General Carlos José Russo Assumpção Penteado, indicado para o cargo por Augusto Heleno, apologista do golpe de Estado, não cumpriu ordem de montar Operação Escudo e criou narrativa para culpar G. Dias na CPI do DF
O ex-secretário executivo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República, general bolsonarista Carlos José Russo Assumpção Penteado, indicado para o cargo por Augusto Heleno, apologista do golpe de Estado, acusou o general Gonçalves Dias de não ter se preparado para defender o Planalto.
A afirmação foi feita nesta segunda-feira (4), na CPI dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ele disse que o ex-ministro Gonçalves Dias, não repassou aos demais responsáveis os alertas que recebeu da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sobre o risco de invasão de prédios públicos durante os atos do 8 de Janeiro.
A versão do general Penteado é a mesma dos bolsonaristas que tentaram dar o golpe e, quando este fracassou, inventaram uma narrativa fantasiosa de que os culpados pela depredação dos Três Poderes eram integrantes do próprio governo Lula.
Em seu depoimento à CPMI do golpe há uma semana, o general Gonçalves Dias afirmou que a Operação Escudo, de proteção do Planalto, que tinha sido acionada por ele dois dias antes do ato, foi sabotada pelo general Penteado. G. Dias reconheceu, em seu depoimento, que errou ao não substituir Penteado com mais rapidez. Ele achou que o militar iria se comportar à altura da Instituição, mas estava errado.
Penteado não respeitou a verdade ao dizer aos parlamentares do DF que nem mesmo ele, que ocupava o 2º cargo mais importante na hierarquia do GSI, a convite de Augusto Heleno – e ainda mantido por G. Dias -, teve conhecimento dos alertas. Segundo o general, a falta de informações completas sobre a conjuntura e os riscos reais da ação de vândalos comprometeu o esquema de segurança montado na ocasião.
Tanto eles sabiam dos riscos, que a Operação Escudo, de defesa do Planalto, estava acionada desde a sexta-feira (6). A sabotagem à sua execução, assim como os bloqueios de estradas e os atos fascistas em frente aos quarteis, faziam parte dos planos golpistas que culminaram no 8 de janeiro.
Quando foi cobrado pelo general Gonçalves Dias o motivo da não colocação das barreiras previstas na Operação Escudo, o militar bolsonarista não soube responder. G. Dias cobrou duramente, mas já era tarde.
Penteado seguiu faltando com a verdade e afirmou que “todas as ações conduzidas pelo GSI no 8 de Janeiro estão diretamente relacionadas à retenção, pelo ministro Gonçalves Dias, dos alertas produzidos pela Abin, que não foram disponibilizados oportunamente para que fossem acionados todos os meios do Plano Escudo”.
“Nesse ponto é necessário destacar que se a Coordenação de Análise de Risco, responsável pela elaboração da matriz de criticidade, tivesse tido acesso ao teor dos alertas que o [então] diretor da Abin Saulo Moura [da Cunha] encaminhou ao ex-ministro Gonçalves Dias, as ações previstas no Plano Escudo teriam impedido a invasão do Palácio do Planalto”, afirmou o general.
A mentira de Penteado é evidente, afinal a Operação Escudo já tinha sido acionada. Ele, que era o responsável por sua operacionalização, não a acionou. Com isso, o Planalto ficou vulnerável à invasão de depredação patrocinadas pelos apoiadores de Bolsonaro.
No início de agosto, o próprio ex-diretor da Abin Saulo Moura da Cunha declarou à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Congresso Nacional que a agência produziu 33 alertas de inteligência sobre os protestos contra a vitória eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Contudo, o próprio Cunha também assegurou aos membros da CPMI que, até 5 de janeiro, a Abin avaliava que os atos golpistas teriam pouca adesão.
Segundo o ex-diretor da Abin, a percepção só se alterou em 6 e 7 de janeiro, quando a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) relatou que um número de ônibus superior ao inicialmente esperado já havia chegado a Brasília. “Na tarde do dia 7 [de janeiro], os órgãos de segurança do GDF [governo do Distrito Federal] e alguns órgãos do governo federal já tinham ideia de que teríamos uma manifestação com grande número de pessoas”, disse Cunha, durante o depoimento do mês passado.
Segundo Gonçalves Dias, seu erro foi resultado da análise de “informações divergentes” que ele recebeu de “contatos diretos”. Entre esses contatos diretos estava o general Penteado. “Essas informações divergentes me foram passadas na manhã do dia 8 de janeiro e culminaram com minha decisão e iniciativa em ir pessoalmente ver como estava a situação no Palácio do Planalto”, afirmou o general. Ao chegar ao Planalto a primeira coisa que G. Dias fez foi cobrar de Penteado porque as barreiras da Operação Escudo não estavam montadas.
Em contradição com a decisão de acionar a Operação Escudo, tomada dias antes, Penteado disse que não sabia dos riscos. “Não recebi nenhum relatório, mensagem de WhatsApp ou contato telefônico alertando para a possibilidade de ações violentas na Praça dos Três Poderes”, disse, acrescentando que, como a posse do presidente Lula, em 1º de janeiro, ocorreu tranquilamente, “e, nos dias que antecederam o 8 de janeiro, havia notícias de esvaziamento dos acampamentos [montados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília], a expectativa era de retorno à vida rotineira de Brasília”.
“Só por volta das 14h50 [do dia 8], fui informado pelo [então] secretário de Segurança e Coordenação Presidencial de que os manifestantes haviam rompido a barreira policial. Enquanto me dirigia ao Palácio, dei ciência ao ministro [Gonçalves Dias] de que estava a caminho [do Palácio do Planalto] para acompanhar a situação. Sugeri que ele não fosse [para o local]. Além de querer protegê-lo fisicamente, entendia que, pelo seu cargo, não seria conveniente sua presença no local”, afirmou Penteado. Só não explicou a ninguém porque não montou as barreiras de proteção do Palácio, previstas na operação.