Ele movimentou R$ 8,4 milhões em três anos em sua conta e administrou outros R$ 2,3 milhões como procurador das contas do ex-presidente. PF, agora, quer a quebra dos sigilos de Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro
A quebra de sigilo bancário e fiscal do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, revelou que ele movimentou uma quantia que chegou a R$ 8,4 milhões em três anos. Entre 2020 e 2022, foram depositados em sua conta R$ 4,5 milhões e saíram R$ 3,8 milhões. A PF pediu também a quebra do sigilo fiscal e bancário de Bolsonaro e o da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Os dados, obtidos pela CPMI do 8 de janeiro, mostram que Cid declarou à Receita Federal ter rendimentos tributáveis de, em média, R$ 318 mil reais por ano. O “faz-tudo” de Bolsonaro administrou outros R$ 2,3 milhões como procurador das contas do ex-presidente. O mês com maior volume de depósitos foi em fevereiro de 2020, quando entraram R$ 119 mil.
As contas operadas por Mauro Cid como procurador de Bolsonaro receberam um total de R$ 1,1 milhão em três anos, contou o Estadão. Há ainda registros de débitos no valor de R$ 1,2 milhão. Segundo a PF, Cid vendeu dois relógios de luxo em junho de 2022, nos EUA, por US$ 68 mil. Os objetos haviam sido presenteados ao Brasil. Os valores foram depositados na conta de seu pai no exterior, o general Cid, mostrou a investigação.
A PF suspeita que os recursos têm ligação com as venda das joias que o governo recebeu dos governos árabes. Os bens obtidos com as vendas eram repassados a Bolsonaro em dinheiro vivo. Outros indícios da participação do ex-presidente no esquema se deve ao fato de as joias terem sido levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aviões da FAB.
Os montantes conseguidos com as vendas eram transformados em dinheiro vivo e entraram no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores.
Na sexta-feira (11), operação da PF mirou Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid, além do advogado Frederick Wassef e do assessor Osmar Crivelatti. Uma nova tentativa de vender joias nos EUA ocorreu em fevereiro deste ano. Segundo a PF, um kit de ouro saiu do país ilegalmente em dezembro de 2022, rumo aos EUA, para onde Bolsonaro e comitiva viajaram no fim do mandato. Em fevereiro, as joias foram leiloadas, mas não houve interessados.
Mauro Cid também atuou em uma “operação resgate” sigilosa para recuperar um kit de joias presenteado pela Arábia Saudita. Um relógio que compunha o kit já havia sido vendido. A “operação resgate” foi motivada por uma decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que mandou Bolsonaro devolver as joias presenteadas ao Brasil.
A operação encoberta permitiu que, até o presente momento, as autoridades brasileiras não tivessem conhecimento que os bens foram alienados no exterior, descumprindo os normativos legais, com o objetivo de enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro e, posteriormente, recuperados para serem devolvidos ao Estado brasileiro”.
A defesa do ex-presidente afirmou cinicamente que ele “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos” e colocou a movimentação bancária de Bolsonaro à disposição das autoridades.