
Durante a conversa telefônica com Trump, o presidente russo ressaltou a necessidade de abertura de negociações para resolver o conflito que, como a Rússia tem esclarecido, tem por base a expansão a leste da Otan e o ataque às minorias étnicas de origem russa no Donbass pelo regime de Kiev instaurado por um golpe da CIA
O presidente dos EUA, Donald Trump, conversou por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na quarta-feira (12) sinalizando a abertura de negociações sobre a guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia em curso, que já dura três anos.
Em paralelo, com gestos de boa vontade, Moscou libertou um cidadão norte-americano condenado por porte de droga e Washington fará o mesmo a um russo acusado de lavar dinheiro na internet. Também a Bielorrússia soltou um preso norte-americano. Um enviado de Trump, Steve Witkoff, foi a Moscou buscar Mark Vogell em seu jatinho executivo.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, revelou que no telefonema Trump “pediu um fim rápido às hostilidades e uma resolução pacífica para o problema”, enquanto Putin, por sua vez, “mencionou a necessidade de abordar as causas profundas do conflito”. O líder russo concordou com Trump que “um acordo de longo prazo poderia ser alcançado por meio de negociações pacíficas”.
Peskov acrescentou que o presidente russo “também apoiou uma das principais teses do chefe de Estado americano de que chegou a hora de nossos países trabalharem juntos”. Também foram abordados tópicos da solução do Oriente Médio, o programa nuclear iraniano, bem como as relações bilaterais russo-americanas na esfera econômica.
Ainda segundo Kremlin.ru: “Vladimir Putin e Donald Trump concordaram em continuar os contatos pessoais, incluindo a organização de reuniões pessoais.”
Através de sua conta na rede Truth Social, Trump considerou a conversa telefônica como “altamente produtiva”. “Falamos sobre a Ucrânia, o Oriente Médio, energia, inteligência artificial, o poder do dólar e outras questões”, ele escreveu.
“Também concordamos que as nossas respectivas equipes iniciarão as negociações imediatamente”, ele registrou.
“Nós dois refletimos sobre a grande história de nossas nações e o fato de termos lutados juntos com tanto sucesso na Segunda Guerra Mundial, lembrando que a Rússia perdeu dezenas de milhões de pessoas e nós perdemos muitas”, declarou também Trump.
Falando aos repórteres na Casa Branca, Trump disse estar ciente da declaração do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, em Bruxelas, na qual considerou a eventual adesão da Ucrânia à OTAN como “improvável ou impraticável”.
“Acho que isso provavelmente é verdade”, disse Trump. Ele também disse que o presidente russo Vladimir Putin “não permitiria isso” e que a liderança russa tem expressado a mesma posição há anos.
A China felicitou as conversações de quarta-feira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o homólogo russo, Vladimir Putin. “A Rússia e os Estados Unidos são potências influentes e congratulamo-nos com o facto de estarem a reforçar o diálogo, que é a única forma de sair da crise”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Guo Jiakun, em conferência de imprensa.
“Desde o início, o Presidente chinês, Xi Jinping, tem defendido conversações de paz”, acrescentou o porta-voz. Ele acrescentou que a China “continuará a esforçar-se” pela paz e desempenhará “um papel construtivo” na resolução da guerra.
Trump também conversou com o chefe do regime de Kiev, Volodymir Zelensky, para o pôr a par das discussões com Putin.
Na semana passada, Trump havia exigido de Zelensky as reservas minerais de terras raras no valor de meio trilhão de dólares, como compensação pelo dinheiro gasto por Washington na aventura na Ucrânia, com a concordância do vassalo. O único senão é que as terras raras são no Donbass, que levantou contra o regime neonazi e depois em referendo se reunificou com a Rússia.
No front, a situação das tropas a soldo da Otan é desesperadora, com os russos tendo libertado Dzerzhinsky na semana passada, e com o cerco se fechando sobre Pokrovsk, o que abre o caminho para Slavyansk e Kramatorsk, derradeiros redutos, e para que as forças russas cheguem ao rio Dnieper.
Desde julho do ano passado, então às vésperas de uma ‘conferência de paz’ pró-Kiev, que fracassou redondamente, Putin havia reiterado as condições russas para o fim dos combates. Uma Ucrânia neutra, não nuclear e sem bases estrangeiras, desmilitarizada e desnazificada. Respeito aos direitos da minoria russa ao seu próprio idioma e religião, assim como das demais minorias ucranianas. Reconhecimento da Crimeia, Donbass (Donetsk e Lugansk), Kherson e Zaporizhia como território russo. Revogação de todas as sanções contra a Rússia.
O telefonema de Trump para Putin foi às vésperas da Conferência de Segurança de Munique, onde em 2007 o líder russo fez seu célebre discurso contra a expansão da Otan a leste e contra a pretensão do então governo W.Bush de anexar a Ucrânia e a Geórgia à Otan.
Quadro que se agravou em 2014, com o golpe de Estado da CIA que instaurou em Kiev o regime neonazi e pró-Otan, que levou a população etnicamente russa do leste do país, terra milenar russa, a se levantar contra o esbulho. Os acordos de Minsk foram uma tentativa de resolver a questão, mas foram sabotados pelos EUA e subalternos, enquanto o país na prática era anexado pela Otan.
Com a retirada dos EUA do Tratado de Proibição dos Mísseis Intermediários (assinado em 1987 por Reagan e Gorbachev) em 2019 no primeiro mandato de Trump, a questão da anexação da Ucrânia pela Otan simplesmente se tornava explosiva, já que implicariam em mísseis capazes de atingir Moscou e São Petersburgo em minutos.
A Rússia apresentou aos EUA e à Otan uma proposta de acordo para restauração da segurança na Europa, com a volta dos sistemas de armas às posições de 1997, ano da assinatura do acordo Rússia-Otan, mas foi ignorado. A Rússia interveio em fevereiro de 2022, na iminência de uma limpeza étnica contra russos no Donbass e após o regime de Kiev rasgar os acordos Minsk-1 e 2 de pacificação.
Em abril de 2022, em negociações em Istambul, na Turquia, Moscou e Kiev chegaram a concordar com um tratado para manter a Ucrânia neutra e fora da Otan, cujo esboço foi rubricado pelas partes, mas então os EUA enviaram o primeiro-ministro britânico Boris Johnson com a ordem de rasgar tudo e manter a guerra.
Em paralelo à guerra, os EUA e os vassalos europeus desfecharam contra a Rússia a maior campanha de sanções já feita contra qualquer país, acreditando que iriam quebrar sua economia e derrubar Putin, mas o tiro saiu pela culatra.