O general da reserva Mário Fernandes, que planejou o assassinato de Lula e era funcionário de Jair Bolsonaro, se reuniu com o chamado “hacker de Araraquara”, Walter Delgatti, para inserir um “código malicioso” contra as urnas eletrônicas.
Na terça-feira (19), a Polícia Federal prendeu o general da reserva Mario Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, os majores Rodrigo Bezerra Azevedo e Rafael Martins de Oliveira, os chamados “kids pretos”, aliados de Bolsonaro e executores de um plano para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também foi preso o policial federal Wladimir Matos Soares que participou da conspiração.
Mário Fernandes era muito próximo e fazia parte da trupe de militares aliados de Bolsonaro. Os “kids pretos” são militares altamente treinados das Forças Especiais do Exército. São assim chamados por causa dos gorros pretos que utilizam nos treinamentos e ações de sabotagem.
A PF obteve uma conversa entre Mário Fernandes, que trabalhava na Secretaria-Geral da Presidência, e o coronel Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro que participava da estrutura paralela e ilegal de espionagem de Bolsonaro.
Fernandes relata que, junto com o general Rodrigo Pereira Vergara, ex-chefe da comunicação do Ministério da Defesa, teve uma conversa com Walter Delgatti.
“Força Caveira, meu amigo, olha só, te respondendo, tá? Nós fomos com o Vergara, fizemos aquela entrevista com o garoto, tá?”, disse.
“Eu forcei a barra e aí nós pedimos pro garoto, e ele prometeu fazer até o final dessa semana um protótipo do código que ele teria feito lá atrás, quando ele foi demandado pelos representantes dos partidos políticos, né? Que diz ele que ele colocou na nuvem quando os caras baixaram o código dele, certo? O código malicioso, ele teria deletado”, continuou.
“Ele disse que até o final da semana ia preparar um, pra que o MD [Ministério da Defesa], com o seu pessoal técnico, pudesse preparar um bot, ou seja, uma ferramenta de busca”, acrescentou o general bolsonarista.
Fernandes ainda falou que “o garoto tá à disposição”.
Ele disse ter um aliado “fazendo o monitoramento, o controle dele [de Delgatti], mas ele tá à disposição e prometeu até o final da semana preparar isso aí”.
Este aliado era o coronel das Forças Especiais Reginaldo Vieira de Abreu, o “Velame”. Os militares das Forças Especiais são conhecidos como “kids pretos”, sendo que vários participaram das ações golpistas do governo Jair Bolsonaro.
ATAQUES
Apesar das provas e das demonstrações da segurança das urnas eletrônicas, Bolsonaro insistiu durante seu mandato em desacreditá-las com a versão falsa de que elas podiam ser fraudadas.
Sua narrativa era conveniente com sua intenção permanente de dar um golpe contra o país e justificar sua iminente derrota na eleição, como aconteceu.
Com esse objetivo cometeu várias ilegalidades, como envolver o Ministério da Defesa na sua meta golpista, pressionando os militares representantes na comissão do TSE a fazer pareceres contra as urnas.
Um laudo foi feito após as eleições, mas como nada de irregular foi encontrado nas urnas, apenas insinuou supostas “fragilidades”, sem apontar quais.
Também foi feita uma reunião ilegal com embaixadores, em 18 de julho de 2022, usando o aparato do governo, em que Bolsonaro fez campanha contra as urnas e ataques contra as autoridades eleitorais. Por essa reunião, o TSE condenou, em junho do ano passado, por 5 a 2 o ex-presidente à inelegibilidade até 2030. Sob acusação de uso ilegal do governo, abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros.