentações suspeitas nas contas do seu ex-motorista e assessor Fabrício Queiroz, identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), estão sendo muito questionadas.
Queiroz operou um esquema no gabinete de Flávio, quando ele era deputado estadual, que movimentou R$ 7 milhões entre 2014 e 2017, sem que ele tivesse renda para isso. Na conta de Flávio também foi identificada pelo Coaf uma movimentação atípica. Foram 48 depósitos de R$ 2 mil num curto espaço de tempo. O seu pai admitiu que Queiroz depositou R$ 1 milhão na conta do filho.
A desobediência gerou críticas via redes sociais da deputada estadual Alana Passos (PSL), fervorosa bolonarista. “Não sou homem, mais (sic) estou de saco cheio de marmanjos infantis. Ordens são para ser executadas e não discutidas. Quem não gostou é só pegar a ficha e se desfiliar do partido”, publicou no Twitter na quinta-feira (19).
Ela também mandou um recado para o deputado federal Daniel Silveira, vice-líder do PSL na Câmara, que questionou a decisão de Flávio em determinar a saída da legenda da base de apoio de Witzel.
“No que depender de mim, na condição de secretária-geral do PSL-RJ, já mudaria logo a executiva de Petrópolis [cidade de Daniel Silveira]. Daniel, embora tenha sido militar, não aprendeu que não se questiona um líder em público”, postou Alana.
Vários dos integrantes da bancada do PSL são pré-candidatos a prefeito, como Dr. Serginho, em Cabo Frio; Rodrigo Amorim, no Rio; e Filippe Poubel, em São Gonçalo.
A birra de Flávio Bolsonaro com Witzel, e vice-versa, não tem nada a ver com alguma discordância de conteúdo político. Com discordância à política criminosa de abate de Witzel que tem vitimado inocentes e que resultou na morte brutal da menina Ágatha Félix, de 8 anos, e de mais 4 crianças no ano.
Tem a ver com a questão eleitoral. Witzel quer ser candidato a presidente em 2022. Ele, além da sua nefasta política, mostrou-se um ingrato. Andou dizendo que se elegeu governador por seus próprios supostos méritos, e não porque recebeu o apoio de Flávio Bolsonaro em 2018. O que aborreceu os bolsonaristas.
O certo é que Bolsonaro, que já tem se engalfinhado com o governador João Dória (PSDB-SP), agora se estapeia com Witzel.