Em coletiva de imprensa, na manhã desta terça-feira (17), o presidente do Instituto Chico Mendes (ICMBio), Mauro Pires, afirmou que o Parque Nacional de Brasília já perdeu 2,4 mil hectares de vegetação nos incêndios que ocorrem desde o último domingo (15), quando queimadas iniciadas na Granja do Torto atingiram a área de preservação ambiental.
“Ontem (16), foi o dia mais crítico desde domingo. Estamos fazendo análises de algumas áreas para evitar a reignição (recomeço) do fogo. Além da vegetação, estamos preocupados com as casas dos servidores que vivem próximos ao parque”, afirmou o presidente, que também agradeceu ao trabalho conjunto dos bombeiros e do Exército no combate às chamas.
O incêndio que atingiu o Parque Nacional de Brasília levou à suspensão das aulas nesta terça-feira [17] na capital federal. Segundo a Secretaria de Educação do DF, 25 escolas interromperam as atividades em razão da fumaça e fuligem que se espalham por Brasília, atingindo um nível “perigoso e péssimo” para a saúde da população. As disciplinas perdidas devem ser repostas posteriormente. Outras unidades próximas a áreas de queimadas também podem suspender as atividades em razão do incêndio.
Segundo o Corpo de Bombeiros, 30 viaturas, 400 mil brigadistas e 150 militares foram enviados para tentar conter o incêndio, espalhado em mais de um foco na região, mas já está parcialmente controlado, segundo a corporação. Apesar disso, a vice-governadora do DF, Celina Leão [PP], informou, durante coletiva de imprensa nesta manhã, que os dois focos ainda exigem atenção por parte dos bombeiros. “Nós queremos lembrar: esse é somente um dos 144 focos de incêndio florestal que nós tivemos aqui no DF, de ontem para hoje”, ressalvou Celina.
A região segue monitorada pelas equipes para evitar novos pontos. Até o momento, 3 mil hectares da área de proteção ambiental foram destruídos, segundo o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade]. O comandante operacional do CBMDF, coronel Pedro Aníbal, afirmou que os focos atingem matas de galerias.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, classificou como inadequadas as penas previstas nas leis brasileiras para crimes ambientais como o uso do fogo para causar incêndios criminosos. “Porque a pena de dois a quatro anos de prisão é leve e quando a pena é leve, às vezes ela é transformada em algum tipo de pena alternativa e ainda há atitude de alguns juízes que relaxam completamente essa pena”, apontou em entrevista nesta terça-feira ao “Bom Dia Ministra”, do Canal Gov.
Marina enfatizou ainda que, neste momento, qualquer incêndio florestal é classificado como criminoso e representa perigos ao meio ambiente, à saúde coletiva, ao patrimônio e à economia do Brasil. “Há uma proibição de uso do fogo em todo o território nacional, os últimos que fizeram o decreto de proibição do fogo foram os estados de Rondônia e Pará há mais ou menos uma semana e meia”, disse a ministra.
No domingo, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), endossou o pedido do governo brasileiro por penas maiores para crimes ambientais e determinou reforço de investigações da Polícia Federal (PF) sobre os incêndios que atingem o Brasil.
Nesta segunda-feira (16), a PF abriu inquérito para apurar o que teria causado o incêndio no parque Nacional. Dino determinou que as despesas com o combate às queimadas fiquem fora do teto de gastos. Ele flexibilizou as regras para brigadistas, acabando com o intervalo mínimo de tempo entre a contratação destes profissionais.
MOBILIZAÇÃO
O governo brasileiro também mobilizou suas missões diplomáticas para solicitar apoio internacional no enfrentamento de incêndios florestais no país, que têm causado grandes danos em vários estados nas últimas semanas. Os pedidos foram feitos ao Paraguai, Colômbia, México, Peru, Uruguai, Chile, Canadá e Estados Unidos.
O Uruguai já respondeu a solicitação de apoio e confirmou que pode enviar ajuda, com o envio de uma “aeronave de asa fixa, modelo CASA C-212 Aviocar, da Força Aérea Uruguaia, e a doação de 40 mil litros de líquido extintor de incêndio”.
Em 4 de setembro, a ministra Marina Silva consultou a Agência Brasileira de Cooperação, ligada ao Ministério de Relações Exteriores, para “verificar a possibilidade de apoio de aeronaves [de asa fixa ou rotativa] para o lançamento de água e transporte de brigadistas e equipamentos nas operações de combate a incêndios na Amazônia, com início previsto para setembro de 2024”, segundo documento enviado por Marina ao MRE.
Durante a entrevista ao Canal Gov, a ministra destacou que, das 27 unidades da federação, apenas Rio Grande do Sul e Santa Catarina não enfrentam uma seca extrema nos dias atuais. “É como se tivéssemos uma situação de risco em todo o território nacional”, alertou.
Marina reiterou que “a disposição do governo federal é de não ficar fazendo jogo de empurra. Nós queremos trabalhar em conjunto”, assegurou. “Estamos trabalhando dentro das áreas estaduais, dentro das terras indígenas, dentro de propriedades privadas e em cooperação com o Corpo de Bombeiros”, salientou.
Ela citou que foram disponibilizados recursos do Fundo Amazônia, totalizando mais de R$ 47 milhões para que os estados pudessem reforçar equipes do Corpo de Bombeiros, como parte do plano de ações elaborado em 2023 para enfrentamento do período de seca, agravado pela crise climática. “O governo trabalha na liberação de mais um crédito extraordinário para a Amazônia e em outras unidades da federação”, revelou Marina
Além disso, foram liberados R$ 175 milhões em crédito extraordinário para o enfrentamento aos incêndios no Pantanal”, informou a ministra.