Jair Bolsonaro tentou, mais uma vez, neste sábado (31), livrar o filho, Flávio, que vinha sendo investigado pelo Ministério Público do Rio e a PF, até que uma decisão de Dias Toffoli, no recesso do STF, paralisou as investigações – e todas as investigações do Brasil com base em dados do Coaf, Receita Federal e Banco Central (v. HP 17/07/2019, Toffoli decide acobertar crimes de Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz).
Porém, Bolsonaro acabou complicando ainda mais a situação, ao afirmar que Fabrício Queiroz usou sua conta pessoal para passar R$ 1 milhão para a conta de Flávio – e que esse dinheiro serviu para Flávio pagar a dívida de um imóvel junto à Caixa Econômica Federal.
“Vou repetir para vocês: R$ 1 milhão, o Queiroz tinha dado para ele. Quem pagou essa conta para a construtora foi a Caixa Econômica Federal. Documentado. Passa por ele [Queiroz] porque a Caixa comprou a dívida dele. E ele, em vez de dever para a construtora, passa a dever para a Caixa. Isso é uma operação normal“, disse Bolsonaro.
Trata-se do pagamento de um título de R$ 1.016.839 (um milhão, 16 mil e 839 reais), a partir da conta de Flávio Bolsonaro (v. HP 21/01/2019, Escritura desmente versão de Flávio Bolsonaro sobre dinheiro em sua conta).
Bolsonaro apresentou essa nova versão, da suposta dívida imobiliária, esquecendo que Flávio não havia mencionado publicamente, nem uma vez sequer, que o dinheiro tinha vindo de Queiroz. Agora, depois dessa “nova explicação” para a movimentação milionária de Queiroz, antigo capanga de Bolsonaro, seu filho tem mais algumas coisas a explicar.
Após faltar a quatro depoimentos marcados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, alegando problemas de saúde, Queiroz afirmou, em dezembro, que a “movimentação atípica”, revelada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) teve origem na compra e venda de veículos usados (v. HP 27/12/2018, “Eu faço dinheiro”, disse Queiroz sobre os R$ 1,2 milhão flagrados em sua conta).
Em janeiro, Flávio Bolsonaro também não prestou depoimento, argumentando que iria marcar uma nova data após ter acesso ao caso.
No sábado, Bolsonaro foi obrigado a falar sobre Queiroz por causa da sua localização pela revista Veja, depois de seu desaparecimento desde o início do ano. A entrevista de Bolsonaro foi em Riacho Fundo, na região administrativa do Distrito Federal. Disse ele que não tem nenhum contato com o ex-motorista do filho.
“Pelo que eu sei, ele já prestou depoimento por escrito. E, pelo que eu fiquei sabendo também, exime o meu filho de culpa. Ele responde pelos atos dele“, disse Bolsonaro. “Quem responde por ele é ele, não sou eu. No restante, se funcionária botava dinheiro na conta de outro, é problema dele, pô. Ele que responda. Eu nunca tive problema com o Queiroz“.
No fim de 2018, o Coaf apontou “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão, em 2016 e 2017, nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. Um estudo mais amplo mostrou que Queiroz movimentou R$ 7 milhões entre 2014 e 2017. Oito assessores do então deputado estadual transferiram recursos a Queiroz em datas próximas ao pagamento de servidores da Alerj.
Além disso, foram identificados 48 depósitos, todos de R$ 2 mil, na conta de Flávio Bolsonaro. Sobre esse recebimentos, Jair Bolsonaro justificou dizendo que era o limite dos envelopes de depósitos – o que é, evidentemente, verdade, mas o problema é, exatamente, porque eles foram realizados deste modo, típico de quem quer evadir-se da fiscalização, através do fracionamento do dinheiro em vários depósitos.
Em março, Queiroz admitiu, em depoimento, que os valores recebidos por servidores do gabinete eram usados para “multiplicar a base eleitoral” de Flávio. Funcionários afirmaram que repassavam parte do salário para Queiroz. Essa atividade é ilegal e proibida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O MP também não encontrou evidências de que o fluxo bancário de Queiroz tivesse origem no comércio de carros, como ele disse. As suspeitas são de que o gabinete foi usado por organização criminosa para lavagem de dinheiro.
Após os “esclarecimentos” de Queiroz, o MP-RJ entrou com um pedido de quebra de sigilo fiscal e bancário de Flávio, Queiroz e outros envolvidos na investigação, pelos indícios da existência de uma organização criminosa no gabinete de Bolsonaro – inclusive com ligação com as milícias e sua hoste de assassinos, o Escritório do Crime (v. HP 24/04/2019, Bolsonaro e as milícias e HP 16/05/2019, Gabinete de Flávio Bolsonaro abrigava “organização criminosa”, diz MP).
A Justiça do Rio autorizou em abril o procedimento requisitado pela investigação (v. HP 14/05/2019, Justiça quebra sigilo de Queiroz e Flávio Bolsonaro).
Entretanto, toda a investigação foi paralisada em julho, pela decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli (v. HP 17/07/2019, Para livrar Flávio Bolsonaro de investigações, Toffoli suspendeu a lei e até a si mesmo).
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