Cerca de 200 mil pessoas com mais de 60 anos seriam infactadas só em Belo Horizonte (MG) sem a quarentena horizontal
Um estudo do Grupo de Trabalho (GT) Covid-19 da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado na quinta-feira (9), conclui que a quarentena vertical, limitada só a grupos de risco, é ineficaz para combater o contágio do coronavírus.
O relatório dos especialistas da UFMG toma como base simulações numéricas, que consideram cenários com diferentes políticas e graus de convívio da população para se proteger do novo coronavírus.
“O cenário de isolamento vertical é apenas marginalmente melhor do que o cenário em que não há nenhum isolamento, e muito pior do que o cenário de isolamento horizontal, que abrange toda a população”, afirma o professor Luiz Henrique Duczmal, do Departamento de Estatística.
De acordo com o professor, as simulações mostraram que o retiro vertical, com redução de 15 vezes no contato social, provocaria, rapidamente, a infecção de cerca de 200 mil pessoas com mais de 60 anos em Belo Horizonte, gerando enorme demanda por internação hospitalar imediata, sem que existam leitos suficientes na cidade.
Bolsonaro tem defendido que somente os grupos de risco, como idosos, fiquem em quarentena. O chamado “isolamento social” vertical.
Duczmal avalia que a quarentena horizontal, se aplicado com a mesma intensidade em todos os grupos etários, reduz drasticamente o número de infectados, achatando a curva de crescimento da doença.
“O isolamento horizontal fará com que a epidemia só se manifeste, e de maneira bastante reduzida, após 16 meses de seu início, desafogando a rede hospitalar e possibilitando a emergência, em tempo hábil, de soluções como a vacinação e novos medicamentos”, analisa o professor.
“Na epidemia de COVID-19 no Brasil tem se propagado a ideia de que o isolamento social vertical, ao restringir o contato social com pessoas idosas, seria suficiente para conter o avanço da doença. Essa noção se baseia na premissa de que pessoas com menos de 60 anos sofreriam apenas sintomas leves, e poderiam sair de casa normalmente para trabalhar e estudar durante a epidemia. No entanto, temos observado um elevado número de internações, com casos graves e mortes também de pessoas com menos de 60 anos e sem doenças de base. Ainda mais grave é o fato que o isolamento social não é via de regra 100% rigoroso, e pessoas idosas tendem a fazer contatos sociais durante o período, aumentando a probabilidade de contrair a doença, pois mesmo uma pessoa assintomática é capaz de transmitir o coronavirus”, diz o estudo.
“Se não houver leitos suficientes para atender a todos, muitas pessoas podem morrer simplesmente por falta de atendimento. Além disso, o adiamento do pico de casos seria potencialmente benéfico para que os gestores de saúde pudessem estar melhor preparados e os pesquisadores encontrassem tratamentos mais eficientes. Portanto, se o isolamento social puder reduzir o pico de casos de pessoas infectadas, e ao mesmo tempo adiando sua ocorrência, muitas vidas poderão ser salvas”, observa o estudo.
Duczmal é o primeiro autor do relatório técnico “Isolamento social vertical é ineficaz para conter a pandemia”, disponível no site do Departamento de Estatística da universidade.
A análise foi feita para o município de Belo Horizonte, mas o estatístico assegura que conclusões similares são válidas para outras cidades.
Também assinam o documento os professores Max Sousa de Lima e Ivair Ramos Silva, do mesmo departamento; Denise Bulgarelli Duczmal, do Departamento de Matemática, e Claudia Lindgren, do Departamento de Pediatria da UFMG, além de Alexandre Almeida, da Universidade Federal de São João del-Rei, e Flávia Costa Oliveira Magalhães, da Diretoria de Perícias Médicas da Polícia Civil de Minas Gerais.
Fonte: UFMG