CAMILA SEVERO, de Madri
Dois dias após as eleições gerais espanholas, os líderes do partido socialista (PSOE) e primeiro-ministro em exercício da Espanha, Pedro Sanchéz, e da coligação Unidas Podemos (UP), Pablo Iglecias, anunciaram um acordo para a formação de um “governo de coalizão progressista”. Ainda não foram divulgados os detalhes da estrutura do acordo, mas a expectativa é a situação avance para desbloqueio do impasse político e que se forme um governo de coalizão mais amplo.
O pacto ainda não está selado porque os dois partidos agora deverão trabalhar juntos para buscar a maioria de deputados. O PSOE, que venceu as eleições no último domingo, agora tem 120 deputados, e o UP, 35, mas para alcançar a maioria e poder governar eles precisam de 176 deputados.
Esta foi a segunda eleição geral em sete meses, e a quarta em quatro anos, porque segundo as regras espanholas, após as eleições os partidos devem pactuar acordos para chegar em maiorias, caso contrário as eleições precisam ser repetidas. Pedro Sanchéz havia ganho as eleições de abril, mas não conseguiu, em seis meses, concretizar uma aliança com o bloco de esquerda constituído pela Esquerda Unida e o Podemos, denominado Unidas Podemos. O anúncio feito nesta terça-feira (12), portanto, foi recebido com surpresa, e logrado o pacto, Iglecias assumiria a vice-presidência.
Sánchez e Iglesias também firmaram e apresentaram um documento com as bases do acordo, com ideias gerais sobre “a proteção dos direitos sociais”, frente a desaceleração econômica que se aproxima.
O primeiro ponto do documento destaca “consolidar o crescimento e a criação de emprego. Combater a precariedade do mercado laboral e garantir trabalho digno, estável e de qualidade”. E segue com “o combate à corrupção e a proteção dos serviços públicos, especialmente educação, saúde pública”.
Também tem destaque a “proteção das aposentadorias de nossos idosos: garantir a sustentabilidade do sistema público de pensões e sua reavaliação de acordo com o custo de vida”.
O documento também aborda questões como habitação como um direito; ciência como motor da inovação econômica; defesa da cultura; luta contra as mudanças climáticas; mais direitos para a população; e políticas feministas para garantir segurança, independência e liberdade.
Sobre a Catalunha, que viveu meses de confrontos em torno da questão separatista, apostam no diálogo: “Para garantir a coexistência na Catalunha: o governo da Espanha terá como prioridade garantir essa coexistência e a normalização da vida política. Para esse fim, será encorajado o diálogo na Catalunha, buscando fórmulas de entendimento e encontro, sempre dentro da Constituição. O Estado de autonomias também será fortalecido para garantir a provisão adequada dos direitos e serviços de sua competência. Garantimos a igualdade entre todos os espanhóis”.
Por último, destacam justiça fiscal e equilíbrio orçamentário, “a avaliação e o controle dos gastos públicos são essenciais para a manutenção de um estado social sólido e duradouro. O governo promoverá políticas sociais e novos direitos sob os acordos de responsabilidade fiscal da Espanha com a Europa, graças a uma reforma tributária justa e progressiva na qual os privilégios fiscais são eliminados”.
Em coletiva de imprensa, Sanchéz destacou que “os espanhóis falaram e cabe a nós superar o bloqueio. Não conseguimos esse acordo, embora estivéssemos muito próximos. Estamos cientes da decepção que isso significou entre os progressistas”, mas afirmou que “o projeto político é tão empolgante que supera qualquer tipo de desacordo que possamos ter tido nos últimos meses. Nosso país precisa urgentemente de um novo governo”.
Iglecias afirmou que, “alcançamos um pré-acordo para formar um governo de coalizão progressista na Espanha que trabalhe pelo diálogo para combater a crise territorial e pela justiça social para frear a extrema-direita. É momento de deixar para trás qualquer censura. É uma verdadeira honra trabalhar no governo”.
Se aprovado, o novo governo terá como desafio administrar uma Espanha que a pesar de crescer acima da média europeia, sofre uma grave desaceleração econômica e um grande problema de geração de emprego (fica o desafio de superar a questão do trabalho temporário precarizado). Na semana passada a Comissão Europeia reduziu as previsões de crescimento para 1,9%, e a última pesquisa de população ativa mostrou que a criação de empregos retorna à níveis de 2012. Isso sem falar, claro, da crise na Catalunha.