
“Agora a principal tarefa é fortalecer a nossa soberania e autossuficiência”, disse, em pronunciamento à Duma, o presidente do Partido Comunista da Federação da Rússia
Em discurso à Duma, o presidente do Partido Comunista da Federação da Rússia, Gennady Zyuganov, saudou os 25 anos desde a primeira eleição a presidente de Vladimir Putin, assinalando que “ele uniu o país desintegrado, lutou contra os terroristas e fez de tudo para formar programas e projetos nacionais”. A data transcorreu na quarta-feira, 26.
Agora, a principal tarefa que o presidente estabeleceu em sua mensagem foi “fortalecer nossa soberania e autossuficiência”, destacou o líder comunista. Para nosso crédito – ele acrescentou -, “conseguimos lidar com essas tarefas juntos”.
“Criou-se o Estado da União da Rússia e da Bielorrússia, que tem grandes perspectivas. E o fato de que o BRICS e a SCO [Organização de Cooperação de Shangai] foram criados, considero uma invenção brilhante de Putin e do Presidente da República Popular da China, Xi Jinping.”
Dirigindo-se ao primeiro-ministro Mikhail Mishustin, Zyuganov apontou que este, trabalhando em condições extraordinárias, conseguiu dar conta das tarefas essenciais. “Em primeiro lugar, superou as consequências da Covid em dois anos. E alcançou taxas de crescimento econômico de 4%, maiores que a média global.”
Agora – ele acrescentou – a tarefa é “fortalecer essas posições. E estamos prontos para oferecer nosso programa”.
“Hoje não devemos nos limitar a ouvir o relatório do governo. É preciso olhar para o futuro. Porque um novo mundo está se formando diante de nossos olhos, um mundo que exige abordagens fundamentalmente diferentes”, enfatizou.
“A guerra clareou a mente de muitos, estourou seus ouvidos e abriu seus olhos. E, a esse respeito, devemos entender que o Ocidente não é um parceiro. Porque eles declararam guerra contra nós. E não devemos nos tornar seus clientes novamente. Portanto, quaisquer novos acordos com eles devem ser baseados no fato de que monitoraremos sua conformidade e o processo de sua implementação”, apontou Zyuganov.
Para ele, todas as declarações recentes do presidente Putin sobre este assunto são “absolutamente justificadas”.
“É muito importante lembrar do que, em princípio, não podemos viver sem, o que a guerra demonstrou plenamente. Não podemos viver sem um exército forte, bem organizado e treinado e um poderoso complexo militar-industrial”, disse o líder comunista, acrescentando que as capacidades militares russas foram “fortalecidas aproximadamente três vezes”.
ZIUGANOV REJEITA “TAXAS DE JUROS SUFOCANTES”
Mas – observou o veterano dirigente – “dois terços dos diretores do complexo militar-industrial dizem que estão sendo sufocados pela taxa de juro. E com tal política financeira a situação só vai piorar.”
Zyuganov destacou a seguir que “não podemos viver sem segurança alimentar”. No ano passado, ele observou, “tivemos uma ótima colheita. Mas, infelizmente, em nenhuma loja, em nenhuma delas, o pão ficou um único copeque mais barato”.
O veterano deputado salientou o projeto de lei apresentado pelos comunistas para regular os preços de bens essenciais, moradia e serviços comunitários, além de medicamentos. “Gostaria de me dirigir ao primeiro-ministro: Mikhail Vladimirovich, esta lei já deveria ter sido aprovada há muito tempo e deve ser adotada imediatamente!”
“Para nós, o enfraquecimento ainda maior da ciência e da educação, que levou ao atraso tecnológico do país, é absolutamente inaceitável”, reiterou Zyuganov.
“Veja os planos que a China aprovou para o futuro. Quais intenções Trump declara junto com Musk? Os americanos decidiram investir 500 bilhões de dólares em inteligência artificial e nas mais recentes tecnologias. Eles ainda estão significativamente à nossa frente nessa área.”
Portanto – convocou -, “devemos fazer tudo o que pudermos para aumentar significativamente os gastos em produção de alta tecnologia e ciência avançada – mesmo no contexto da ação militar. Temos a capacidade para fazer isso.”
“Quando dizem que é possível fornecer educação moderna investindo três e meio por cento do PIB nela, isso é um absurdo”, advertiu Zyuganov. “Mesmo quando os nazistas estavam perto de Moscou, o país soviético investiu 6%.”
E em 1950 – ele lembrou também -, um em cada cinco rublos foi para ciência e educação. “E, como resultado, fomos capazes de superar a lacuna nuclear e criar paridade em mísseis nucleares.”
Ele chamou a “duplicar nossos recursos nessa área”. A lei proposta por Alferov, Melnikov, Kashin, Afonin, Novikov, Smolin, Ostanina, Savitskaya deveria ter sido adotada há muito tempo, acrescentou. “Esta é a lei ‘Educação para Todos’, que conta com o apoio ativo da comunidade científica e dos nossos camaradas.”
Zyuganov convocou, ainda, a regulamentar a questão da migração, sem o que disse é impossível garantir a estabilidade da sociedade russa. “E as 19 leis que adotamos sobre essa área devem ser apoiadas por um trabalho contínuo.”
O líder comunista também se pronunciou sobre a questão da segurança pública, lembrando pronunciamento ao parlamento em que o ministro do Interior Kolokoltsev revelou que há uma escassez de quase 170.000 funcionários.
“Alguns departamentos estão simplesmente carentes e perdendo sua eficácia. Não seremos capazes de lidar com a criminalidade se essa situação continuar.”
Uma das verdades mais importantes que devemos lembrar – acrescentou o líder comunista russo – é que “sem coesão social nenhum grande problema pode ser resolvido”.
Ele registrou que persistem “grandes questões políticas” ainda não resolvidas.
Zyuganov se disse “chocado com o projeto de lei extremamente perigoso” que [o senador Andrey] Klishas nos trouxe. Ele propõe abolir completamente as cédulas eleitorais, manter um controle rígido sobre todas as organizações partidárias e realizar gravações de vídeo em todos os lugares.
“Mas como podemos filmar em um evento fechado se temos competição política? E o programa com o qual uma força política vai às eleições deve permanecer um segredo interno de qualquer partido ou organização até que seja totalmente desenvolvido e tornado público.”
Para Zyuganov, trata-se do mesmo mal-entendido da lei sobre a liquidação dos conselhos locais. “Eu já disse a vocês: é difícil imaginar uma lei mais estúpida do que a lei sobre a liquidação do governo local, que acabou sendo aprovada”.
“Não pode haver tais leis em um país que foi formado por dois mil anos sobre bases coletivistas – seja uma comunidade camponesa, um círculo cossaco, uma assembleia de nobres ou um grupo ativista do partido soviético”, reiterou o líder comunista.
“Sem levar em conta as lições da história e das tradições, não seremos capazes de fortalecer nossa segurança de forma confiável hoje”, assinalou Zyuganov, que enumerou em seguida os maiores desafios que os russos enfrentam.
“Somos o único país do mundo que continua a perder população. A traição aos nossos interesses nacionais em 1991 custou ao povo russo 31 milhões de vidas. No ano passado, o país perdeu outros 600 mil. No Distrito Federal Central, o prejuízo foi de 180 mil. Na região de Vladimir – 13 mil. Em Tverskaya – 11 mil. Em Ivanovo – 9 mil.”
“Esta é a terra originária russa na qual nosso Estado, nossas vitórias e dignidade cresceram. E teremos que tomar decisões fundamentais para superar essa situação ameaçadora”, alertou Zyuganov. As oito leis que [a deputada Nina] Ostanina introduziu ainda não foram adotadas, ele observou. “Mas sem famílias numerosas e a revitalização da aldeia, a crise demográfica não pode ser detida.”
“Na minha região de Oryol, três oligarcas-latifundiários têm 100 mil hectares de terra ou mais. Toda a pecuária foi pisoteada”, relatou o líder comunista, que ressaltou também “não haver mais empregos para mulheres na aldeia”. Eles [os oligarcas] produzirão “apenas o que for benéfico para eles, ignorando os interesses do povo”.
“É necessário se envolver urgente e seriamente com o programa que Kashin propôs, Kharitonov defendeu e Kolomeitsev apresenta regularmente”, acrescentou. “Estamos falando em equipar a agricultura com máquinas, mas temos três mil tratores e colheitadeiras não vendidos em Rostselmash. Nenhum foi vendido em janeiro-fevereiro.”
“Temos uma indústria leve, que dominamos recentemente. Mas nenhum pote foi vendido durante esses mesmos dois meses. Por que? Porque os produtores ficaram sem dinheiro. A taxa de juros aumentou para 21%, a monetização da economia é de apenas 55% e a alta do rublo não permitem o trabalho normal.”
Recentemente convidamos a chefe do Banco Central, Nabiullina, para a Duma. Ela fez muita coisa. Mas regular as relações econômicas não é uma questão apenas do governo, continuou Zyuganov. Esta – acrescentou – é uma pergunta para o presidente, o governo e a Duma Estatal.
“Se essa taxa de juros continuar por mais um ano, veremos um retrocesso na tecnologia de pelo menos cinco anos. E não poderemos mais compensar esse atraso”, alertou o líder comunista.
“Outra ameaça séria é a divisão da sociedade, cuja principal causa é o empobrecimento”, sublinhou Zyuganov. “10 milhões de cidadãos vivem com 14,5 mil rublos. Mais precisamente, definham”.
“Devemos tomar todas as medidas possíveis para superar a pobreza em massa. Deixe-me lembrá-lo: esta é uma das principais tarefas estratégicas delineadas nas mensagens e decretos do chefe de Estado.”
Outra ameaça – registrou Zyuganov – é o desgaste do equipamento. “Temos especialistas brilhantes no setor de energia. Certa vez, Maslyukov e eu fomos à usina hidrelétrica de Sayano-Shushenskaya e literalmente a salvamos. Mas nesta área ainda temos 60-70 por cento de desgaste, e esse número não está diminuindo.”
Sobre a questão da habitação, ele salientou que nossos construtores fizeram muito, “mas o número de moradias deterioradas e em ruínas está crescendo mais rápido do que o número de novas moradias sendo construídas”. Ao mesmo tempo, “comprar um apartamento é um grande problema para a grande maioria dos cidadãos”.
Zyuganov tratou, ainda, de outro sério entrave, a capacitação de pessoal. “Somente profissionais são capazes de resolver tanto as tarefas cotidianas quanto as estratégicas que o país enfrenta. A questão do pessoal é uma questão de sobrevivência”.
“Por que a China fez tanto avanço e alcançou tanto sucesso? Ela tirou o melhor da grande ciência soviética. É por isso que hoje é esse país que é representado pela maioria dos vencedores das maiores Olimpíadas de matemática e programação, que sobem ao pódio em todo o mundo.”
“Veja o programa deles para os próximos 10 anos. Ela prevê um aumento múltiplo em todos os indicadores socioeconômicos mais importantes”, apontou.
Para Zyuganov, o primeiro-Ministro é uma pessoa absolutamente moderna nesse aspecto, porque ele próprio é uma pessoa de sistemas e conhece a produção. E já em seu primeiro ano como chefe de governo, ele encontrou 100 bilhões para o desenvolvimento de eletrônicos domésticos. Embora naquele momento parecesse impossível.
“Mas precisamos aumentar o ritmo de desenvolvimento das indústrias de alta tecnologia e desenvolver nosso próprio pessoal nelas”, insistiu.
“Um milhão e cem mil dos nossos excelentes especialistas trabalham em outros países, em muitos dos quais estão sendo perseguidos por russófobos. Convide-os, crie condições de vida e de trabalho decentes para eles, e eles virão com alegria”, conclamou, possivelmente refletindo um fenômeno, de volta de quadros, que a China tem vivido ultimamente.
“Vamos resolver esse problema! Uma proposta correspondente preparada por nós está na mesa do presidente há muito tempo. E ele concordou com ela.”
“O 80º aniversário da Vitória está à nossa frente”, destacou Zyuganov, chamando todos a pensarem sobre “a importância de uma atmosfera moral e política saudável para o país e a sociedade”.
E entrando nas questões de fundo: “Se começarem a fechar o Mausoléu [de Lênin] com compensado novamente, se não devolverem Stalingrado ao seu verdadeiro nome novamente, será um erro imperdoável e extremamente perigoso!”
“Precisamos do aeroporto de Stalingrado, da cidade de Stalingrado! Eles lutaram, venceram e receberam prêmios por Stalingrado. As pessoas estão esperando a restauração da justiça histórica. E somos obrigados a restaurá-la para poder celebrar este grande aniversário com dignidade”.
Em abril os comunistas russos estão promovendo um fórum antifascista em Moscou, que reunirá representantes de mais de cem países, para o qual também o governo está convidado, destacou Zyuganov, acrescentando que o governo russo está convidado a participar deste fórum. Concluindo, desejou sucesso contínuo a Mishustin e sua equipe.
Em entrevista coletiva no dia seguinte, Zyuganov assinalou que a Rússia, ainda que sob uma guerra que já dura mil e trinta dias, conseguiu atingir índices de desenvolvimento globais, maior que 4%, e mantido há dois anos. Trata-se não só de vencer, mas de “vencer de tal forma que a nossa segurança esteja garantida para as próximas décadas”, ele apontou.
“Esta é uma guerra para destruir o mundo russo”, assinalou Zyuganov. “E a principal conclusão que se pode tirar hoje é que o país e os seus cidadãos se aperceberam da total abominação da guerra que a Otan e os anglo-saxônicos desencadearam contra nós.”
“Um exemplo para nós é a vitória em Maio de 1945, quando o país soviético esmagou os vermes fascistas e ergueu a Bandeira Vermelha da Vitória bem acima do Reichstag”, lembrou o líder comunista russo.
“Percebemos também o engano e o cinismo dos chamados parceiros”, disse Zyuganov, lembrando as promessas de “ajuda” durante a “perestroika” e a “democratização”, quando fizeram de tudo para transformar a Rússia em “um apêndice fornecedor de matérias-primas”. “Tendo esmagado e vendido, sob o comando dos seus agentes da CIA e com a cumplicidade dos Gaidars e dos Chubais, muitas propriedades do grande país. Nesse tempo, quase 80 mil empresas e setores inteiros da economia foram destruídos.”
“Agora o país, e todos nós, compreendemos a total maldade das sanções que as corporações ocidentais nos impuseram. Impuseram 28 mil sanções. Nunca ninguém no mundo fez isso! Mas, repare-sae que o objetivo destas sanções era fazer uma coisa simples: destruir o país por dentro. E isto não é apenas maldade, mas um crime contra toda a humanidade. E aqueles que para isso contribuíram dentro do país não são apenas canalhas e traidores. São cúmplices na organização de um grande cataclisma.”
Referindo-se à “quinta coluna”, Zyuganov observou que era impossível destruir o país soviético sem a traição dos Gorbachevs e dos Yakovlevs, sem a cumplicidade dos Yeltsins e dos Chubais e de toda aquela corja.
No momento em que a Rússia dá uma guinada pela soberania e autossuficiência, Zyuganov se disse orgulhoso do papel desempenhado pelas forças patrióticas do povo e pelo Partido Comunista, e instou a dar mais dois passos em frente.
Ele também chamou a aprender com a modernização empreendida pelo Partido Comunista Chinês. “Eles controlam tudo o que está relacionado com as suas atividades de vida e determinam a ordem e a natureza das ações. Não é coincidência que o Partido Comunista Chinês e a economia nacional chinesa tenham demonstrado taxas de desenvolvimento únicas. Isto representa quase 10% nos últimos 30 anos. Só a economia soviética antes da guerra apresentava taxas mais elevadas – quase 14%”.