Em reunião com o Conselho de Defesa russo, o presidente Vladimir Putin advertiu que a saída unilateral de Washington do Tratado de Proibição dos Mísseis Nucleares Intermediários INF, em vigor desde 1987, “enfraquecerá visivelmente a segurança regional e global” e, no longo prazo, poderá até mesmo levar “à degradação e até o colapso de toda a arquitetura de controle de armas e não-proliferação”.
Ainda segundo Putin, a Rússia, que já dominou a tecnologia dos mísseis hipersônicos, que ninguém mais tem, e está dotada de mísseis aéreos e marítimos intermediários, que não foram banidos no tratado, não teria dificuldade de desenvolver variantes para disparo desde o solo.
“Se acontecer alguma coisa com que estejam tentando nos assustar, bem, teremos que responder de acordo”, apontou Putin. “Como temos esses sistemas aéreos e marítimos, provavelmente não será difícil realizar pesquisa e desenvolvimento apropriados e colocá-los no terreno, se necessário”, acrescentou.
Após anunciar de súbito, em outubro, a retirada do INF, Washington passou a tentar jogar a culpa sobre a Rússia, com um “ultimato de 60 dias” para que esta “cumprisse com o tratado” – quando são os EUA que o violam, tanto com os lançadores Mk-41 implantados na Romênia e Polônia (de uso duplo, disparando antimíssil e Tomahawks, estes, clara violação do tratado, bastando alteração do software) como com os drones (veículos aéreos não-tripulados) que, sob a definição do INF, estão incluídos na proibição.
Putin assinalou também que, apesar da disparidade de orçamento militar entre os EUA e a Rússia (US$ 725 bilhões a US$ 46 bilhões), essas respostas serão executadas sem sobrecarga econômica e sem se deixar arrastar para uma corrida armamentista: o equilíbrio estratégico de forças será mantido.
(Naturalmente, tal disparidade seria incontornável, se não fosse que grande parte do gigantesco orçamento do Pentágono é gasto com 800 bases no exterior, um complexo industrial-militar insaciável em lucros e propinas – além de sangue, muito sangue -, guerras de bandido e projetos militares onde o céu – em matéria de custo – é o limite).
O líder russo também se manifestou sobre outra possibilidade, a extensão do Tratado INF a outros países, já que há uma dezena deles que desenvolveram mísseis terrestres de alcance intermediário. O que não viola a nada, já que o acordo INF só abrangia a então União Soviética, sucedida pela Federação Russa, e os EUA, e foi assinado para demover a ameaça de guerra nuclear no teatro europeu.
“Sim, é verdade, há certos problemas com este acordo – outros países que possuem mísseis intermediários e de curto alcance não fazem parte dele”, assinalou Putin. “O que está impedindo de iniciar conversas sobre eles se unindo ao atual acordo ou começando a discutir parâmetros para um novo acordo?”, questionou.
Putin notou, ainda, que, quando o Tratado INF foi assinado por Gorbachev em 1987, os EUA receberam “óbvias vantagens técnico-militares”, já que a eliminação não se aplicava aos Tomahawks, baseados em navios e submarinos. “Do ponto de vista da União Soviética, este foi um desarmamento unilateral… E os nossos parceiros continuaram a desenvolver armas de base marítima e aérea. O que então preocupou nossos parceiros? Aparentemente, o fato de que [agora] temos esses mísseis”, – disse Putin, acrescentando que falava dos mísseis aéreos de cruzeiro X-101/102, do complexo de uso marítimo Kalibr e do “Adaga” hipersônico. A produção do hipersônico Avanguard já começou, e o ICBM pesado Samart está na fase final de testes.
Em entrevista ao jornal Kommersant, o vice-chanceler russo Sergei Ryabkov disse que Washington confirmou por canais bilaterais de alto nível que sua decisão de se retirar do tratado INF de proibição de mísseis de alcance intermediário é “final” e acrescentou que Moscou “tomará as medidas necessárias” caso mísseis norte-americanos que ameacem sua segurança forem colocados na Europa.
Caso isso venha a ocorrer – a reinstalação na Europa de mísseis intermediários norte-americanos – “seremos forçados a propor medidas efetivas de compensação”, reiterou o diplomata russo. Ele alertou contra o agravamento da situação “até a erupção de nova crise de mísseis”. “Estou convencido de que nenhum país estaria interessado em algo assim”.