O presidente Vladimir Putin determinou na segunda-feira (21) o envio de uma força de paz ao Donbass e anunciou o reconhecimento das repúblicas antifascistas de Donetsk e Lugansk.
“A Rússia reconhecerá a independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk”, afirmou Putin.
A decisão foi tomada após reunião de emergência do Conselho de Segurança da Rússia e depois da aprovação, pelo parlamento, na semana passada, de pedido ao presidente de reconhecimento imediato das repúblicas do Donbass, contra as quais, como alertou Putin, o atual regime na Ucrânia planeja “desencadear uma guerra contra russos no Donbass”.
O desfecho se segue a sete anos de tentativas frustradas de solução da crise na região através dos Acordos de Minsk, que concederiam autonomia, anistia, eleições e direito ao uso da língua russa, mas cujo cumprimento foi ostensivamente sabotado por Kiev até hoje e, inclusive, aprovou leis contrárias ao estabelecido nos acordos.
Previamente, Putin comunicou aos co-garantidores de Minsk, a França e a Alemanha, sua decisão. Segundo o Kremlin, os líderes franceses e alemães expressaram ‘decepção’.
Na sexta-feira, em um indício de por onde tendia a ir, Putin, em reunião com o presidente bielorrusso Lukashenko, havia observado que, de qualquer forma, os EUA e seus subordinados vão arranjar um pretexto para decretar sanções, e vamos em frente.
Nos últimos dias, as forças de Kiev, rearmadas e aconselhadas por Washington, mandaram às favas o cessar-fogo e, depois de manterem por meses 150 mil soldados na linha de contato, metade do exército ucraniano, mais batalhões de choque neonazis, iniciaram bombardeios e provocações, que levaram as lideranças das duas repúblicas populares a procederem à evacuação de mulheres, crianças e idosos para regiões vizinhas da Rússia.
Só no sábado, foram mais de 1500 violações do cessar-fogo. Mais de 63 mil civis já se tornaram refugiados na Rússia.
Os líderes das duas repúblicas do Donbass, Denis Pushilin (Donetsk) e Leonid Pasechnik (Lugansk), pediram formalmente a Putin que reconhecesse seu status de nações independentes.
GOLPE CIA-NEONAZIS DE MAIDAN
Foi o golpe CIA-neonazis em fevereiro de 2014 em Kiev, que deu origem a um regime que perseguia falantes de russo e oposicionistas em geral, e que abraçou a meta de criar uma nova “Ucrânia da Otan”, tendo como patronos colaboracionistas da ocupação hitlerista, o que gerou os levantes no leste e no sul da Ucrânia e levou ao referendo na Crimeia pela reunificação com a Rússia. O Partido Comunista foi banido na Ucrânia e seus deputados, cassados.
No relato do premiado cineasta e jornalista, John Pilger: “Supervisionadas pelo diretor da CIA John Brennan em Kiev, ‘unidades especiais de segurança’ coordenaram ataques selvagens contra o povo de Donbass, que se opôs ao golpe. Vídeos e relatos de testemunhas oculares mostram bandidos fascistas ateando fogo à sede da federação sindical na cidade de Odessa e matando 41 pessoas presas no seu interior. A polícia estava a postos. Obama felicitou o regime golpista ‘devidamente eleito’ pela sua ‘notável contenção’”.
A resposta do novo regime tentando esmagar pela força os protestos contra a nazificação da Ucrânia levaram à formação de unidades de autodefesa para proteger suas casas e famílias. O que culminou com a proclamação das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk em maio de 2014.
Nas regiões leste e sul, incluindo Kharkov, Nikolayev e Odessa, manifestantes anti-Kiev e pró-independência foram sistematicamente presos, assassinados e desaparecidos.
Entre maio de 2014 e fevereiro de 2015, a tentativa do regime de Kiev de esmagar a rebelião pela força causou a morte de pelo menos 13 mil pessoas e mais milhares ficaram feridas. Mais de um milhão de pessoas buscou refúgio na Rússia.
MARCHA DE TOCHAS EM KIEV
Um portal russo lembrou que em 2019, uma tentativa do então recém-eleito presidente Zelensky foi abortada depois que dezenas de milhares de manifestantes, incluindo veteranos da guerra do Donbass e milícias de extrema direita, se reuniram em Kiev e “ameaçaram derrubar seu governo”. Ele havia sido eleito sob a promessa, que traiu, de trazer a paz, mas já aprendeu a recitar de cor o catecismo fascista.
Assim, tanto Zelensky, como seu antecessor, o magnata do chocolate, Poroshenko, se recusaram a aplicar de fato os compromissos assinados em Minsk e, na conferência de Segurança de Munique no fim de semana, o atual presidente insistiu em um “calendário” para ingresso na Otan e até ameaçou retomar o “status nuclear”.
Já seu ministro das Relações Exteriores dizia que não ia cumprir “as cláusulas russas” dos Acordos de Minsk, “arrancadas sob cano de arma”.
Esse tipo de declaração era abanada diretamente desde a Casa Branca, com Biden praticamente exigindo uma “guerra na Ucrânia” para “poder fechar o Nord Stream 2”, depois de marcar e remarcar várias vezes a “invasão russa”.
“LAÇOS HISTÓRICOS, DE SANGUE E DE CAMARADAGEM”
Em seu discurso, dirigindo-se ao povo russo e, ainda, aos compatriotas ucranianos, Putin assinalou que “a situação no Donbass adquiriu novamente um caráter crítico e agudo”. Ele lembrou que a “Ucrânia não é apenas um vizinho nosso, mas uma parte inerente de nossa história, cultura e espaço espiritual. Eles são nossos camaradas… nossa família, pessoas com as quais temos laços de sangue e familiares”.
Putin também fez uma síntese do processo de gênese da “Ucrânia moderna” que, para ele, sempre se deu às custas das terras russas históricas, inclusive o Donbass e a Crimeia, às quais se acrescentaram, após a II Guerra, territórios ex-alemães, ex-poloneses e ex-romenos.
Ele observou que a corrupção corroeu o Estado ucraniano e os supremacistas tiraram vantagem disso em 2014, com a ajuda dos EUA. Os radicais que tomaram o poder na Ucrânia “organizaram terrorismo, pessoas foram brutalmente assassinadas em Odessa, faremos de tudo para punir esses criminosos”, acrescentou Putin.
O novo regime, salientou Putin, um poder que perdeu seu caráter nacional e “levou à dessoberanização do país”. “A língua russa está sendo removida de todas as esferas públicas na Ucrânia. Não há tribunal independente na Ucrânia”, acrescentou. A Ucrânia está dividida, e “passando por crise econômica aguda”.
SEGURANÇA COLETIVA
O presidente russo enfatizou que, ao tomar esse novo curso, a Rússia deixa claro que “nunca sacrificará sua soberania, interesses e valores nacionais”.
Putin apontou que as propostas da Rússia sobre garantias de segurança foram rejeitadas de imediato, acrescentando que a “implantação de algumas armas dos EUA na Ucrânia significará que eles colocarão a faca na garganta da Rússia”. “Se a OTAN implantar radares na Ucrânia, eles poderão controlar o território russo”.
Kiev tem um longo curso proclamado em direção à OTAN, mas há um princípio nos documentos internacionais de não fortalecer a segurança às custas dos outros, salientou Putin. “A adesão da Ucrânia à Otan não agora, mas pouco depois, não muda nada para a Rússia”.
Putin assinalou que os EUA usaram a Ucrânia e a Geórgia para realizar uma política anti-russa. “A Constituição da Ucrânia não permite bases militares estrangeiras, mas eles a ignoraram, eles chamam a base da Otan de missão”. Ele apontou ainda “armas ocidentais chegando à Ucrânia em fluxo incessante, conselheiros estrangeiros encarregados da situação”.
O presidente russo disse, ainda, que Rússia ofereceu consistentemente cooperação à Otan em vários formatos e que Moscou cumpriu todas as obrigações com o Ocidente. “A Rússia recebeu cinco ondas de expansão da Otan, fomos simplesmente enganados”, destacou.
Após a decisão da Rússia, os Estados Unidos e outros subalternos anunciaram que vão desencadear uma torrente de sanções, o que já era esperado por Moscou.