É cara de um, focinho do outro
Roubaram bilhões e adotaram programa tucano que pôs economia na lona. Mas apostam que o povo não liga para isso
Às vezes é muito difícil saber se o pior em certas tendências políticas (e, claro, nas figuras que as encarnam) é a estupidez, a burrice – ou o cinismo, a falta de senso moral.
Exemplo mais recente é a nota da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, esclarecendo que a “aliança política” do PT é “com o povo brasileiro”.
A presidenta do PT pretende colocar uma folha de parreira em cima da aliança dos ladrões do PT – particularmente, de Lula – com os ladrões do PMDB: Eunício Oliveira (o “Ìndio” da lista de propinas da Odebrecht), Renan Calheiros (o “Atleta” da lista da Odebrecht) & outros ilustres próceres da Lava Jato.
Em todo o país, PT e PMDB ensaiam alianças – em oito Estados elas já foram estabelecidas – para as próximas eleições. Querem, pois, repetir o acordo que redundou no governo Temer – aliás, em tudo o que importa, uma continuação do governo Dilma.
Não eram esses sobas do PMDB que o PT, até ontem, chamava de “golpistas”? Não foram eles que votaram e puxaram o impeachment de Dilma? Não foi o Diretório Nacional do PT que proibiu, em resolução obrigatória para todas as seções e filiados, qualquer aliança com partidos ou pessoas que tivessem apoiado o impeachment de Dilma?
Porém, disse Lula no último dia 30, em Minas Gerais, “estou perdoando os golpistas deste país”.
O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini, fala em “alianças” com o PMDB que “temos e que perduraram”. Um fanático dilmo-lulista, declara: “Não estranhe a aliança do PT com o PMDB em alguns estados. Esse purismo, penso, já não nos cabe. Precisamos de mais racionalidade e menos emoção. Não vamos sair desse buraco achando que se trata de uma briga do bem contra o mal”.
Claro, há muito, para o PT, deixou de existir diferença (muito menos contradição) entre o bem e o mal. Pela simples razão de que eles escolheram o mal: desde o roubo contra a Petrobrás ao neoliberalismo mais furreca, à pilhagem geral do país de Levy ou Meirelles.
Já o senador Romero Jucá, presidente do PMDB, conhecido pela vida ilibada e linguagem elegante (“todo mundo na suruba, nada de suruba selecionada”), diz que “não há problema” na aliança com o PT.
Outro prócer peemedebista, o senador Eunício Oliveira, se declarou eleitor de Lula no Ceará.
Tão entusiasmado é Moreira Franco, aquele que só é ministro para escapar da cadeia.
Cunha e Geddel não se pronunciaram – mas, dentro em breve, o PT poderá contar com eles, no programa eleitoral da TV, se bem que com algumas grades na frente…
Para abreviar: toda a retórica petista do “golpe” e dos “golpistas” era (e continua sendo) palhaçada. Se não fosse assim, o PT não teria se conformado tão rapidamente com o suposto “golpe”, fazendo alianças com o atual governo na Câmara, no Senado e nos Estados. Quem acha realmente que houve um golpe, resiste. No entanto, qual foi a resistência petista, que não fosse mera pantomina?
Lula e o PT têm, realmente, muito a ver com o PMDB atual, porque tornaram-se dois valhacoutos.
Qual a diferença essencial entre a política econômica de Dilma e de Temer?
Uma e outra são, na essência, o mesmo chiqueiro neoliberal. Até o ministro da Fazenda, o depravado Meirelles, é o mesmo que Lula indicava para Dilma.
O que une, no momento, o PT e o PMDB é a vontade e a tentativa de acabar com a Operação Lava Jato – e suas derivações – para continuar assaltando o dinheiro e a propriedade pública. A impunidade é o principal ponto de programa, tanto do PT quanto do PMDB.
A presidenta do PT, em sua nota, ao dizer que a “aliança política do PT é com o povo brasileiro”, não percebeu que, com isso, excluiu o PT do povo brasileiro.
Não é possível, evidentemente, fazer aliança consigo mesmo. Só se faz aliança com algo diferente, com algo que é externo a si próprio. Assim, o PT só poderia fazer aliança política com o povo brasileiro, se não fosse parte do povo brasileiro.
A senadora Hoffmann, então, ao dizer uma mentira, acabou por dizer uma verdade.
Ao tentar tapar as alianças com o PMDB, expôs publicamente o elitismo congênito do PT, que jamais se considerou parte do povo – do povo real, do povo brasileiro – exceto como um incômodo.
O povo brasileiro sempre foi, para eles (mais ou menos conscientemente), incapaz de fazer sua própria História, sempre submetido e excluído “pelos acordos entre as elites” – essas mesmas elites que, uma vez no poder, o PT, e, especialmente, Lula, se dedicaram a bajular, dando a elas licença para roubar a Nação (desde que pagassem uma propina).
O PT não superou, e há alguns anos retornou, à época daquele dístico, que propalou após a derrota de Lula, em 1989: “êta, povinho bunda!”.
Em sua nota, a presidenta do PT diz que Lula, ao “perdoar” os “golpistas”, não estava se referindo aos “partidos golpistas”, mas “à parcela da sociedade que apoiou o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff”.
Ou seja, segundo Hoffmann, Lula estava “perdoando” o povo que queria se livrar do estrupício que ele colocou na Presidência da República.
Portanto, sabemos agora – e oficialmente, por sua presidenta – que o PT e Lula consideram que golpista é o povo. Por isso, Lula o “perdoou”. Como acontece há algum tempo, Lula confundiu Cristo com os ladrões ao lado dos quais foi crucificado.
Mas, pelo menos, o bom ladrão se arrependeu. Lula não tem essa grandeza. Mais parece com o outro ladrão.
A culpa, seja lá do que for, nunca é de Lula e do PT – é sempre do povo.
Tudo isso seria perfeitamente ridículo, se a versão da presidenta do PT tivesse alguma coisa a ver com a realidade. Embora, não seria novidade ver Lula encenando o papel, como disse Leonel Brizola, de imperador de fancaria.
Mas, resumamos outra vez a versão oficial do PT: o sujeito coloca Dilma e Temer no poder (ou será que fomos nós que aceitamos duas vezes esse bandido para vice-presidente de Dilma?) – e depois ainda “perdoa” o povo por não se submeter…
Voltemos, então, ao terreno da realidade.
A aliança entre o PT e o PMDB é um acordo entre ladrões para fugir das Leis e da Justiça – e servir ao que existe de pior, dentro e fora do país, prometendo a esses seus donos o escalpo do povo.
É só isso e nada mais – e, como tal, é uma aliança entre condenados à morte política.
Que eles pensem que, com esse acordo, irão sobreviver, explica-se apenas porque projetam no povo a sua própria imbecilidade e corrupção.
CARLOS LOPES