
O presidente Vladimir Putin propôs na noite de sábado (10) a retomada de “negociações diretas e sem quaisquer pré-condições” entre a Rússia e a Ucrânia na próxima quinta-feira, 15 de maio, em Istambul, onde ocorreram as negociações de 2022, abandonadas por Kiev.
Putin reiterou que a Rússia jamais abandonou o diálogo com o lado ucraniano e que quem se retirou das negociações foi Kiev. “Propusemos repetidamente medidas de cessar-fogo e nunca rejeitamos o diálogo com o lado ucraniano. Não fomos nós que interrompemos as negociações em 2022, mas o lado ucraniano. A esse respeito, apesar de tudo, propomos que as autoridades de Kiev retomem as negociações que interromperam no final de 2022”.
“Propomos começar sem demora na próxima quinta-feira, 15 de maio, em Istambul, onde ocorreram antes e onde foram interrompidos. Como se sabe, os colegas turcos têm repetidamente oferecido seus serviços para organizar tais negociações, e o presidente Erdogan tem feito muito para organizá-las. Permitam-me lembrar que, como resultado dessas negociações, um rascunho conjunto de documento foi preparado e rubricado pelo chefe do grupo de negociação de Kiev, mas, por insistência do Ocidente, foi simplesmente jogado no lixo”.
JANELA DE OPORTUNIDADE
O presidente russo enfatizou que “aqueles que realmente querem a paz” não poderiam deixar de apoiar essa proposta de retomada das negociações em Istambul.
Em telefonema no domingo, o presidente turco Recep Erdogan manifestou sua concordância com a proposta de Putin, que classificou de “uma janela de oportunidade”.
De acordo com o gabinete do presidente turco, “Erdogan disse ao presidente Putin que recebeu bem o anúncio do presidente russo de que as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia serão retomadas em Istambul, e que a Turquia está pronta para sediar negociações que levem a uma solução duradoura”.
“Estamos comprometidos com negociações sérias com a Ucrânia”, repetiu Putin. “O objetivo delas é eliminar as causas profundas do conflito e estabelecer uma paz duradoura e de longo prazo, numa perspectiva histórica. Não descartamos que durante essas negociações seja possível concordar com algumas novas tréguas, um novo cessar-fogo. Além disso, um verdadeiro cessar-fogo, que seria observado não apenas pela Rússia, mas também pelo lado ucraniano, seria o primeiro passo, repito, em direção a uma paz sustentável e de longo prazo, e não um prólogo para a continuação do conflito armado após o rearmamento, o reforço das Forças Armadas Ucranianas e a escavação febril de trincheiras e novas fortalezas. Quem precisa de uma paz assim?”
“Nossa proposta, como dizem, está na mesa”, acrescentou o presidente russo. “A decisão cabe agora às autoridades ucranianas e aos seus curadores, que, guiados, ao que parece, pelas suas ambições políticas pessoais, e não pelos interesses de seus povos, querem continuar a guerra com a Rússia através das mãos dos nacionalistas ucranianos.”
“Repito: a Rússia está pronta para negociações sem quaisquer pré-condições”, disse Putin. “Há ações militares em andamento agora, uma guerra, e estamos propondo retomar as negociações que não foram interrompidas por nós. Bom, o que há de errado nisso?! Aqueles que realmente querem a paz não podem deixar de apoiar isso”.
POODLES EM KIEV
Horas antes, um petit comitê de poodles belicistas europeus, mais conhecidos pelo ardor com que costumavam abanar a cauda diante de Washington, haviam desde Kiev apresentado, um ‘ultimato’ sobre um cessar-fogo a partir de segunda-feira (12), ou então sanções choveriam contra a Rússia, e armas e dinheiro para Kiev. Teatro levado a cabo por Sir Keir Starmer, Monsieur Emmanuel Macron e o quase não-primeiro-ministro, Herr Friedrich Merz, com o presidente de validade vencida, Volodymyr Zelensky, a tiracolo. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, também apareceu na foto.
A encenação fez com que Putin se estendesse um pouco mais sobre quem é que viola tréguas. Ele apontou que o regime de Kiev não respondeu à proposta de cessar-fogo do dia 9 e desencadeou uma onda de ataques, inclusive cinco tentativas direcionadas de ataque à fronteira do Estado da Federação Russa na região de Kursk e na junção com a região de Belgorod. Ele acrescentou que, na opinião dos especialistas militares russos, essas operações não tiveram significado militar, foram realizados apenas por motivos políticos, e o inimigo sofreu perdas muito pesadas.
Putin observou que “a trégua da Páscoa iniciada pela Rússia também não foi respeitada: o cessar-fogo foi violado pelas forças ucranianas quase cinco mil vezes. No entanto, no Dia da Vitória, que também consideramos um feriado sagrado para nós… Você pode imaginar, tivemos 27 milhões de perdas… Neste feriado sagrado para nós, declaramos uma trégua pela terceira vez”. O mesmo quando da “trégua energética” de 30 dias decretada por sugestão de Trump, respeitada pela Rússia e ignorada por Kiev.
“As autoridades de Kiev não apenas rejeitaram nossa proposta de cessar-fogo, mas também, como todos vimos, tentaram intimidar os líderes dos Estados reunidos para as celebrações em Moscou”, destacou Putin. “Sabem, caros colegas, quando me encontrei com colegas aqui em Moscou (primeiro com Aleksandar Vucic e Robert Fico), tive o seguinte pensamento. Quem eles tentaram intimidar daqueles que foram a Moscou para celebrar a Vitória sobre a Alemanha nazista?! Afinal, aqueles que chegaram até nós são líderes não por posição oficial, não por cargo, são líderes por caráter, por suas convicções e por sua prontidão para defender suas convicções! E quem tentou intimidá-los? Aqueles que ficam em posição de sentido na frente, saúdam e aplaudem ex-soldados da SS? E elevam à categoria de heróis nacionais aqueles que colaboraram com Hitler durante a Segunda Guerra Mundial?!”.
Após o presidente Trump ter escrito, sobre a proposta de Putin, que a Ucrânia deveria concordar “imediatamente” em se reunir com representantes russos em Istambul, Zelensky postou em sua conta no Telegram que aguardará pessoalmente Putin em Istambul em 15 de maio, mas reiterou a exigência de um “cessar-fogo completo”.
“Pelo menos eles serão capazes de determinar se um acordo é possível ou não e, se não for, os líderes europeus e os EUA saberão em que pé está tudo e poderão proceder de acordo!”, havia registrado Trump. Anteriormente, Yuri Ushakov, conselheiro presidencial russo, revelou que o Kremlin anunciaria nos próximos dias quem lideraria a delegação russa nas negociações em Istambul.
A CONFISSÃO DE ARAKHAMIA
Em abril de 2022, Rússia e Ucrânia chegaram ao esboço de um acordo para término do conflito, tendo como centro a neutralidade da Ucrânia e não-ingresso na Otan e o estabelecimento de garantias, o que foi inclusive admitido publicamente pelo principal negociador ucraniano David Arakhamia.
Há meses, o esboço, assinado pelas delegações ucraniana e russa, foi mostrado por Putin a líderes africanos em visita a Moscou.
Mais recentemente, Arakhamia revelou o que fez com que o acordo obtido fosse rasgado: a ida a Kiev do então primeiro-ministro britânico Boris Johnson, com a instrução [do governo Biden] de prosseguir com a guerra, que o Ocidente ia arrasar a Rússia com as sanções e garantir armas e dinheiro.
Em suma, as centenas de milhares de soldados ucranianos que morreram na guerra não precisavam ter morrido e a guerra poderia ser evitada simplesmente pela restauração da neutralidade estabelecida na constituição ucraniana desde 1991 e pelo respeito aos direitos dos russos étnicos.
O que também foi confirmado por artigo da revista norte-americana Foreign Affairs, muito ligada à agenda do Departamento de Estado: foi a intervenção de autoridades ocidentais, como o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson, e o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que levaram a Ucrânia a desistir do processo de paz e apostar na escalada do conflito.
“Então, ao invés de receber o Comunicado de Istambul e subsequente processo diplomático, o Ocidente aumentou a ajuda militar para Kiev e a pressão sobre a Rússia, incluindo pela imposição de regime de sanções cada vez mais fortes”, escrevem os autores na Foreign Affairs.
De fato, durante entrevista à emissora ucraniana, o chefe da delegação de Kiev, David Arakhamia, relatou que “após o nosso retorno de Istambul, Boris Johnson visitou Kiev e disse que nós não deveríamos assinar nada com os russos e [disse] ‘vamos só continuar lutando'”.