O prócer neoliberal diz, sem a menor cerimônia, que o arrocho do Palocci foi o que garantiu o “sucesso” do governo Lula. Afirmou, ainda, que os juros baixos e as obras do segundo governo é que afundaram o país
Operador financeiro e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga disse, em entrevista à Folha de S. Paulo deste sábado (7), que “o PT não precisa ajoelhar no milho, mas tem que mostrar que aprendeu com seus erros”. “Acho fundamental entender como um todo o período em que o PT governou. Não dá para ser seletivo e escolher apenas a parte que deu certo”, diz Fraga.
Nesse ponto, o porta-voz dos bancos dá uma de malandro. Ele diz que o que deu certo foi o arrocho fiscal e os juros altos do Palocci e do Meirelles na primeira fase do governo e o que deu errado foram os investimentos e o crescimento do país, iniciados no segundo mandato de Lula.
Parece um absurdo, mas foi exatamente isso o que Armínio Fraga disse na entrevista à Folha. Misturou alhos com bugalhos para defender a continuação do arrocho fiscal e da ciranda financeira que estão infernizando o Brasil e impedindo o país avançar.
O crescimento medíocre de 1,14% do PIB em 2003, os juros estratosféricos mantidos por Palocci e Meirelles, apesar do todo o esforço em contrário por parte de Lula e José Alencar, não são uma boa lembrança, como Fraga tenta fazer crer.
Tanto isso é verdade que em 2005 e 2006 o governo estava envolto numa grave crise política. No início de 2006, Lula tirou Palocci e disse ao ministro Guido Mantega, que substituiu Palocci no cargo, que queria o país crescendo no mínimo a 5% ao ano.
É nesse ponto que Armínio Fraga mostra a sua desonestidade intelectual. Cinicamente, afirma que tudo começou a piorar a partir desse momento e que a economia afundou quando Palocci saiu e Lula exigiu a mudança da política econômica restritiva.
Lula realmente cobrou a queda dos juros, o aumento dos investimentos públicos e dos salários. Ou seja, inverteu tudo o que Palocci e Meirelles faziam. O resultado foi que a economia se libertou e o país arrancou.
Os juros caíram, os salários se recuperaram, surgiu o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e, com esse programa, as grandes obras, o pré-sal, as refinarias, as casas, as estradas, etc. O país conseguiu a façanha de crescer 7% mesmo durante a maior crise financeira mundial desde 1929.
Esse foi o grande sucesso de Lula. Tanto que, quando deixou o governo, em 2010, tinha aprovação de mais de 80% da população. Não era do período de arrocho do Palocci, saudado por Fraga, que o Brasil tinha saudade. Era do PAC, do pré-sal, da Transposição do São Francisco, dos reajustes dos salários acima da inflação, da inflação baixa, etc.
Fraga também mistura oportunisticamente o segundo mandato de Lula com o período da administração de Dilma Rousseff, que o sucedeu, como se a política econômica desses dois períodos tivesse sido a mesma. Trata-se de outra desonestidade de Fraga ao dizer que a política econômica de Lula foi idêntica à de Dilma. Nada mais irreal.
As mudanças vieram com a ofensiva do imperialismo para tentar se recuperar após a crise, primeiro na Europa, em 2010/11 e, depois, na América Latina em 2012/13. A pressão sobre a periferia aumentou e Dilma Rousseff cedeu e mudou a política econômica.
Ela não chamou Palocci, mas trouxe Joaquim Levy, que era a mesma coisa, ou talvez um pouco pior. Não esqueçamos que Mantega já tinha sinalizado antes mesmo, já em 2011, que iria “reduzir” os investimentos públicos para “abrir espaços para a iniciativa privada”.
Levy chegou e fez tudo ao contrário do que Lula tinha feito em seu governo. O resultado foi que Dilma se desgastou por conta disso. Até porque, ela tinha prometido, na campanha de 2014, manter o mesmo nível dos investimentos anteriores.
A chegada de Levy na Fazenda – que Fraga fingiu ignorar – foi a ducha de água fria na economia brasileira, o que, nas suas palavras, “desembocou no colapso da economia” em 2015. Segundo ele, a causa dos problemas foram os “excessos de investimentos públicos” do segundo mandato de Lula que teriam “prosseguido” no governo Dilma.
No entanto, ocorreu exatamente o contrário. A volta da política neoliberal, com os cortes de investimentos e o arrocho fiscal imposto ao país por Joaquim Levy, foi determinante para empurrar o país para a recessão. Fraga mente sobre isso para pressionar Lula, pois quer que o governo adote a mesma política desastrosa que serviu de caldo de cultura para o surgimento do fascismo.
O ex-presidente do BC é um dos últimos a perceber que o neoliberalismo morreu como solução para nossa economia, insistindo em manter o Brasil na camisa de força da ditadura fiscalista.
“Pessoalmente, eu espero que ele [Haddad] apresente metas para os dois anos seguintes, que levem o saldo primário ao terreno confortavelmente positivo, que, na minha avaliação, teria de ser no mínimo 2% do PIB. Esse aspecto da Lei de Responsabilidade Fiscal tem que ser preservado”, diz ele. Ou seja, mais arrocho, mais cortes e nenhum investimento.
Fraga defende que (o governo) “não pode mexer naquilo que promete grandes avanços”. No caso, esses “avanços” são as privatizações, a Lei das Estatais ou o uso, como ele diz, “Deus sabe como”, dos bancos públicos. Os investimentos da Petrobrás, segundo Fraga, são “manipulações que quebraram a empresa no passado”. Ou seja, quer manter tudo como está, com o país estagnado, as empresas públicas sendo vendidas, o país tendo que importar derivados de petróleo, pagando em dólares, etc.
Enfim, na visão de Fraga, só o que pode crescer no Brasil são os lucros dos rentistas.
SÉRGIO CRUZ
Esse projeto agarrado pelo Arminio Fraga, é coisa de boneco ventríloquo dos rentistas. Só na saúde, caso o país seguisse suas loucuras, seguiríamos reféns da importação dos Ingredientes Farmacêuticos Ativos dos medicamentos e das vacinas, e também da importação de equipamentos, tudo isto somado, gerando um déficit comercial anual absurdo superior a R$ 100,00 bilhões por ano. Tem é mais que investir pesado na C&T e Inovação, na indústria nacional de IFAs e equipamentos, tanto públicas como privadas, e tirar o país e nosso povo desta dependência de monopólios privados, concentrados nos Estados Unidos e Europa. E podemos realizar isto com um trabalho que integre os Centros de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, com os Laboratórios Farmacêuticos Públicos e empresas privadas nacionais. Assim, também poderemos promover a inovação em novas moléculas ativas, a partir da bioprospecção da nossa flora e fauna, de uma forma que conserve a maior megabiodiversidade do planeta terra, usando os conhecimentos e domínio da bioinformática e equipamentos de identificação e separação de moléculas dos extratos vegetais e dos venenos dos animais peçonhentos, condições que encontramos nos países da comunidade do BRICS. Recursos financeiros existem, ou nos excedentes da Agroindústria, na exploração do PréSal, nos Fundos Especiais do MCTI paralisados, nos Fundos Soberanos, ou até mesmo nas impressoras do Banco Central – que, segundo o economista André Lara Rezende, podem ser emprestados pelo BACEN para o Tesouro, com destinação a retomada da industrialização, diretamente, ou através da CT & Inovação.