“Fidel é um dos líderes mais brilhantes e carismáticos do turbulento e dramático século XX, uma figura verdadeiramente lendária, símbolo de uma época de movimentos de libertação nacional, do colapso do sistema colonial e da criação de novos Estados independentes latino-americanos e africanos”, afirmou Putin, no momento em que ele e o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, inauguraram um monumento ao falecido líder cubano, Fidel Castro, na terça-feira (22) em Moscou.
A imagem do comandante cubano, ressaltou, sempre simbolizou “força, energia e vontade inabalável”, declarou ainda Putin em pronunciamento que reproduzimos abaixo, no qual, como declarou o ex-embaixador da Índia na Rússia, M. K. Bhadrakumar, o presidente da Rússia “invoca o legado de Fidel”.
O monumento de bronze, com três metros de altura e criado ao longo de seis meses, foi inaugurado na praça que já leva o nome de Fidel, e representa o comandante em uniforme militar com sua boina tradicional, de pé sobre um bloco de pedra com o mapa de Cuba.
Putin fez questão de ressaltar o papel do “destacado estadista e político, fundador do moderno Estado cubano”, que teve toda a sua vida dedicada à “luta abnegada pelo triunfo das ideias do bem, da paz e da justiça, pela liberdade dos povos oprimidos, por uma vida digna para as pessoas comuns e pela igualdade social”.
Díaz-Canel agradeceu a demonstração de solidariedade e compromisso entre os dois povos. Para o presidente cubano, Fidel entendeu muito bem “os laços fraternos que uniram ambas as nações”, além de “admirar a grandeza do povo soviético durante a Grande Guerra Patriótica (1941-1945), seu humanismo e a capacidade de sacrifício para salvar a humanidade do fascismo”.
O presidente cubano foi direto ao ponto e disse a Putin: “Agradecemos todo o trabalho que a Federação Russa está fazendo para garantir que o mundo se mova em direção à multipolaridade e progrida nessa direção. Nesse sentido, você tem uma liderança séria. Rússia e Cuba foram submetidas a sanções unilaterais injustas e têm um inimigo comum, uma fonte comum que é o império ianque, que manipula grande parte da humanidade… E nosso primeiro compromisso é continuar defendendo a posição da Federação Russa neste conflito que, acreditamos, tem sua origem, infelizmente, no fato de que os Estados Unidos estão manipulando a comunidade internacional… Agradecemos todos os esforços da Federação Russa e seu papel em orientar o mundo para a multipolaridade, em incentivá-lo a se mover neste direção. Nesse sentido, você tem um papel de liderança muito forte.”
Além da presença de Putin na cerimônia solene, Díaz-Canel parabenizou a presença de “membros da Sociedade Geográfica Russa, da Duma da Cidade de Moscou e, especialmente, do escultor Alexei Chebanenko”.
Íntegra do discurso do presidente Vladimir Putin na inauguração do monumento a Fidel:
Querido senhor presidente Miguel Díaz-Canel,
Queridos convidados cubanos, moscovitas e amigos:
Nos reunimos aqui, na praça que leva o nome de Fidel Castro, para inaugurar o monumento a este destacado estadista e político fundador do moderno Estado cubano.
Fidel Castro dedicou toda a sua vida a lutar pelos ideais do bem, da paz e da justiça, pela liberdade dos povos oprimidos, por uma vida digna para as pessoas comuns e pela igualdade social.
É um dos líderes mais brilhantes e carismáticos do turbulento e dramático século XX, uma figura verdadeiramente lendária, símbolo de uma época de movimentos de libertação nacional, do colapso do sistema colonial e da criação de novos Estados independentes latino-americanos e africanos.
Fidel e seus companheiros de armas sempre defenderam abnegadamente a soberania de sua pátria; não se deixaram esmagar pela intervenção mercenária, sanções, embargos financeiros e econômicos ou tentativas de isolamento externo; defenderam o direito de Cuba de ter o seu próprio modelo de desenvolvimento baseado em valores nacionais e não impostos desde o estrangeiro, fazendo com que o mundo considere e respeite os seus interesses.
Por gerações de nossos compatriotas, a imagem do comandante sempre esteve ligada à glória romântica, à coragem e ao triunfo. A letra da famosa canção soviética “Cuba, meu amor!” refletiu nossos sentimentos sinceros e entusiásticos, não só para com a Ilha da Liberdade e todo o povo cubano, mas também diretamente com Fidel, cuja força, energia e vontade inabalável nos atraíram e continuam a nos atrair como um imã.
Queridos amigos, tive a sorte de encontrar Fidel Castro em várias ocasiões, e me recordo das conversações de horas com ele, especialmente nosso último diálogo em julho de 2014.
Falou de coisas notavelmente sintonizadas com os tempos, o tempo da emergência de uma ordem mundial multipolar: que a independência e a dignidade não se negociam, que cada nação tem o direito de se desenvolver livremente, de escolher o seu próprio caminho e que em um mundo verdadeiramente justo não há lugar para ditames, saques e neocolonialismo. Ele era um homem de conhecimento enciclopédico, um homem com profundo conhecimento dos acontecimentos, um homem com uma mente aguçada, um homem de precisão.
Fidel era um amigo incondicional do nosso país, nos visitava com frequência e, em 1963, viajou praticamente por toda a União Soviética. Ele sempre foi um convidado bem-vindo a Moscou e amava nossa capital, amava muito. Como o próprio Fidel disse, ele estava pronto para vir à Rússia a qualquer momento: verão e inverno, com ou sem neve.
Nosso país tem apoiado incondicionalmente o povo cubano amante da liberdade e aos dirigentes da república. E sabemos que é um apoio mútuo. Cuba foi, é e estou certo de que sempre será nossa parceira estratégica constante, uma aliada nos assuntos mundiais.
Queridos amigos,
A amizade russo-cubana que Fidel Castro nos legou é propriedade comum de nossos povos. E você, senhor presidente, que representa a nova geração de dirigentes cubanos, dá uma enorme contribuição ao desenvolvimento das relações de amizade e confiança entre nossos países.
Juntos, continuaremos fortalecendo nossa união e juntos defenderemos os grandes valores da liberdade, igualdade e justiça.