Renato Feder, atual secretário de Educação do Paraná, foi indicado para assumir a pasta em SP
O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), confirmou o atual secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, para assumir a pasta em São Paulo. O nome deverá ser oficializado na próxima semana, e ele assumirá a pasta em janeiro.
A saída de Feder do comando da educação no Paraná representa um alívio para estudantes e professores daquele estado e causa apreensão em São Paulo. Nos quatro anos do primeiro mandato de Ratinho Jr., Feder tentou fazer da educação pública um laboratório substituindo educadores por policiais militares sem qualquer experiência e instalando gestão privatizada nas escolas.
O resultado agradou o bolsonarismo, que tenta agora transformar o governo de São Paulo em uma trincheira do negacionismo. Renato Feder é um forasteiro na educação. Pouco – ou nada entende – sobre o seu papel e a qual o seu papel.
Formado em Administração e Economia, Feder é empresário. É sócio da empresa Multilaser e, antes de sua convocação para o governo do Paraná já havia pregado o fim do Ministério da Educação e a privatização de todas as escolas e universidades do país.
Ratinho Jr. apostou no projeto liberalizante e aprofundou a ruptura entre governo e educadores.
O resultado da sua gestão foi a perda de poder dos educadores e enfraquecimento da autonomia docente. Um dos projetos mais impactantes do governo, por exemplo, foi a adesão aos colégios cívico-militares de Jair Bolsonaro (PL) – às pressas, imposto goela abaixo.
As consultas para deliberar sobre o modelo foram feitas “na marra”, com as pessoas sendo buscadas em casa para garantir quórum. Feder e Ratinho aprovaram a troca de diretores das escolas, que no Paraná eram escolhidos por eleição direta, por policiais militares sem formação.
Pais e educadores relatam que durante os dias da votação, houve pressão e ‘boca de urna’ nos colégios. O voto foi aberto, ou seja, a escolha foi feita com a identificação dos responsáveis – o que não é ilegal, mas deixou muitos constrangidos e receosos.
“Fomos pegos de surpresa. Eu fiquei sabendo pela mídia da proposta e que a escola da minha filha estava incluída na lista. No dia seguinte, já tinha que votar”, conta Jucélia Morais, mãe de aluna do colégio João Wislinski.
A mãe ressalta que não houve reunião para discutir a proposta. “Quem tinha tempo, pesquisou um pouco e tentou formar uma opinião. Mas e quem estava trabalhando e não teve essa oportunidade?”, questiona.
Até os próprios funcionários das escolas estaduais foram pegos de surpresa. Hermes Silva Leão, presidente da APP- Sindicato, que reúne os trabalhadores de Educação Pública do Paraná, afirma que muitos diretores só ficaram sabendo pela mídia que suas escolas poderiam constar no programa de militarização.
“O governo agiu de forma muito antidemocrática. Não houve o mínimo de diálogo. Muitas pessoas votaram sem saber o que exatamente significava a consulta, sem conhecer como é esse modelo proposto”, diz Hermes.
O processo de consulta à comunidade escolar sobre a militarização de 216 colégios paranaenses é questionado por professores, sindicatos e Ministério Público na Justiça. O Sindicato diz que vai recorrer e reitera que não houve discussão com a comunidade e que os critérios para a escolha das escolas não estão claros.
“Ao longo do governo surgiram denúncias de maus-tratos, abusos contra os alunos e até assédio sexual cometidos pelos militares, que jamais receberam treinamento para a função”, denuncia o Plural Jornal Curitiba, publicação eletrônica independente.
“Estavam lá pela simples ideia de que filhos de pobres, que Feder chegou a chamar de “malandros e malfeitores” precisam de hierarquia – o colégio em que os filhos de Ratinho e Feder estudam, um dos mais caros de Curitiba jamais trocaria professores por PMs”, continua a publicação.
Sem qualquer compromisso com uma educação pluralista, democrática e de caráter social, o secretário de Ratinho colocou, além dos sargentos, terceirizados no lugar de inspetoras, merendeiras e todas as funções que pôde.
AULAS EM TV
Avaliando que foi pouco o estrago imposto à educação pública do Paraná, Feder fez uma parceria milionária com uma universidade privada que passou a dar remotamente aulas do novo currículo do Ensino Médio.
A medida, que já vinha sendo aplicada desde o ano passado, enfrentou resistência dos estudantes e fracassou. O contrato foi rompido dias antes de Tarcísio de Freitas chamar seu novo secretário. Feder também planeja terceirizar a merenda nas escolas.
Outra “benesse” idealizada por Feder para a educação, era a implantação do sistema de vouchers. Às famílias seria entregue uma espécie de cupom com o qual matriculariam os filhos em uma escola particular. O valor do cupom, então, seria pago diretamente à escola pelo governo. À frente da educação no paranaense, desistiu da ideia.
No livro “Carregando o Elefante” – como transformar o Brasil no país mais rico do mundo, do qual é coautor, junto com Alexandre Ostrowiecki, é defendida a tese que o governo deveria reunir oito ministérios e as funções das pastas de educação e saúde deveriam ser transferidas para agências reguladoras.
Por ser um bajulador do mercado e se dispor a alimentar a sanha do empresariado ganancioso, sendo Feder um desses, seu perfil acabou caindo nas graças do Planalto. Em 2020, chegou a ser anunciado como ministro da Educação para substituir Arthur Weintraub, o que por pouco não se confirmou.
A ala evangélica do bolsonarismo – e os adoradores de Olavo de Carvalho à época – não aprovaram a escolha, apontando sua ligação com o então governador João Doria. Em 2016, ele doou R$ 120 mil para a campanha de Doria à Prefeitura de São Paulo.
Somado a isso, nomes da ala militar advertiram o presidente de que a nomeação de Feder poderia ser mais um tropeço do governo, pelas denúncias de sonegação fiscal, conforme publicou o jornal ‘O Globo’, e por ter imagem colada ao grupo de partidos do Centrão, o que hoje não teria qualquer problema, ressalte-se.
Feder não tem condições de gerir 5 mil escolas em SP
Nesta terça-feira (22), o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL), fez um pronunciamento na Assembleia Legislativa de São Paulo contra a indicação de Renato Feder. Ele lembrou o histórico do indicado, que sempre ligado a interesses empresariais e privatistas.
“Ele escreveu um livro no passado, afirmando que era contra o MEC, pelo fim do Ministério da Educação. Ele defendia a privatização da escola. É um livro que mostra bem o que ele pensa sobre a educação”, criticou o deputado.
“A alegação é que o estado não tem condições de gerir 2.100 escolas, que é o total de escolas da Rede Pública do Paraná. Fico pensando como ele vai gerir 5 mil escolas, no Estado de São Paulo, que tem a maior rede de ensino da América Latina, se esse é o argumento que ele usa para privatizar (escolas), questiona Gianazzi.
O deputado também denunciou o modelo de extinção de cargos na educação, que transfere para o setor privado funções que são exercidas por servidores concursados. “Ele fará o mesmo em São Paulo, porque eu não tenho dúvida, esse e o caráter privatista desse secretário”, alerta.
“É por isso que nós estamos aqui exigindo que o governador eleito não nomeie um secretário como esse para o Estado de São Paulo. Privatista, defende a militarização das escolas”, ressalta o parlamentar.
“E ele já está fazendo isso no Paraná, tanto é que teve até greve de fome dos profissionais da Educação em 2021, contra essas medidas”, prossegue. Nós estamos com um abaixo- assinado, com várias medidas contra a nomeação desse Renato Feder”, finalizou Carlos Gianazzzi.